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Negócio

Como fica a Petrobras (e a gasolina) com a crise do petróleo?


Exame - 09 mar 2020 - 09:16

A perspectiva de desaceleração mundial por conta da epidemia de coronavírus (covid-19) já vinha castigando a petroleira Petrobras neste ano. Com uma queda de 24% na cotação internacional do petróleo, a estatal perdeu cerca de 80 bilhões de reais em valor de mercado na bolsa brasileira B3 em 2020 – até a sexta-feira.

A guerra de preços do combustível iniciada pela Arábia Saudita no final de semana deve impor uma nova depreciação à empresa mais importante do mercado brasileiro, que tem peso de 9,8% no índice acionário Ibovespa.

No início da manhã de hoje, o contrato futuro de petróleo tipo Brent, que serve de referência para os preços praticados pela Petrobras, recuava 19,9%, para 36 dólares o barril, na bolsa de Londres.

Com o dólar perto de R$ 4,75, essa cotação significa uma geração anual de caixa de cerca de US$ 15,2 bilhões para a Petrobras, segundo cálculos do analista Thiago Duarte, do banco de investimentos BTG Pactual. Quando o petróleo estava um pouco acima de US$ 60 o barril, no final de janeiro, a geração de caixa estimada era de US$ 35,3 bilhões.

Ou seja, em sete semanas, a perspectiva de geração de caixa anual da Petrobras caiu 20 bilhões de dólares. Como o preço de mercado da ação é calculado, pelos investidores, a partir das estimativas de ganhos futuros da companhia, a ação tende a continuar caindo conforme o petróleo recuar. A petroleira Saudi Aramco desabou 9% na bolsa saudita hoje, passando a valer menos que em sua abertura de capital, no ano passado.

A ação preferencial da Petrobras terminou o último pregão cotada a R$ 24,10. “Segundo nossa equipe de análise técnica, o papel tem pontos de resistência relevantes nos níveis de R$ 20 e R$ 17. Ou seja, a queda pode ficar entre 12,4% e 25,5%”, André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton, escreveu em relatório a clientes.

Os recibos de ações da Petrobras (em inglês, American Depositary Receipts, ou ADRs) recuavam 14,05% no pré-mercado de Nova York. A cota do fundo EWZ, que replica a carteira do Ibovespa, caía 9%, após as aspas do Perfeito.

Agora, os investidores aguardam as comunicações da administração da Petrobras sobre o repasse da redução do preço do petróleo à gasolina e ao óleo diesel. A fórmula de cálculo é secreta, então fica difícil para quem está fora da empresa estimar o tamanho do corte e a data.

Certeza, mesmo, é que a decisão da Arábia Saudita de medir forças com a Rússia no mercado global de petróleo vai trazer grandes consequências para o Brasil se durar muito. A Petrobras vai ter menos recursos para investir na exploração da camada pré-sal, o seu maior ativo. Atualmente, o preço de custo da extração de petróleo pela estatal é de US$ 16 o barril. Futuros projetos podem custar entre US$ 35 e US$ 45 o barril.

Além disso, se o preço da gasolina e do diesel for reduzido, o etanol é inviabilizado. Possíveis efeitos positivos seriam diminuir a inflação e colocar mais gás na atividade econômica brasileira. Mas existem tantas variáveis nessa equação que os especialistas em investimentos recomendam não mexer em aplicações financeiras no meio do tumulto. “Uma forte queda das ações da Petrobras hoje já está dada. Resta ver como essa crise se desenvolve nos próximos dias”, diz Pedro Galdi, analista-chefe da corretora Mirae.