Após os primeiros produtores chegarem à região, atraídos por pelo preço da terra e munidos de novas tecnologias, agora são grandes grupos e tradings que procuram o Matopiba, afirma Anísio Ferreira Lima Neto, chefe geral da Embrapa Meio Norte.
Entre as tecnologias empregadas estão adaptações relacionadas ao plantio direto e adoção de sistemas integrados, inclusive pastagens e espécies florestais, que ensejam um ambiente propício ao desenvolvimento de lavouras sustentáveis. “Temos a integração lavoura-pecuária-floresta; a integração lavoura-pecuária; a fixação biológica de nitrogênio no solo; e também boas práticas agrícolas, como terraceamento e curva de nível, que mitigam e adaptam os efeitos da erosão, bem como das mudanças climáticas”, diz Lima Neto.
Entretanto, a rede MapBiomas relata que quatro dos cinco Estados com maior perda de vegetação nativa em 2024 são os do Matopiba, configurando-se na principal fronteira de desmatamento do Cerrado, que registrou, 1,38 milhão de hectares abertos, equivalentes a oito vezes a área do município de São Paulo, entre 2023 e 2024.
O Ministério da Agricultura (Mapa), reporta que a produção de grãos no Matopiba aumentou 93% em dez anos - de 18 milhões de toneladas na safra 2013/14 para 35 milhões em 2022/23. Para daqui a dez anos, o relatório “Projeções do Agronegócio Brasil 2023/2024 a 2033/2034” aponta para um aumento de 37,1%, para 48 milhões de toneladas de grãos, com expansão da área plantada de 17%, para 11 milhões de hectares em 2032/33, nos quatro Estados.
O gaúcho Idone Grolli, sócio proprietário da fazenda Cajueiro, lembra que, ao chegar a Barreiras (BA), em 1987, como executivo da trading Ceval (comprada pela multinacional Bunge), havia uns 150 mil hectares de soja plantados. O que mais do que dobrou, dois anos depois, com uma seca nos Estados Unidos”, conta. A terra custava 4 sacas de soja o hectare. Hoje, uma terra similar não sai por menos de 150 sacas/ha, avalia outro pioneiro gaúcho, Cordelio Sanders, que chegou ao Piauí em 2001 e hoje comanda o Grupo Progresso, um dos maiores dos Estado.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Matopiba contém 31 microrregiões e 337 municípios --135 situados no Maranhão, 139 no Tocantins, 33 no Piauí e 30 na Bahia. O número tende a crescer se for acatado o pleito do governo do Piauí de incluir mais 30 cidades na área demarcada em 2015.
Maior parte da produção de milho e 26,3% da soja são exportados por Itaqui (MA)
Levantamento da Embrapa anota 324 mil estabelecimentos agrícolas, 46 unidades de conservação, 35 terras indígenas, 36 quilombolas e 1.053 assentamentos de reforma agrária no Matopiba. Já a Comissão Pastoral da Terra registrou o recorde de 415 conflitos na região no ano passado, ante a marca anterior de 253 casos em 2016.
Grolli, ex-presidente da Associação dos Produtores de Sementes do Matopiba (Aprosem), diz que a região, hoje, vive uma fase de consolidação, verticalização e concentração de propriedades, em que os maiores empreendimentos somam às monoculturas tradicionais outras lavouras e atividades, inclusive industriais, como a produção de óleo de soja e etanol de milho. Distribuidoras de insumos locais são encampadas por grupos maiores, inclusive multinacionais, como Mitsubishi, Sumitomo, ELZ Grãos, entre outras. Esses se caracterizam por integrar toda a cadeia produtiva de soja e milho, da originação e comercialização dos grãos, fornecimento de insumos, até o embarque no porto e posterior distribuição no exterior.
O porto preferido é Itaqui (MA), por onde foram embarcados cerca de 94,29% do milho (5,55 milhões de toneladas) e 26,3% da soja (10,41 milhões de toneladas) do total exportado pelo Matopiba, em 2023, segundo o Anuário Agrologístico 2024 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram que a fatia dos portos da região Norte na exportação de soja e milho saltou de 8% em 2010, para 40,3% em 2022.
O porto maranhense deverá receber investimentos privados de R$ 1,35 bilhão para modernização e otimização portuária dos leilões planejados pelo Ministério dos Portos e Aeroportos, que também contemplam R$ 1,64 bilhões para os terminais da Companhia Docas do Estado da Bahia (Codeba - Salvador, Ilhéus e Aratu-Candeias). Nota do órgão acrescenta planos de investimentos de R$ 70 milhões, que podem chegar a R$ 150 milhões, para 5 aeródromos do Matopiba.
Já o Ministério dos Transportes reporta cerca de dez rodovias em projeto, implantação ou em obras de restauro ou duplicação, cujos investimentos somam R$ 3,11 bilhões, além de obras em pontes sobre os rios Araguaia (R$ 232,2 milhões) e Parnaíba (recém entregue, ao custo de R$ 35,7 milhões). A cadeia logística da região inclui ainda as ferrovias Transnordestina e Norte-Sul e a Ferrovia de Integração Leste-Oeste, em construção.
William Salasar – Valor Econômico