PUBLICIDADE
CREMER2024 CREMER2024
Bio

O que fazer com o óleo usado?


Diário do Nordeste - 08 set 2010 - 06:52 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:14

Cerca de 52 milhões de litros de óleo de cozinha de Fortaleza e Região Metropolitana vão parar no esgoto todos os anos. Foi o que constatou pesquisa realizada pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Infraestrutura de Transporte e Logística de Energia (Glen), da Universidade Federal do Ceará (UFC), em parceria com a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). Esse montante corresponde a 93% do total de resíduos de óleo gerado na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Para minimizar esse impacto, técnicos da Cagece e pesquisadores da UFC estão estudando o aproveitamento do resíduo como matéria prima para biocombustível em escala. A principal candidata é a Usina de Biodiesel de Quixadá, no Sertão Central, a 167 km de Fortaleza.

O óleo jogado hoje no esgoto pode suprir e complementar em mais de 50% a necessidade de insumos da usina, que opera principalmente com óleos obtidos da agricultura familiar. A unidade pode processar até 108 milhões litros de biodiesel por ano, mas falta matéria prima.

De acordo com o estudo, é possível obter até 4,7 milhões de litros de óleo por mês na Região Metropolitana de Fortaleza, 65% destes só em Fortaleza. Se vendido, pode movimentar até R$ 9 milhões por ano.

Os resultados da análise indicam que mais de 46% do óleo é gerado em residências em Fortaleza são jogados no esgoto, contra 18% da área comercial. A maior concentração da geração de óleo por mês em cozinhas industriais provém do Centro, Meireles e Aldeota, gerando, respectivamente, 44.162, 42.975 e 14.483 litros. No setor residencial, destaca-se a alta produção por mês na Granja Lisboa, com 117.624 litros, e Aldeota, 35.047 litros. Os bairros com maior incidência de direcionamento de óleo para o esgoto são Mondubim, Vila Velha, Barra do Ceará e Jangurussu, destinando, respectivamente, 88.730, 38.956, 34.971 e 30.051 litros.

As residências produzem mais óleo que o comércio, necessitando de trabalho de educação ambiental e de políticas de incentivo ao bom direcionamento do resíduo. Para os técnicos da Cagece, uma das formas mais viáveis e eficazes de lidar com o problema é criar bônus em contas de água. O período de descarte deve ser quinzenal, por meio de recipientes como garrafas PET.

Para universalizar o procedimento, a Cagece e a UFC estão estudando esquemas de coleta que envolvam associações de catadores em políticas de parceria e responsabilidade social. A Companhia está sugerindo, inclusive, que as câmaras municipais da RMF aprovem leis que incentivem os cidadãos e empresários a comercializar ou doar.

A pesquisa foi realizada entre janeiro e março deste ano, em Fortaleza, Caucaia e Maracanaú, com 600 empresas e 1.200 pessoas, em pontos de vendas ao adquirir o produto. Segundo o supervisor da área de Pesquisa e Desenvolvimento da Cagece, Silvano Porto, além de aderir às paredes da tubulação, o óleo pode agregar outros materiais, causando entupimento na rede. O problema fica mais visível nas caixas de gordura de condomínios, que precisam ser limpas periodicamente.

Bares e restaurantes
Algumas iniciativas já começam a dar destino mais adequado ao resíduo em Fortaleza. O presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes - Seção Ceará (Abrasel-CE), Augusto Mesquita, explica que o Programa Papa Óleo, de coleta de óleos e gorduras residuais (OGR), teve início no segundo semestre do ano passado, contando com a colaboração de 20 empresas de Fortaleza. Hoje já são mais de 60, mas a arrecadação, de cerca de três mil litros mensais, ainda é modesta.

Segundo Mesquita, a empresa Meta Ambiental, responsável pela coleta de resíduos dos estabelecimentos, dá um desconto pelo serviço quando a empresa doa o óleo. O material é armazenado até atingir 18 mil litros, quando segue para Quixadá, no Sertão Central do Ceará, e é entregue à Cooperativa Socioambiental e Reciclagem de Quixadá (Ó-Limpo), que só paga o transporte. A cooperativa, formada por jovens de 18 a 26 anos, vende o óleo à Petrobras Biocombustível.

ALTERNATIVA
Em troca de desconto na energia
Resíduo de óleo de cozinha - junto a outros materiais, como garrafas, papéis, plásticos e latas - também é recebido nos pontos de coleta do Projeto Ecoelce, valendo R$ 0,30 de desconto na conta de energia por litro. Desde o início, o projeto já arrecadou mais de 32 mil litros de óleo, gerando cerca de R$ 7,5 mil reais em bônus na conta de energia.

O óleo deve ser levado até o posto de coleta em uma garrafa PET ou em algum recipiente que não derrame. Caso haja algum resíduo sólido no óleo, deve ser feita uma filtragem para retirá-lo. Com o reaproveitamento, diversas são as possibilidades de reciclagem do óleo de fritura, como: produção de resina para tintas, sabão, detergente, glicerina e biodiesel.

O Ecoelce, que desde janeiro de 2007 beneficia 236 mil clientes cadastrados, já contabilizou em torno de 8.140 toneladas de resíduos e R$ 1 milhão em descontos na conta de energia, o que corresponde a uma economia de aproximadamente 31.000 GWh de energia. Atualmente, 29 postos de coleta do Ecoelce estão em funcionamento, sendo 20 em Fortaleza e Região Metropolitana e nove no Interior do Estado.

É muito fácil aderir à iniciativa de trocar lixo por bônus na conta de energia. O titular da fatura deve solicitar o cartão Ecoelce - que conta com um chip onde ficam registrados os dados do cliente - cadastrando-se nos postos de coleta do programa. Com o cartão em mãos, basta levar o lixo reciclável ao posto de coleta mais próximo e registrar os bônus para sua próxima conta de energia. O cartão corresponde à unidade consumidora para a qual o cliente quer creditar o desconto.

MARISTELA CRISPIM