A Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) prevê que a demanda por petróleo atingirá o pico em 2029, para depois começar a cair. Por outro lado, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) já considerou a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis uma “fantasia”. O secretário-geral da Opep, Haitham Al-Ghais, chegou a dizer que a “teoria” do pico petrolífero “foi provada errada várias vezes”.
No caso do carvão, a IEA calcula que a procura siga estável em 2025 e 2026, em torno das 8,77 bilhões de toneladas de 2024. A agência afirma que a estabilidade persistirá, apesar de flutuações de curto prazo em alguns dos principais mercados, como China e Índia.
“A redução da demanda por combustíveis fósseis não acontece de forma imediata, mas sim como parte de um processo gradual de transição energética”, explica Carlos Salgado, especialista em financiamento de energia para América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Não significa que os alertas climáticos estejam sendo ignorados, mas que a transição é gradual e complexa”
Para ele, “estamos avançando na direção certa nas discussões sobre a transição energética”, porém, o grande desafio é transformar essa ambição em “resultados concretos. “A maneira mais rápida e eficaz de acelerar esse processo é criar condições habilitantes para investimentos em energia limpa”, diz.
Salgado cita que as tecnologias de energia limpa já atraem o dobro do capital direcionado a combustíveis fósseis. “Há dez anos, o investimento em combustíveis fósseis era 30% maior do que em eletricidade, redes e armazenamento. Hoje, o quadro se inverteu. Os investimentos em eletricidade devem ser 50% superiores ao total destinado ao petróleo, gás e carvão”, explica.
“O desafio central está na distribuição desigual desses investimentos: em 2024, dos US$ 2,1 trilhões aplicados em energia limpa, menos de 15% foram para economias em desenvolvimento fora da China, e apenas 2% chegaram à África, apesar de o continente concentrar 20% da população mundial e ter forte crescimento de demanda energética”, acrescenta.
Um relatório da IEA, de junho, diz que “as novas perspectivas a médio prazo preveem que a oferta mundial de petróleo cresça muito mais rápido do que a procura nos próximos anos”. Quanto ao comércio de carvão, a agência prevê uma queda ligeira até 2026.
“A tendência estrutural é de crescimento acelerado da energia limpa e redução gradual do espaço dos fósseis”, afirma Salgado, lembrando que a China desponta na liderança ao dominar os investimentos em renováveis. “Investe quase o mesmo que União Europeia e os EUA juntos”, diz.
O especialista acredita que, embora a produção de petróleo e carvão ainda não tenha entrado em queda estrutural no mundo, “isso não significa que os alertas climáticos estejam sendo ignorados, mas sim que a transição energética é um processo gradual e complexo, com ritmos diferentes entre países e setores”.
Lucas Rohan – Valor