Biodiesel com etanol

// 19 abril 2010 // Biodiesel, Matéria-prima, Usinas

PNPB precis entrar em uma nova etapa

PNPB precisa entrar em uma nova etapa

Nos anos de 2003 e 2004 quando o governo estava estruturando o programa do biodiesel participei de alguns debates sobre o modelo a ser implementado. Existia um grupo que defendia o uso do nosso etanol na futura produção brasileira e outro grupo que defendia o uso do metanol.

O governo decidiu acertadamente pela autorização de biodiesel também com metanol. A produção de biodiesel metílico já estava consolidada na Europa e a rota etílica estava engatinhando no Brasil. O governo tinha pressa e não poderia atrasar o programa por alguns anos até a consolidação das pesquisas com o nosso etanol. Com essa decisão quase todas as grandes usinas optaram pelo metanol, importando a tecnologia européia ou americana.

Passados cinco anos, o programa de biodiesel brasileiro se consolidou graças ao governo, a obrigatoriedade de mistura e aos empresários que acreditaram no programa. A produção de biodiesel com etanol também avançou e já é produzido em escala de forma competitiva.

Nova etapa
Está na hora de iniciarmos uma nova etapa do programa brasileiro de biodiesel. Transformar o biodiesel em um produto verdadeiramente ecológico e brasileiro. Para iniciar essa nova etapa não serão necessárias ações mirabolantes, basta apenas que a União e os Estados isentem a carga tributária imposta hoje ao etanol anidro e permitam que as usinas revendam ou permutem o etanol hidratado que sai do processo de produção de biodiesel.

Não há necessidade de obrigar as usinas a mudarem seus processos. Se houver vantagem econômica as usinas o farão de forma natural.

Hoje o país exporta etanol anidro e importa metanol. E não existem dúvidas de que os bicombustíveis são mais corretos quando podem aliar produção e consumo local, ou seja, que seja consumido o mais próximo possível de onde é produzido. O biodiesel feito com nosso etanol evitaria a viajem de centenas de carretas mensalmente com metanol pelo país. Sem falar no maior apelo ecológico e conseqüentemente menor barreira para a exportação do produto.

Univaldo Vedana

Catálogo do biodiesel 2010



Um comentário em “Biodiesel com etanol”

  1. PAULO CESAR BASTOS disse:

    O SORGO E O ETANOL NA TERRA DO SOL

    Paulo Cesar Bastos *

    O Brasil começou o ano de 2010 com problemas no mercado do etanol. Depois de uma relativa estabilidade os preços do álcool combustível voltaram a subir nos postos. Não chega a faltar álcool, mas a oferta por parte das usinas está com pequena margem de segurança em relação à demanda.

    A situação começa a ser discutida com pública preocupação pelo governo e as possibilidades de importação do produto são destacadas. Acredita-se que só a partir de abril ou maio o mercado venha a ofertar um maior volume de etanol o que permitiria a formação dos estoques reguladores como forma de enfrentar a próxima entressafra da cana.

    Outro fator influente para essa alta dos preços do etanol é a demanda mundial por açúcar, agravada pela quebra da safra de cana na Índia. As usinas privilegiaram a produção de açúcar para exportação, motivadas pelos preços favoráveis.

    Assim, com a demanda mundial dos biocombustíveis e sua rápida expansão, através do forte apelo ambiental, vale fomentar e implementar, além de uma política de estoques reguladores, outras medidas inovadoras e reguladoras como a introdução de alternativas de matéria prima para a produção do álcool.

    O etanol poderá vir da Terra do Sol, o Nordeste Brasileiro, pelo cultivo e utilização do sorgo doce ou sacarino para produção de álcool como alternativa para enfrentar a entressafra da cana de açúcar promovendo a segurança do abastecimento e o equilíbrio do mercado.

    Cultura de regiões secas e quentes, o sorgo é plantado onde as precipitações variam entre 375 a 675 mm ao ano. Chamado de planta camelo, o sorgo poderá fazer um casamento feliz com a região semiárida nordestina. A irregularidade hídrica do Nordeste requer culturas que suportem as deficiências ambientais, caso do sorgo. Parece que nasceram um para o outro.

    O sorgo é o quinto cereal mais importante no mundo antecedido pelo trigo, arroz, milho e cevada. De origem tropical, provavelmente da África, o sorgo deve ter chegado ao Brasil através dos escravos. A partir dos meados do século XX, no entanto, é que a cultura foi reintroduzida no Brasil de modo mais ordenado. Atualmente é cultivado em cerca de uma centena de países no mundo, sendo os Estados Unidos o principal produtor

    Recentes pesquisas de cientistas indianos do ICRISAT, sigla em inglês para o Instituto de Pesquisa de Colheitas da Índia para os Trópicos Semiáridos, comprovaram o potencial do sorgo sacarino para produzir tanto alimento como etanol.

    As folhas do sorgo doce, ricas em sacarose, permitem obter por destilação o álcool etílico. Uma parceria do ICRISAT com uma empresa privada indiana implantou em 2007 uma usina de etanol a partir do sorgo cultivado por agricultores familiares. Projetos semelhantes estão em andamento nas Filipinas,México, Moçambique e Quênia.

    Segundo dados do ICRISAT, na Índia um galão (3,78 litros) produzido a partir do sorgo custa 1,74 dólares, enquanto a partir da cana de açúcar custa 2,19 dólares e do milho 2,12 dólares.

    A Embrapa – notável instituição brasileira – na sua unidade de Milho e Sorgo, já possui, desde a época do lançamento do Proálcool, um programa de pesquisa com cultivares de sorgo sacarino. Dezenas de variedades estão sendo avaliadas e são bastante promissoras. Não é novidade para os competentes pesquisadores agropecuários brasileiros.

    Precisamos, no entanto, como ação complementar, de um plano eficiente para a transferência de tecnologia com assistência técnica e extensão rural. Urge levarmos a ciência, tecnologia e inovação para a produção, a serviço do cidadão. Conhecimento gerando desenvolvimento , através de um forte programa inovador de fomento às alternativas para a produção do etanol.

    O sorgo doce seria uma alternativa viável e sustentável sob o ponto de vista agronômico, industrial, econômico, ambiental e social. Além de reduzir o período ocioso das grandes usinas na entressafra, com adaptações no processo, os pequenos produtores de sorgo poderão operar, também, mini e microdestilarias de etanol.

    A cadeia de produção proporcionará a geração de novos empregos rurais, principalmente no Nordeste, promovendo assim a inclusão social com a redução dos desníveis regionais. Vale ,ainda, ressaltar a vocação do sorgo como cultura de sequeiro viável para a integração lavoura-pecuária no semiárido nordestino , ação importante para um plano de recuperação de pastagens degradadas.

    Um desenho pormenorizado de um programa de matérias primas alternativas para o etanol não cabe neste artigo de opinião. A nossa intenção é contribuir de forma positiva, lembrando outros caminhos que poderão ser discutidos e melhor analisados. Um convite ao bom debate para construirmos um Brasil próspero, preservando, produzindo e avançando para ser o líder dos biocombustíveis e alimentos do mundo.

    *Paulo Cesar Bastos é engenheiro civil e produtor rural
    [email protected]

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