O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, disse que os questionamentos sobre Créditos de Descarbonização (CBIOs) para importação de biocombustíveis dos Estados Unidos (EUA) estão praticamente resolvidos.
A afirmação de Alckmin ocorreu nesta terça-feira, 25, durante Encontro Empresarial Brasil–Estados Unidos 2025, promovido pela Amcham Brasil. “Nós temos o diálogo [com os EUA] na questão tarifária e questões não tarifárias. Por exemplo, o questionamento da CBIOs para importação de produtos americanos de biocombustível está praticamente resolvido”, disse.
A fala de Alckmin se refere aos questionamentos anteriores de parlamentares dos EUA em relação à exclusão do etanol importado do programa RenovaBio — Política Nacional de Biocombustíveis, que permite a venda de créditos de descarbonização emitidos por produtores de combustíveis renováveis.
Há cerca de três meses, entretanto, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis aprovou certificado para a Copersucar participar, dentro do programa RenovaBio, como importador de etanol anidro produzido pela empresa Plymouth Energy LLC, de Iowa, nos EUA. A ação abriu caminho para resolução dos questionamentos norte-americanos.
Tarifas dos EUA ainda vigentes
Referente às tarifas norte-americanas, o vice-presidente da República destacou que, com a decisão do governo Trump na última semana, de ampliar a lista de produtos isentos do tarifaço, seguem tarifadas em 50% (10% + 40%) cerca de 22% das exportações brasileiras; outros 27% estão na Seção 232; e 51% está com a tarifa zerada ou em 10%. “Nessa última ordem executiva foi zerada a tarifa para muitas frutas, sucos, café, não o café solúvel, mas os outros cafés, carne. Ao todo, foram 238 produtos que tiveram a sua alíquota zerada”, afirmou.
Segundo o Alckmin, o próximo passo agora é conseguir incluir mais produtos na lista de exceções dos EUA. Porém, há barreiras pela frente. “Nós temos o desafio da manufatura, máquinas, motores, produtos industrializados, madeira, ainda muita coisa, mesmo alimentos ficaram fora, mel, um conjunto de produtos. Então, o trabalho vai continuar agora esse avanço”, salientou.
Parceria com os EUA é estratégica, reforça Amcham Brasil
Durante o evento, o CEO da Amcham Brasil, Abrão Neto, reforçou que a relação comercial entre Brasil e EUA possui peso decisivo para diversos setores da economia brasileira — incluindo o agronegócio — e que os avanços recentes nas negociações tarifárias representam um alívio importante, embora ainda haja desafios relevantes pela frente.
Segundo ele, os EUA seguem como principal destino das exportações brasileiras de bens industriais e como o terceiro maior mercado para a agroindústria, absorvendo volumes significativos de café, carne bovina, suco de laranja, pescados e frutas. Ele citou ainda que levantamentos realizados pela Amcham Brasil mostram que as vendas externas destinadas ao mercado norte-americano são as que mais geram empregos e melhores salários entre todas as exportações brasileiras, em razão do maior valor agregado e da diversificação da pauta
Neto também ressaltou o peso do investimento estrangeiro norte-americano no país. “De cada dez dólares investidos no Brasil que vêm do exterior, três são de origem norte-americana”, lembrou, citando o estoque superior a US$ 350 bilhões já aplicado por empresas dos EUA no mercado brasileiro.
Do lado norte-americano, a importância também é significativa. Os EUA acumulam, nos últimos 15 anos, um dos seus maiores superávit comerciais globais na relação com o Brasil, o que, segundo Neto, reforça a complementaridade entre as duas economias. A expectativa é que, apenas nos próximos três anos, o Brasil adquira cerca de US$ 140 bilhões em produtos norte-americanos, sobretudo nos setores de energia, insumos agropecuários, partes e peças de aeronaves, medicamentos e bens de consumo.
O CEO avaliou como positivo o recente recuo tarifário promovido pelo governo dos EUA. Apesar da melhora no ambiente político e comercial, Neto afirmou que parte expressiva das exportações brasileiras ainda permanece sujeita a tarifas elevadas, especialmente no setor industrial, o que afeta a previsibilidade dos negócios e exige continuidade das negociações.
“Há ainda bastante trabalho pela frente, uma vez que uma parte importante das exportações brasileiras continuam sujeitas à sobretaxa, sobretudo no setor industrial. E esses impactos são não só no comércio, mas sobre a previsibilidade dos negócios bilaterais como um todo”, disse.
Além da agenda tarifária, a Amcham Brasil enfatizou haver amplo espaço para ampliar parcerias estratégicas em áreas como segurança energética, minerais críticos e terras raras, além de data centers, economia digital e inteligência artificial. Para Neto, o alinhamento de interesses nessas frentes pode acelerar a construção de soluções permanentes para remover entraves comerciais e potencializar investimentos bilaterais.