Pesquisadores resgatam tecnologia de produção de diesel renovável
Um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia resgataram um processo de fermentação centenário que era usado para fabricar explosivos durante a 1ª Guerra e estão adaptando-o ao século 21 para produzir diesel renovável. A (re)descoberta está sendo publicada na edição dessa semana da revista científica Nature.
Originalmente desenvolvido há quase 100 anos por químico Chaim Weizmann, o processo foi revisitado por químicos e engenheiros da universidade norte-americana. Eles constataram que – comparando volumes iguais – a densidade energética dos produtos gerados a partir da conversão de açúcares ou amidos através do processo centenário é superior que a apresentada pelo etanol moderno. O processo também rende outros produtos úteis, como explica o professor de química, Dean Toste, um dos autores da pesquisa. “Essa é um maneira fundamentalmente diferente de abordar as matérias-primas – açúcar ou amido – que permite produzir todo tipo de produtos renováveis, de biocombustíveis a commodities químicas como plásticos”, anima-se.
O processo desenvolvido por Weizmann se baseia na capacidade da bactéria Clostridium acetobutylicum em fermentar açúcares convertendo-os em acetonas, butano e etanol na proporção 3 para 6 para 1, respectivamente). Embora a bactéria faça seu trabalho de forma bastante eficiente, o grande problema para conseguir aproveitá-la em processos industriais estava na separação das três substâncias produzidas. Usar destilação tornaria todo o processo energeticamente ineficaz.
Procurando uma forma de resolver o problema, os pesquisadores acabaram chegando a alguns solventes orgânicos poderiam separar a acetona e o butanol da mistura sem afetar negativamente o etanol. “Esse processo usa menos de 10% da energia que seria necessária para separar o butanol e a acetona através da destilação convencional”, conta outro dos coautores do trabalho, Harvey Blanch.
Retirado o etanol, ainda ficam nove partes de acetona e butanol que contém traços de álcool. Essa mistura tem tinha a composição perfeita para um catalisador que Toste já vinha testando. Primeiro combina-se o butanol com o etanol residual para formar aldeídos que, então, reagem com a acetona para produzir hidrocarbonetos com cadeias mais longas. Segundo Toste, também é possível ajustar as condições de reação para produzir hidrocarbonetos similares aos da gasolina e aos do querosene de aviação. Isso abre outras portas para a tecnologia.
1ª Guerra
Originalmente, a reação descoberta por Weizmann foi usada pelo exército britânico para produzir explosivos de uso militar durante a 1ª Guerra Mundial.
Mais tarde, com o aumento da disponibilidade do petróleo e o crescimento da petroquímica, a tecnologia acabou se tornando pouco competitiva. Nos Estados Unidos, a última planta a usá-la comercialmente encerrou suas atividades em 1965.
Os pesquisadores estimam que ainda vá levar cerca de cinco anos antes da tecnologia possa atingir maturidade comercial.
Para ler o resumo do artigo publicado na Nature clique aqui.
Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com
Com informações: Assessoria da Universidade da Califórnia, Nature, Biofuels Digest e Domestic Fuel