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Falta de domínio tecnológico impede uso de pinhão-manso


Agência Senado - 09 jun 2009 - 18:51 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:08

A falta de domínio tecnológico do Brasil na produção de biodiesel a partir do cultivo de pinhão manso foi o principal assunto da audiência pública desta terça-feira (9), na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). O chefe do setor de agroenergética da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Frederico Durães, foi enfático ao afirmar que um dos grandes gargalos do programa de biodiesel no Brasil não é a falta de matéria-prima, mas justamente a questão "técnico-científica".

- Sempre que falamos em uma espécie potencial, temos que pensar em domínio tecnológico para ela. Não existem possibilidades sem isso - disse.

Durães explicou que o Brasil, em termos de biodiesel, tem o domínio tecnológico de seis espécies, entre elas a soja e a palmeira africana, mais conhecida como dendê.

O pinhão-manso apresenta potencial em torno de três a quatro toneladas por hectare, destacou, além de uma outra grande vantagem, que é a de não competir na cadeia alimentar, por ser considerado tóxico para o consumo.

- Hoje, apesar do alto potencial genético, vemos o pinhão manso como um plantio que corre risco. O que estamos fazendo agora é o fortalecimento da pesquisa, com a ajuda de universidades e tentativas de parcerias internacionais estratégicas e público-privadas - explicou Frederico Durães, ao acrescentar ainda que são necessários pelo menos sete anos de pesquisa para se chegar a um resultado confiável e, assim, apto à obtenção do registro nacional para o cultivo.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Pinhão Manso (ABPPM), Mike Lu, afirmou que a comunidade científica dará o embasamento necessário "que permitirá a adoção do pinhão manso como cultivo dentro da matriz energética brasileira". Atualmente, segundo Mike Lu, mesmo sem apoio do governo, há 18 estados e cerca de 200 municípios envolvidos no cultivo do pinhão manso.

- É lamentável que estejamos tão atrasados em pesquisa no Brasil- afirmou o presidente da ABPPM.

Investimentos
Entusiasmado com o cultivo desse novo tipo de óleo combustível, o diretor-presidente da Brasil Energia S.A, Laércio Nery, acredita o pinhão manso é a capacidade de elevar em muitas vezes a renda do agricultor familiar. A médio prazo, ele acredita que o preço do óleo combustível produzido a partir do pinhão manso será o mesmo do diesel. Por isso ele tem investido no cultivo do produto.

- Acreditamos que o Brasil será um grande exportador de óleo bruto feito a partir do pinhão manso. Pretendemos plantar 70 mil hectares e estamos oferecendo R$ 800 por hectare, gerando trabalho e renda. O agricultor, no caso do pinhão manso, não vai ter problema, pois vamos correr o risco para ele, oferecendo também assistência técnica gratuita - ressaltou o empresário.

O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) ainda depende das pesquisas da comunidade científica para apoiar projetos de cultivo do pinhão manso no Brasil, disse o coordenador-geral de combustíveis do órgão, Marco Antônio Viana Leite.

Segundo explicou, por enquanto a tendência do governo é continuarapoiando projetos já consolidados, como a soja e a mamona.

- A idéia hoje é que a gente possa avançar nesse tipo de tecnologia [para a produção do pinhão manso]. Se conseguirmos aumentar a competitividade, vamos ter sim condição para pensar em incluí-lo na matriz energética brasileira - explicou.

Senadora critica falta de domínio tecnológico

Hoje estamos num outro mundo, onde a competitividade não perdoa a improvisação. A crítica foi feita nesta terça-feira (9) pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), ao comentar a falta de domínio tecnológico do Brasil no cultivo do pinhão manso como alternativa para a produção de biodiesel.

A senadora pelo Tocantins participou de uma audiência pública, na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), que teve como tema justamente a inclusão do pinhão manso como alternativa para a produção de óleo combustível. Em sua exposição, Kátia Abreu reconheceu que as decisões governamentais com relação a investimentos em novos cultivos devem ter como critério o resultado de pesquisas e embasamentos científicos, mas condenou a falta planejamento do Poder Executivo.

- Estamos vendo prioridades de governo, especialmente na área de biodiesel, sem planejamento e sem previsão. Sem domínio de Tecnologia e logística, esquece tudo. Vontade e sonho não bastam - criticou a senadora, que também é presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Para a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), é fundamental que além de garantia de produção e comercialização do produto, haja também o acompanhamento de um técnico capaz de orientar os produtores rurais em relação ao manejo do solo.

- Para que áreas de produção não sejam transformadas em grandes desertos, desperdiçando não só investimento público, mas também frustrando e angustiando o homem do campo - ressaltou a parlamentar pelo Mato Grosso do Sul.

Valter Pereira (PMDB-MS), que presidiu os debates, reconheceu que o pinhão manso ainda é muito desconhecido, embora esteja despertando a curiosidade de produtores de todo o Brasil, principalmente na área da agricultura familiar.

- Esta comissão não poderia fica ausente deste debate, pois o Brasil tem, no biodiesel, uma das suas diretrizes fundamentais, e o pinhão manso vem se destacando como um insumo de fundamental importância na produção desse tipo de combustível - explicou Valter Pereira.

César Borges (PR-BA) afirmou que as parcerias público-privadas têm sido fundamentais na produção de matéria prima para o desenvolvimento agrícola e energético brasileiro.

Valéria Castanho