Cade aprova venda da Biopalma para a BBF
Chegou ao fim, sem muito alarde, mais uma das muitas apostas de diversificação feitas pela mineradora Vale quando os preços do minério de ferro estavam nas alturas. Adquirida em 2011 por US$ 173,5 milhões, a Biopalma foi vendida por um valor não revelado, mas que pode ter sido apenas simbólico, para a Brasil Bio Fuels (BBF) – empresa controladora da Amazonbio –, e a transação foi aprovada nesta semana pela Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A BBF tem sede em Roraima e atua no mercado de biocombustíveis na região Norte do país.
Em 2012, em parceria com o Grupo MSP, a Biopalma inaugurou sua primeira usina extratora de palma, no município paraense de Moju. Uma segunda unidade do gênero foi construída em 2014, e uma planta para transformar o óleo em biodiesel estava prevista para 2015. No total, o investimento no projeto estava previsto em US$ 500 milhões. Mas os planos não vingaram e a empresa se concentrou na produção de óleo de palma, em quatro polos no vale do Acará e baixo Tocantins divididos em 56 mil hectares de terras próprias e outros 6,8 mil explorados em parceria com agricultores familiar.
Com o avanço do plano de desinvestimentos nos último
Cade aprova venda da Biopalma para a BBF
s anos, que incluiu outras atividades que antes do boom do minério não estavam no ‘core’ business - caso da produção de fertilizantes e de outros ativos pouco ou nada rentáveis, a Vale colocou a Biopalma, que teve prejuízo de R$ 965 milhões em 2019, na lista. E houve alguma concorrência, dado o seu potencial de crescimento no mercado de biodiesel. Tanto que uma das empresas derrotadas na disputa questionou a venda para a BBF no Cade, sem sucesso, e entrou na Justiça tentando melar o negócio.
Uma ação cautelar protocolada ontem pela Marborges Agroindústria S.A. contesta a venda e pede que sejam exibidos os documentos de toda a operação. A empresa, com sede em Moju, alega ter sido alijada do processo, sem tratamento isonômico. E questiona acordos de exclusividade firmados pela Vale com terceiras partes desde 2019. A Marborges tem interesse no negócio para incorporar os 56 mil hectares de cultivo de palma da Biopalma aos 18,4 mil que já tem. Neste ano, a empresa assumiu operações que eram da americana ADM no Pará, em negociação também já aprovada pelo Cade.
Procurada, a Vale salientou que “o desinvestimento da Biopalma, bem como eventuais manifestações tempestivas de terceiros interessados, ocorreram seguindo padrões de mercado e compromissos contratuais assumidos” pela companhia. Questionada sobre o preço da operação e a recusa de ofertas de outras empresas, o grupo informou que, a partir do momento do “aceite” de uma proposta não vinculante, “se comprometeu a negociar o ativo de forma exclusiva até a assinatura dos contratos definitivos”. prática comum neste tipo de negócio. A Vale também reiterou que “as condições da transação, realizada diretamente entre as partes, estão sujeitas à confidencialidade por contrato”.
Segundo a mineradora, “a BBF ofereceu proposta adequada no momento pertinente” e “a transação foi celebrada após diligências e tratativas satisfatórias às partes”, a despeito de propostas que não chegaram a ser materializadas. A companhia defendeu que a operação não vai gerar qualquer concentração significativa no mercado de palma - como atestou o Cade - e que “não tem capacidade ou objetivo de redução de oferta ou aumento de preços”.
A BBF, que ainda não tem negócios no Pará, já sinalizou que tem interesse em produzir biodiesel para abastecer usinas termelétricas com quem tem contratos vencidos junto à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o que retiraria grande quantidade de óleo destinado para a indústria alimentar e cosmética atualmente. Também procurada, a BBF também informou que não poderia dar detalhes sobre a aquisição.
Rafael Walendorff e Juliano Basile – Valor Econômico