PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
2008

A resposta está nas algas: será que elas podem gerar a energia do futuro?


BiodieselBR.com - 17 abr 2008 - 11:23 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

Há 30 anos, na última vez que o mundo enfrentou uma crise do petróleo, o Departamento de Energia dos EUA (DoE) lançou um programa para analisar o potencial de algas (dessas que se formam na superfície de tanques e reservatórios de água) como fonte renovável de energia. Em pouco tempo se concluiu que as algas eram uma verdadeira dádiva da natureza – ainda que usufruir dessa dádiva fosse uma questão bem mais complicada.
 
Dirigido pelo Laboratório Nacional de Energia Renovável (NREL) do departamento, o programa durou cerca de duas décadas, mas foi encerrado no final de 1996. Comparando-se os custos tecnológicos de então aos custos dos demais combustíveis, um programa de geração de biodiesel proveniente de algas era considerado inviável.

Na época, o barril de petróleo custava menos de US$ 20. Agora, com os custos tecnológicos mais baixos que há uma década e o preço do barril de petróleo não dando sinais de que possa cair abaixo de US$ 100, parece que o momento das algas finalmente chegou.

A mais verde entre os verdes?

As algas têm sido consideradas a mais verde entre os combustíveis verdes, e não é difícil entender o porquê:
  • Elas são ricas em óleo (alguns filamentos possuem mais de 50% em sua constituição);
  • Podem crescer nas regiões mais hostis, como em desertos, não tomando espaço de terras destinadas ao plantio de alimentos;
  • Não necessitam de água doce, podendo desenvolver-se à custa de água salgada ou de resíduos sanitários (o que faz de estações de tratamento de água um de seus habitats naturais);
  • Reproduzem-se a uma velocidade surpreendente, podendo dobrar em volume em questão de horas, sendo uma das plantas de crescimento mais rápido entre todas as espécies.
Além de tudo isso, as algas são particularmente úteis como matéria-prima porque consomem dióxido de carbono (CO2), sendo portanto excelentes seqüestradoras de carbono, o que significa que outro lugar adequado para cultivá-las são as usinas de energia elétrica. As algas podem absorver até 75% dos gases de exaustão através do uso de um biorreator, afirma um representante da GreenFuel Technologies, referindo-se ao modelo de biorreator fabricado pela empresa americana.

Algas não se desenvolvem apenas sob a luz do sol, ao contrário do que se acreditava. A Solazyme, empresa recém-inaugurada em São Francisco, na Califórnia, diz que consegue gerar biocombustíveis a partir de algas cultivadas no escuro. A luz do sol é substituída por açúcar, basicamente. Com o açúcar, as algas produzem diferentes tipos de óleo, que podem ser transformados em vários tipos de combustível para carros e aviões. Elas produzem mais óleo dessa forma do que com a luz do sol, declaram pesquisadores da companhia.

Comparada a outras matérias-primas, as algas são bastante produtivas. Muitos concordam que elas podem superar todos os tipos de biodiesel vegetal existentes hoje – produzem quatro vezes mais óleo do que a palma, por exemplo, que gera em média 6.000 litros/hectare/ano.

Produção: uma questão polêmica

Há algum nível de discordância sobre o quão produtivas as algas são ou podem vir a ser. As estimativas de produção atuais são de 25.000 litros/hectare/ano, enquanto previsões conservadoras para o futuro falam em algo como 50.000 litros/hectare/ano. Os prognósticos mais ambiciosos chegam a citar 250.000 litros/hectare/ano.

Mas o PhD em micro-algas John Benemann, que participou da força-tarefa de algas da NREL, diz que isso não passa de alarde publicitário, argumentando em recente apresentação que tais dígitos “excedem o limite teórico de fotossíntese.” A própria NREL, em relatório de 1996, declarou que uma área próxima ao tamanho do Estado americano de Maryland (cerca de 3,8 milhões de hectares) seria o bastante para cultivar alga suficiente para suprir todas as necessidades de transporte dos Estados Unidos.

Isso representaria cerca de 530 bilhões de litros de diesel, levando em conta uma produção na casa dos 140.000 litros/hectare/ano. Conseguir tais números, no entanto, só é possível por enquanto em teoria; atingir esses níveis na prática ainda é um desafio.

Em 1996, o DoE estimou que o custo de produção do biodiesel de algas seria o dobro do custo de produção da gasolina. O Grupo de Biodiesel da Universidade de New Hampshire (UNH) estima que construir fazendas para atender esse nível de produção nos Estados Unidos custaria, hoje, US$ 308 bilhões – e mais US$ 47 bilhões para colocá-las em funcionamento. O país gasta até US$ 150 bilhões por ano importando petróleo.

A tecnologia para conseguir tal produtividade das algas, no entanto, ainda não está disponível, segundo os pesquisadores da UNH. Eles estão em busca de financiamento privado, uma vez que não há investimento do governo para continuar desenvolvendo a tecnologia.

Métodos e produtividade

Há algum debate também sobre os métodos empregados para se cultivar algas. Para alguns, os métodos de produção fechados, como os que empregam biorreatores, são os únicos capazes de controlar as condições de manejo adequadamente – e assim garantir a boa qualidade da matéria-prima. Mas os defensores de criadouros de alga abertos dizem que seu método é mais produtivo, por haver mais espaço disponível e custos de produção menores.

A neozelandesa Aquaflow Bionomic Corporation defende que é possível atingir bons níveis de produtividade a custos razoáveis.  No começo de 2006, a empresa declarou ter conseguido produzir biodiesel cru a partir de algas retiradas da natureza (por um processo que vem mantendo em segredo). Esse biodiesel gera “no mínimo a mesma quantidade de energia usada em sua criação”, declararam pesquisadores para o jornal inglês The Guardian. Segundo eles, o método é tão barato produzir que a empresa já está pensando em ensiná-lo a comunidades da região, para que elas alcancem a auto-suficiência energética.

Fonte: CNN - HONG KONG, China
Tradução e adaptação: Fausto Tiemann - BiodieselBR.com

Referências: Technology Review; "Microalgae Biofuels" by John R. Benemann, New Zealand Energy Efficiency and Conservation Authority; CNN.com; Energy Bulletin; The Washington Post; University of New Hampshire Biodiesel Group; Clean Tech; Treehugger; The Economist; National Renewable Energy Laboratory.
Tags: Algas