Investimentos em tecnologia, logística e qualificação profissional constituem a base principal para assegurar ao Tocantins a expansão do setor sucroalcooleiro e o domínio da produção de biocombustíveis. Foi o que nesta quarta-feira, 27, o empresário e ex-presidente do Sifaeg/Sifaçúcar - Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool do Estado de Goiás, Igor Montenegro Celestino Otto, na abertura do ciclo de palestra do seminário O Estado do Tocantins e a Ferrovia Norte-Sul, no Centro de Educação empresarial do Sebrae, em Palmas.
Igor Montenegro salientou as condições favoráveis de clima e solo do Estado para o plantio de matérias-primas utilizadas na fabricação de biocombustíveis e enfatizou que a introdução de um novo modal logístico, com a construção da Ferrovia Norte-Sul coloca o Tocantins como protagonista da nova matriz energética brasileira. Com isso, o empresário acredita que esse segmento tem possibilidades reais de dar suporte ao desenvolvimento da área de influência da FNS, principalmente com a proposta de instalação de 24 usinas de álcool e 10 de biodiesel ao longo do seu traçado dentro do Estado.
Essa influência fica mais patente, disse ele, quando se considera que o setor sucroalcooleiro é o segundo (atrás apenas da construção civil) que mais emprega no País, absorvendo mais de 1 milhão de empregos diretos e mais de 3 milhões indiretos. No geral, o setor beneficia cerca de 8% da população brasileira.
De acordo com Igor Montenegro, com base em estudos do governo federal, trata-se de uma atividade que paga, em média, 75% a mais que os outros setores do agronegócio. "Esse segmento destaca-se no agronegócio como o que mais gera empregos de qualidade nas áreas de produção, industrialização e transporte, embora ainda exista muito trabalho braçal no corte da cana. Existe oportunidade para as camadas sociais mais humildes e para as mais qualificadas", avalia. Igor salienta que a queima da cana e a colheita manual têm data certa para acabar por medida legal. Hoje, informa ele, 50% da cana produzida no Brasil já é colhida sem a queima.
Potencial
Montenegro diz que a cana é produto estratégico. Além da produção de álcool combustível, é matéria-prima para o açúcar, colocando o Brasil como o primeiro exportador mundial do produto. O potencial para a bioeletricidade (co-geração) é expressivo, embora ela represente hoje apenas 3% da energia brasileira. Até 2020, projeta ele, essa participação subirá para 15%. Se o Tocantins aproveitar as grandes conexões e oportunidades, no futuro será um dos grandes produtores do País.
O Tocantins está preparado para gerar biomassa suficiente para a sustentação dos projetos? Igor Montenegro questiona e diz acreditar que o Estado vem se preparando para isso. As condições básicas - sol (luminosidade), água e solo são propícias. Mas ele lembra que é necessário suprir a deficiência hídrica marcante no período seco, com irrigação de salvamento. Tecnologia para isso já existe nas grandes regiões produtoras do pais e não representa problema, acentua.
Ele também considera que, ao final da construção da Ferrovia Norte-Sul e colocando-se em prática os projetos para que a obra permita o desenvolvimento sustentável em seu traçado, o Tocantins terá como intensificar a mobilização em prol da construção de eclusas para viabilizar as hidrovias dos rios Tocantins e Araguaia.
Igor Montenegro, ao falar sobre a comercialização e distribuição de biocombustíveis, enfatizou que hoje o principal mercado é mesmo o interno. Para ele, o Brasil precisa aproveitar o seu imenso potencial e aumentar o consumo. Ele lembra que o álcool não é competitivo hoje em região que não produz esse biocombustível, abrindo para o Tocantins a perspectiva de abastecimento de regiões vizinhas, notadamente o Nordeste, onde toda a produção é focada no mercado externoe na região Norte. Para Igor, não há hoje estado com melhor estratégia para suprir a demanda do que o Tocantins.
Quanto ao mercado internacional, avalia que a participação dos biocombustíveis na União Européia não chega a 10%, constituindo um mercado para médio prazo, em torno de 10 anos. Os Estados Unidos, hoje o principal produtor mundial de etanol, vêm sofrendo pressões internamente para reduzir a produção de álcool a partir do milho. Hoje é o país que mais importa etanol do Brasil - 50% dos 3,5 bilhões de litros vendidos pelo País - e a tendência é que aumentem as compras.
A Ásia, ele vê ainda como uma icógnita. Cita o caso do Japão, onde a indústria petrolífera é muito forte e o governo define as estratégias de mercado junto com a iniciativa privada. Só agora as empresas japonesas firmam as primeiras parcerias no Brasil para a produção de biocombustíveis. Há bom potencial de exportações para a Índia, enquanto a África tem as suas limitações, podendo constituir mais para futuro outro parceiro comercial nesse setor.
Luiza Renovato