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Dendê / Palma

Projeto quer valorizar a cadeia produtiva do dendê


Assessoria Embrapa - 08 jan 2015 - 16:03 - Última atualização em: 29 nov -1 - 20:53
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Conhecida popularmente como dendezeiro, a palma-de-óleo é considerada a planta com maior potencial de ganhar participação mais significativa entre as fontes de óleo para a produção de biodiesel, além de continuar abastecendo a indústria de alimentos. No entanto, a disponibilidade de sementes de qualidade, o aumento do número de variedades disponíveis e a valorização econômica de todos os coprodutos do processamento ainda são desafios para estimular investimentos.

A Embrapa Agroenergia (Brasília/DF), com uma rede de parceiros em várias regiões do país, está liderando um projeto de pesquisa em rede com duas vertentes: estudar a genética da planta e desenvolver soluções para os coprodutos do processamento industrial dos frutos. A iniciativa conta com recursos da Agência Brasileira de Inovação (Finep).

O dendezeiro gera cachos grandes e pesados repletos de pequenos frutos vermelhos, dos quais são extraídos dois óleos. Da polpa, vem o óleo de dendê propriamente dito, de cor alaranjada; da castanha, sai o chamado óleo de palmiste. O primeiro é utilizado na indústria alimentícia e em outras aplicações industriais; o segundo também é empregado na fabricação de alimentos – especialmente os especiais – além de atender ao mercado de cosméticos.  

É com o óleo da polpa que se produz o biodiesel. Hoje, a participação dessa matéria-prima na produção do biocombustível é pouco significativa. O primeiro motivo é a produção de óleo ainda baixa – o Brasil importa cerca de metade do que consome. Além disso, o óleo de dendê tem acidez elevada, o que tem exigido uma etapa a mais no processo de produção. 

Nesse sentido, uma das atividades do projeto de pesquisa da Embrapa será o teste com catalisadores químicos enzimáticos que permitam a produção do biodiesel em uma única etapa, como nos processos com óleo de soja. Eles também vão buscar catalisadores heterogêneos, ou seja, que não se dissolvem no processo e, portanto, podem ser mais facilmente recuperados ao final do processo e reutilizados. A pesquisadora da Embrapa Agroenergia Itânia Soares explica que a expectativa é que isso reduza a geração de efluentes, uma vez que poderia ser usado menor volume de água na lavagem para purificação do biodiesel.
 
Coprodutos
O projeto, que recebeu a sigla DendePalm, terá também um esforço significativo no desenvolvimento de tecnologias para aproveitamento de coprodutos e resíduos. Cada tonelada de cachos de dendê gera cerca de 250 kg de óleos. Depois, sobram aproximadamente 220 kg de cachos vazios, 120 kg de fibras, 50 kg de cascas e 1.000 kg de efluentes. Atualmente, esses resíduos são aproveitados como fertilizantes ou queimados em caldeiras para gerar energia.

O que os pesquisadores da Embrapa e das diversas instituições parceiras estão fazendo é buscar formas de obter produtos com maior valor agregado a partir desses materiais. "Esperamos transformar o que hoje é resíduo em coprodutos valorizados pela indústria, de modo que o processamento de dendê possa se integrar ao conceito de biorrefinaria", conta a pesquisadora Simone Mendonça, da Embrapa Agroenergia, que coordena os trabalhos nessa área.

Dos cachos vazios, os cientistas pretendem obter substratos para o cultivo de cogumelos, nanofibras de celulose e gás de síntese. Este último é uma espécie de "lego" da indústria química, que pode ser convertido em diversas moléculas. As fibras restantes após a extração do óleo dos frutos também vão ser testadas como substratos para o cultivo de cogumelos. Os cientistas ainda pretendem obter delas carotenoides, substâncias vitais para a alimentação humana, atuando como precursores de Vitamina A.

Um resíduo líquido muito abundante no processamento dos cachos de dendê é o POME, sigla para palm oil mill effluent (efluente da extração do óleo da palma). O volume gerado chega a ser cinco vezes maior do que o de óleo obtido. Por ser rico em matéria orgânica, não pode ser descartado em corpos d'água sem tratamento, já que poderia contaminá-los. Os pesquisadores querem aproveitar essa matéria orgânica e utilizá-la para o crescimento de microrganismos e microalgas. Eles reduziriam a carga orgânica do efluente e gerariam produtos como biomassa, biogás e polímeros.
 
Genética e genômica
O Projeto Dendepalm conta também com uma equipe de cientistas dedicados a ampliar o conhecimento da genética do dendê e as ferramentas disponíveis para as ações de melhoramento e engenharia genética da planta. Está prevista a identificação e caracterização de marcadores moleculares e o aumento dos dados de caracterização da diversidade genética-molecular da coleção de germoplasma da Embrapa, bem como a construção de mapas genéticos de dendê e caiauê. Esta última é uma palmeira do mesmo gênero, muito utilizada no melhoramento do dendê, uma vez que é tolerante à principal ameaça à saúde das plantações – o amarelecimento fatal.

Outra ação prevista no âmbito do projeto é o estudo do genoma do caiauê. Entre as ações, destaca-se a obtenção de uma versão preliminar do genoma de uma das plantas do banco ativo de germoplama de caiaué da Embrapa. Já foram obtidos cerca de 72% do genoma, considerando comparação com genoma da mesma espécie publicado recentemente, e o foco da próxima etapa é na ordenação dos fragmentos obtidos e na complementação das informações.  O pesquisador Eduardo F. Formighieri diz que isso demonstra que "já conseguimos uma boa representatividade do genoma da nossa planta; e as novas tecnologias permitem que trabalhemos na próxima etapa".

O projeto ainda prevê o uso de técnicas avançadas de biologia molecular para estudar a microbiota associada a plantas acometidas pelo amarelecimento fatal. No intuito de explorar um número elevado de microrganismos, os cientistas vão utilizar a metagenômica, ferramenta que permite estudar inclusive aqueles que não podem ser cultivados.

 "Este é um projeto muito amplo, com ações em vários pontos da cadeia produtiva. Mas é só desenvolvendo soluções para todos os pontos que vamos viabilizar a expansão da cultura", conclui o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza.