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Miguel Angelo

O fim dos leilões como conhecemos


Miguel Angelo Vedana - BiodieselBR - 24 fev 2012 - 18:04 - Última atualização em: 03 mar 2012 - 23:38

Na próxima semana será realizado o 25º leilão de biodiesel da ANP e provavelmente este será o primeiro certame de uma nova fase para o mercado de biodiesel. Abaixo apresento algumas projeções explicando porque essa nova fase vai começar agora, como ela será e o cuidado que as usinas devem ter na disputa desta segunda-feira.

Um novo estágio
Os primeiros quatro anos de uso obrigatório de biodiesel no Brasil foram marcados por boas margens de lucros paras as usinas. A maioria das empresas que começou junto com o programa já deve ter retirado mais que o dobro do investimento feito neste novo negócio. Contudo, a margem de lucro vem caindo ao longo dos anos. No gráfico abaixo apresento a diferença entre o preço médio dos leilões de biodiesel e o preço médio do litro de óleo de soja nos meses de entrega de cada certame. Esse número não representa o lucro real das usinas, mas sim a margem que a usina tinha para trabalhar.

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[Diferença entre o preço médio do litro nos leilões de biodiesel e preço do litro de óleo sem ICMS posto em São Paulo]


E essa margem vai cair ainda mais, por dois motivos. O primeiro é que a ANP parece ter refeito sua planilha de preço máximo. No leilão deste mês os preços estão bem mais apertados que no leilão anterior, o que significa que mesmo que não haja deságio, os preços já ficarão com uma margem de lucro menor que a obtida no lote sem selo do leilão anterior. Para compensar essa margem menor as usinas podem querer vender um volume maior de biodiesel, o que fará com que o preço caia um pouco mais.

O segundo motivo é a volta da ADM ao rol de usinas com selo social. Essa empresa sempre foi a maior variável dos leilões de biodiesel e desde que ela perdeu o selo, a disputa nos maiores lotes deixou de acontecer. O seu retorno causa um impacto muito maior agora do que causava anteriormente, já que sua capacidade atual é muito maior que era há um ano. Além disso, outras usinas ampliaram e ganharam o selo nesse período, o que tem deixado a ocupação das usinas cada vez menor.

Mas não é apenas a volta da ADM ao mercado com selo e o preço limite mais baixo que vai fazer o setor mudar. Esses motivos poderão ajudar a explicar porque o 25º leilão deverá ter uma competição forte também no lote com selo, o que não vinha acontecendo e incomodou bastante gente. O setor vai mesmo mudar porque os leilões vão mudar.

O 25º leilão deve ser o último que acontecerá da forma como estamos acostumados. Os sinais de que uma alteração profunda será feita são dados por vários membros do governo e a informação já circula entre as distribuidoras. Ao que parece será uma mudança muito mais radical do que qualquer outra já realizada desde o começo do PNPB, mas o governo não dá nenhuma pista de como seriam as mudanças. A impressão que se tem é que se a introdução do FAL foi um pequeno passo no caminho para o mercado livre, as alterações que estão sendo preparadas para o 26º leilão serão muito mais intensas.

O novo leilão deverá ser o grande catalisador da consolidação do setor. Essa fase já era esperada há bastante tempo, o assunto foi capa da edição número 12 da revista BiodieselBR de  agosto de 2009, mas quem achou que ela demoraria mais para chegar pode enfrentar algumas dificuldades. Como essa etapa será marcada por grande competitividade entre as usinas e, consequentemente, lucros menores, teremos várias unidades menos competitivas fechando suas portas ou sendo vendidas para empresas com uma expertise e/ou estrutura maior.

Tomar a decisão
Tendo consciência de que o setor irá mudar e não haverá mais espaço para altos custos, as usinas precisam repensar como agir no leilão da semana que vem. Uma estratégia ariscada que já foi muito usada foi vender abaixo do custo ou muito perto dele para manter a usina funcionando e assim poder recuperar o prejuízo no leilão seguinte. Como a expectativa para o 26º leilão é de uma competitividade maior do que o atual modelo, essa alternativa passa a ser ainda mais arriscada. A usina que não se vê em condições de competir com esmagadoras dentro de seu Estado ou até mesmo micro-região, precisa tomar um cuidado redobrado neste leilão para não perder dinheiro vendendo biodiesel, já que poderá não recuperar o prejuízo no próximo. O mesmo vale na hora de arriscar na projeção futura do preço do óleo.

Já a usina que tem particularidades que a permite ter preço competitivo dentro do seu Estado deve analisar a possibilidade de se manter ativa no segundo trimestre para ver como o novo modelo de leilão foi moldado pelo governo. Se o novo sistema estiver mais próximo da visão de mercado livre, como se espera, esse tipo de usina será beneficiada.

O fato é que as empresas não têm como se planejar para além desse leilão. O plano de negócios de todas as usinas terá que ser revisto. Essa situação só seria pior para as usinas se elas não soubessem que uma mudança na forma de comercialização as espera. Foi assim que aconteceu na implantação do FAL, o governo alterou o modelo de negociação sem avisar ninguém, tirando vantagens de algumas usinas e dando à outras.

Em um momento de mudança, onde não se conhece muito bem as consequências, é preciso ter cautela. Quem vender abaixo do custo para recuperar no leilão seguinte poderá não conseguir vender seu produto. Por outro lado o atual modelo de leilão prejudica algumas usinas e novo modelo pode ajudá-las. Seja qual for a situação que a usina se enquadre ter cautela é necessário.

Miguel Angelo Vedana é diretor-executivo da BiodieselBR e faz parte do conselho editorial da revista BiodieselBR.