Informações importantes sobre o uso de óleo vegetal

// 18 dezembro 2009 // Biodiesel

Em meu último texto questionei alguns pontos sobre o projeto que prevê a utilização de óleo vegetal como combustível. E ao final conclui que da maneira como estava o Projeto de Lei não deveria ser aprovado.

Mas hoje pela manhã recebi do gabinete do senador Gilberto Goellner um texto completo e extremamente elucidativo quanto as questões que levantei. As informações a seguir não constam no Projeto de Lei, mas fazem parte da base de sustentação do projeto. Segue abaixo na íntegra a carta que recebi:

Caro Univaldo,

Muito bom ler suas matérias com conteudo claro e consistencia nas informações. É sempre uma satisfação ter a oportunidade de trocar informações com você.

Gostaria de lhe transmitir algumas informações que são importantes, e que fazem parte da base de sustentação do projeto do Senador Gilberto Goellner, que não constam no texto do Projeto de Lei, pois este é muito suscinto.

A Deutz lançou em 2007 no agritech show de Hanover a linha de tratores Agroton Natural Power com importantes características:
– O óleo vegetal refinado a ser usado deve atender os requisitos da norma DIN V 51605
– Sistema de 2 tanques
– Garantia de 2 anos ou 2.000 horas
– Atende as atuais normas de emissões Europeias

Ensaios realizados em laboratórios na Alemanha, cópia em anexo e confirmados no TECPAR, comprovam que o óleo de soja refinado produzido no Brasil, no padrão que é disponibilizado para comercialização nos supermercados, atende integralmente a norma DIN V 51605. Também foi analisado no TECPAR que o óleo de soja refinado produzido na região Sul do Brasil praticamente não apresenta variações em relação ao produzido na região Norte.

O TECPAR também analisou os óleos refinados de girassol, algodão, milho e canola, produzidos no Brasil, constatando que também atendem a norma DIN V 51605.

De maneira prática, só temos disponibilidade do óleo de soja em volume e preço adequado, pois os outros óleos comestíveis são mais nobres do que o de soja para uso alimentício, e assim tem valor comercial bem superior ao de soja, inviabilizando assim seu uso como combustível. Desta forma acreditamos que nem se deve considerar a médio prazo os outros óleos.

Temos uma visão focada de que se deve rapidamente buscar a implementação da produção de outros óleo não comestíveis, como o Crambe e o Pinhão Manso, porque naturalmente continuará haver forte pressão internacional para que não ocorra o uso de óleos vegetais comestíveis como combustível.

Ensaios realizados também confirmam que o óleo de Pinhão Manso Refinado também atende integralmente a norma DIN V 51605, com características de combustão melhores do que as do óleo de soja.

Realizamos diversas reuniões com montadoras de Tratores, Caminhões e ônibus e de Grupos Geradores no Brasil que já estão trabalhando em programas de testes do uso de óleo vegetal refinado, iniciando os testes com o uso de kits Europeus, mas já pensando no desenvolvimento de fornecedores nacionais.

Quando o Senador Gilberto Goellner fala da redução de custo, na ordem de 20%, realmente está tratando da redução do custo de combustível, e não do custo final da produção agrícola.

No Mato Grosso, o produtor de soja paga pelo diesel R$ 2,10/litro (grande consumidor).

Se este mesmo produtor de soja, enviar parte de sua produção para ser processada e receber o óleo refinado de volta em sua fazenda e vendendo os 80% de farelo, terá óleo refinado ao custo na ordem de R$ 1,10/litro. Esta operação é totalmente legal para uso interno na fazenda. Assim estamos falando efetivamente da redução de 50%.

O diesel representa 30% do custo de produção da soja. Assim uma redução de 50% no custo do combustível equivale a uma redução de 15% no custo de produção. São valores extremamente elevados, quando se considera, por exemplo que apenas no Mato Grosso o setor produtor de soja consome 1 bilhão de litros de diesel/ano.

O Projeto do Senador Goellner, visa regulamentar o uso e a comercialização do óleo vegetal refinado, sugerindo que a ANP adote como referência a norma DIN V 51605 e ainda que este uso inicialmente seja restrito a 2 setores:

– Atividade Agropecuária, em toda cadeia. Visando a redução dos custos de produção.

