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Biodiesel

Medioli: O absurdo do biodiesel


Jornal O Tempo - MG - 15 set 2006 - 15:57 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:22

Não foi por falta de avisos desta coluna, em 5/2/06 e em 5/3/06, que o programa biodiesel está ficando uma brincadeira. Um programa que, se empreendido com seriedade, daria ao Brasil uma condição privilegiada e ainda geraria milhões de empregos.

O fracasso do programa, infelizmente, foi acelerado pela contaminação eleitoreira que tomou conta do pedaço. O presidente Lula foi levado a morder a maçã que a serpente prometia transformá-lo num Getúlio Vargas dos biocombustíveis. Sua equipe, fascinada pela idéia, desconheceu em cheio os resultados das pesquisas científicas (ficou com as eleitorais) e passou a abastecer o presidente de versões fantasmagóricas, esquecendo- se de que a produção de biodiesel é resultado de uma equação agro-industrial que conjuga realidade, ciência e trabalho.

Desconfio de que ele não foi informado sobre os pontos elementares da questão. Os bajuladores o convenceram (pelo jeito que fala da coisa) que produzir biodiesel é fácil como preparar uma caipirinha; não mostraram que resulta de uma longa cadeia de esforços sincronizados e de baixíssima rentabilidade (pelo menos até agora e mantendo-se inalterada a carga tributária).

Dizer que plantando mamona no semi-árido vão se resolver os problemas do mundo com energia limpa e gerar emprego abundante, é uma loucura. As reações dos profissionais do setor (não dos picaretas que invadiram a área e são muitos) e a propaganda sobre biodiesel veiculada no programa eleitoral do PT é de dar risadas. A decisão do TSE de proibir sua veiculação não é acertada apenas em termos de legislação eleitoral, mas em especial por evitar a desinformação e instigar o plantio de mamona.

Leia-se no “Diário do Nordeste” de 11/6/06, “Produtores desistem de cultivar mamona”, o preço mínimo de R$ 0,56 caiu para R$ 0,25 por kg. Não há compradores de mamona e mesmo que existissem ficou comprovado que não compensa plantar e colher essa oleaginosa com produtividade de 700 quilos por hectare. Com ou sem preço mínimo – como já alertei no começo do ano – não há menor possibilidade de compensar os custos na lavoura. Qualquer técnico da área sabe que ela é inviável pela baixa produtividade, pelo elevado custo de plantio, pela composição química de seu óleo e ainda mais pela toxicidade de resíduos produzidos em larga escala.

É cem vezes melhor e lucrativo plantar no semi-árido o pinhãomanso (Jatropha curcas). Semente que sequer é reconhecida, até hoje, pelo Ministério da Reforma Agrária como produto agrícola (espantoso!), apesar de ser considerada desde março de 2006 pela revista “Bio-Magazine” (referência do setor nos EUA) como a mais promissora semente “energética” do planeta (e olhe lá, o pinhão é brasileiro), mas é a Índia que está investindo nela.

O pinhão-manso gera condições de renda e de lucro ao agricultor – mais de R$ 1.000 por ano por hectare ao preço de R$ 0,26 por quilo, que sobem a R$ 4.000 com irrigação.

Não dá para entender como o presidente Lula, que tem no quintal a melhor solução do planeta e um CNPq inteiro à disposição para lhe explicar isso, insista com a mamona!

Ninguém alerta o presidente? É absurdo.

VITTORIO MEDIOLI é colunista do jornal O Tempo de Belo Horizonte
E-mail: [email protected]

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