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Mamona

Mercado da mamona cresce no mundo, mas não no Brasil


Embrapa Agroenergia - 02 ago 2012 - 17:12 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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“Como é um mercado em franca expansão mundial, por sua história e tradição na mamona, o Brasil tem todas as condições para participar deste mercado”, declarou o diretor da Bom – Brasil, Jan Brockhausen, durante o V Congresso Brasileiro de Mamona (CBM), realizado em Guarapari/ES, em julho pela Embrapa Algodão, Embrapa Agroenergia e o Incaper. 

Brockhausen diz que o mercado da cultura mundial cresceu muito nos últimos anos, sendo que a participação do Brasil neste mercado é cada vez menor. “Cabe ao Brasil decidir se quer  participar deste mercado ou não. Se os atores da cadeia não se organizarem, ela corre  risco de extinção”, ressaltou. “Os esforços, como este Congresso são importantes para discutir o rumo da cultura, que começa com uma agricultura competitiva”, reforçou.

Hoje, além da Petrobrás, há somente três empresas ativas que compram mamona no Brasil: a Bom que é a maior, Azevedo Óleos e Bióleo. A Empresa Bom, do Grupo Nidera da Holanda, compra a mamona de fornecedores, cooperativas, extrae o óleo e a que é absorvido pelo mercado interno e  exportado  para Europa e Estados Unidos.  “Enquanto existir produção de mamona haverá indústria no Brasil”, declara Jan Brockhause.  Se deixar de existe este produto, o País passará a ser importador, o que já ocorreu este ano, disse.

A mamona tem área de cultivo no Brasil entre 120 a 150 mil hectares, estando cerca de 80% da produção na Bahia. Entre os principais estados produtores também figuram Ceará, São Paulo, Minas Gerais, e Piauí. Devido à maior seca dos últimos 60 anos, houve uma queda significativa na produção da mamona no Nordeste, chegando a 50% na região de Irecê na Bahia e 60% no Ceará. Em função da escassez,  subiram os preços, tornando a importação necessária para abastecer as indústrias  e ainda mais atraente.

No Ceará, segundo maior produtor brasileiro da cultura, o Governo do Estado tem um programa de incentivo ao biodiesel. “Esse programa terá reflexos positivos em futuro próximo. A vinculação social da mamona é muito importante”, salientou o Chefe-geral da Embrapa Algodão, Napoleão Beltrão. “Quando importamos mamona estamos perdendo emprego no País. Isso é ruim”, reforçou. A mamona e o algodão são as culturas mais promissoras para o semiárido nordestino o que corresponde a cerca de 10% do território brasileiro, onde vivem 24 milhões de pessoas.

Maite Carvalhinho, gerente de tecnologia agrícola da Petrobras Biocombustível,  em palestra no VCBM abordou a importância da tecnologia aplicada à agricultura familiar para o incremento de produtividade da mamona e geração de renda no semiárido. A Petrobrás possui três unidades de produção de biodiesel na região com capacidade total superior a 400 mil/m cúbicos/ano e para isso fomenta a produção de oleaginosas oriundas da agricultura familiar em cumprimento ao selo social do MDA.

Desde sua criação, em 2008, o programa estabeleceu contratos com 80 mil agricultores situados em mais de 500 municípios da Região disponibilizando sementes de qualidade e assistência técnica Infelizmente na safra de 2012, devido à seca há perspectiva de redução da safra” lamenta Maite.

A demanda por matérias-primas
A demanda por óleos vegetais tem aumentado consideravelmente, tanto para alimentação humana quanto para geração de energia e outras finalidades, destacou  Napoleão Beltrão. “O Brasil possui área e diversidade de clima e solos para cultivo de diversas oleaginosas, ampliando a geração de emprego e renda no campo” completou.

Para atender plenamente à  demanda a ser gerada quando todas as usinas estiverem em atividade será necessário o aumento na produção de matérias-primas, o  que implica em expansão de áreas, o uso dos coprodutos e uma intensificação produtiva, reforça o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza. “Esse crescimento, se feito de forma desordenada e mal planejada pode comprometer a sustentabilidade do sistema como um todo, gerando impactos socioeconômicos e ambientais indesejados”, advertiu.

Melhorando os sistemas de produção, diz Beltrão, pode-se, no mínimo, dobrar a produtividade, que na Bahia é de 600 a 700 Kg/bagas/há, com teor de óleo de 48%.“A pesquisa hoje tem condições de avançar ainda mais, mais pesquisadores estão no ramo, com experimentos em rede entre instituições de pesquisa e a iniciativa privada”, salientou.

 O aumento de produção do óleo de mamona poderá atender ao mercado brasileiro, que importa grandes volumes dessa matéria-prima da Índia, para atender a demandas crescentes das indústrias de lubrificantes, nylon, tintas, produtos secativos e ácido ricinoleico, complementa Napoleão. A Índia é o maior produtor mundial sendo a China o segundo no ranking.

Destoxificação da mamona
O B7 só será possível com outras oleaginosas, como o dendê, a mamona, a canola e o girassol. Para complementar a meta do governo B20, são necessários 8 bilhões de litros de óleo. “É toda a produção de óleo hoje com a soja”, diz Beltrão. Ele salienta que para isso é fundamental ordenar os produtores, transferir o conhecimento efetivamente para aumentar a produção e a qualidade, além de encontrar alternativas para os subprodutos, como a utilização da torta da mamona. Beltrão salientou o caso de um dos trabalhos premiados no V Congresso Brasileiro de Mamona, que pesquisou a utilização na alimentação dos peixes.

A toxicidade da torta é bastante conhecida devido à presença de alguns constituintes, como a ricina, a ricinina e os complexos alergênicos. Assim, é preciso desativar essas substâncias para que a ração seja um produto viável e aumentar o uso da mamona.

Para os animais, a toxina ricina é letal em pequenas doses. Os cientistas trabalham para inativar esta substância. A pesquisadora da Universidade Estadual do Norte Fluminense, Olga Machado, desenvolveu três processos para destoxificar a torta, entre eles, o tratamento com cal ou hidróxido de cálcio, a fermentação no estado sólido e exposição ao sol.

A destoxificação promovida por esses tratamentos precisa ser rigorosamente comprovada. “Diversos ensaios biológicos foram testados e no momento estamos trabalhando no desenvolvimento de um kit que permitirá o produtor rural fazer a própria identificação.”, informa Olga Machado.

A torta da mamona é um produto excelente e rica em nutrientes, em especial o nitrogênio e o fósforo, sendo um fertilizante orgânico de elevada qualidade, melhorando também a qualidade física do solo.

Daniela Garcia Collares
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