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Soja

Chuva no RS faz soja subir mais no Brasil do que em Chicago


Globo Rural - 13 mai 2024 - 09:45

As fortes chuvas que castigaram lavouras de soja no Rio Grande do Sul deixaram marcas no mercado do grão na última semana, entre elas, o sinal de um possível descolamento entre os preços no Brasil e em Chicago. Na bolsa americana, as cotações chegaram a subir nos primeiros dias das inundações, refletindo os temores com eventuais perdas, mas o ritmo de alta perdeu força, e a commodity encerrou a semana com valorização de 0,33%, a US$ 12,19 por bushel. Em Paranaguá (PR), o indicador da Esalq/BM&FBovespa para a soja subiu 2,05% no mesmo período, para R$ 133,86 a saca, de acordo com o Valor Data.

Alguns analistas veem descolamento entre os dois mercados. Para Leandro Guerra, da LC Guerra Corretora de Cereais, um dos sinais de descolamento das cotações da soja em Chicago e no Brasil é a melhora nos prêmios de exportação, que eram negativos até o mês passado.

“Há uma diferença de até 15 milhões de toneladas entre as estimativas de consultorias e as de órgãos oficiais sobre a safra [de soja] no Brasil. Além disso, as enchentes no Rio Grande do Sul deram um ‘plus’ nas incertezas sobre a safra, o que também colabora para o prêmio positivo”, avalia.

Luiz Pacheco, analista da TF Consultoria Agroeconômica, vê a soja com mais fôlego para subir no mercado interno do que no externo devido à demanda por biodiesel — o óleo de soja é a principal matéria-prima para a produção do biocombustível. “Há uma disputa entre as tradings para a soja que vai para esmagamento e a que será destinada à exportação”, afirma ele.

Pacheco avalia que nem mesmo as perdas na safra gaúcha causadas pelo excesso de chuvas justificam a alta dos preços em Chicago, já que, na sexta-feira, em seu novo relatório sobre a safra global, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicou excedente de oferta.

“Os estoques finais mundiais cresceram 11 milhões de toneladas nesta safra [2023/24]. Mesmo com uma provável redução de até 2 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul, continua sobrando muita soja no mundo”, observa.

João Birkhan, CEO da Sim Consult, discorda da ideia de um descolamento entre os dois mercados. Ele avalia que o preço da soja não está “descolado” do mercado internacional, ainda que, em vários momentos, as cotações sigam caminhos opostos.

“Não temos um consumo tão grande de soja no mercado interno a ponto de haver descolamento. Somos um grande exportador. Então, raramente as cotações vão divergir do mercado internacional. Pode acontecer em um caso pontual”, diz.

Mais sobre soja

Birkhan acrescenta que o dólar é um dos fatores que levaram à recuperação dos preços da soja no mercado doméstico. A cotação da moeda americana subiu e chegou a atingir R$ 5,30 no mês passado. A alta do dólar favorece a conversão dos valores em reais ao produtor.

A alta da soja no mercado doméstico em meio às chuvas no Rio Grande do Sul também teve um componente especulativo, diz Darcy Pires, da União Corretora. Segundo ele, esse movimento fez com que as tradings pagassem até R$ 2 a mais pela saca de soja no início da semana passada.

Mas, já na última sexta-feira (10/5), a cotação voltou para uma média de R$ 130 nos portos, segundo a corretora. Apesar das incertezas sobre a produção no Rio Grande do Sul, Pires acredita que há “uma tendência de baixa”, já que o Brasil ainda tem um bom volume de soja.

Na cooperativa Cotrisoja, de Tapera (RS), a avaliação é de que os preços tiveram “alta repentina”. “Houve uma acomodação muito rápida das cotações, com o mercado à espera de novas informações sobre a safra gaúcha. Apesar da perda de produtividade que vai ocorrer, no momento, não há nenhuma ‘corrida’ para compra de soja”, afirma Adriano Borghetti, diretor comercial da Cotrisoja.

Atualmente, a saca de soja está em R$ 118 na região. “Mas é difícil dizer se ela vai se manter nesse nível. Não sabemos como irão se desenrolar as questões de safra e de logística, que afetam quase todo o Estado”, acrescenta. De fato, sobram incertezas sobre a dimensão das perdas, que podem crescer com a nova onda de temporais no Estado.

Paulo Santos e Raphael Salomão – Globo Rural