– Transporte Coletivo Público Urbano. Com objetivo de melhorar a qualidade do ar nas cidades, principalmente
material particulado fino.

Restringir o uso a somente estes 2 setores, deve-se basicamente a não disponibilidade de óleo vegetal refinado para abastecer todos os consumidores de diesel no Brasil.

Desta forma o uso de óleo vegetal refinado como combustível ficará restrito a frotas cativas. Os veículos para utilização de óleo vegetal refinado deverão estar equipados com kits que sejam homologados e instalados por empresas credenciadas pelos orgão competentes, de forma a garantir um funcionamento adequado e não gerar ainda mais poluição.

Se não houvesse tecnologia sendo desenvolvida no Brasil para o uso de óleo vegetal refinado, os produtores poderiam simplesmente comprar Tratores da DEUTZ, que a diferença de custos do combustível, pagaria facilmente o custo adicional da importação destes tratores. Mas felizmente não é o caso, pois os fabricantes nacionais, que tem ligações na Europa, estão realizando a transferência de tecnologia para aplicar nos produtos vendidos aqui.

Temos realizado reuniões nos diversos Ministérios envolvidos no processo, e está havendo total apoio ao PLS 81/2008, a partir do momento, que são esclarecidas dúvidas, e tomam conhecimento da existência de tecnologia, da participação das montadoras em buscar esta tecnologia na Europa, em programas de testes de montadoras que estão se iniciando, da possibilidade da produção e consumo de óleo vegetal refinado regionalizado, não tendo os passeios que os outros combustíveis realizam e que os benefícios socias que se busca no Programa Nacional de Produção de Biodiesel são os mesmo com óleo vegetal refinado.

Este Projeto de Lei acaba trazendo um benefício adicional ao setor produtor de óleo, que é o estabelecimento do preço mínimo do óleo, balizado pelo preço do diesel. Desta forma praticamente fica protegido contra as flutuações de preços internacionais e não irá afetar o preço do óleo usado para alimentação, pois este já está num patamar acima do preço do diesel.

O PNPB tem como objetivo produzir biodiesel em condições sustentáveis. Isto significa ter biodiesel ao mesmo preço do diesel, se o consumo fosse igual, mas experiências realizadas em ônibus urbanos em Curitiba, indicam que o consumo é 8% superior, e desta forma deveríamos ter o biodiesel a um custo na ordem de 8% inferior ao diesel para compensar o maior consumo.

Neste raciocínio hoje o setor de biodiesel deveria pressionar o produtor de óleo vegetal a disponibilizar o produto ao preço de R$ 1,00/litro. O que hoje não é viável para o produtor de óleo.

O aumento no preço do diesel no mercado interno é o caminho natural para tornar viável o biodiesel, mas não há perspectiva de aumento, pois já pagamos um dos preços mais altos do mundo pelo diesel e ainda temos o pré-sal, o que definitivamente enterra qualquer justificativa para aumento de preço do diesel.

Entendemos que deve-se manter o esforço para continuar o Programa de Biodiesel, mas é notório que atualmente é deficitário, e só sobrevive a custa de imposição legal.

Na Europa e Estados Unidos o setor de biodiesel está com alta osciosidade, pois a população não está disposta a pagar mais caro por combustível limpo, apesar de toda a pressão que há na mídia sobre o aquecimento global.

O importante é que temos opção viável técnica e economica, que outros países não possuem.

Então vamos mostrar ao mundo nosso potencial com 3 linhas de biocombustíveis, etanol, biodiesel e óleo vegetal refinado.

Estou à disposição

Um grande abraço

Paulo de Morais
Gabinete do Senador Gilberto Goellner

Análise de óleo de soja refinado: Norma Din 51 605
Catálogo do biodiesel 2010



2 Comentários em “Informações importantes sobre o uso de óleo vegetal”

  1. Viktor Unger disse:

    BRAVO BRAVO Sr. deputado vai pra frente, o lavrador pequeno e medio devem ser salvos, as cidades vivem deles, se eles sofrem as cidades também vao sofrer, ademais, o oleo vegetal e uma energia limpa; entenda isso, homens de responsabilidade.
    V. Unger (pesquisador na area)

  2. Comecei desde 1976 e defendi sempre desde lá.
    Não sai por corrupção política!

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