A Amyris do Brasil, braço da empresa de desenvolvimento de novos combustíveis sediada na Califórnia, está em fase final de negociação para a compra de sua primeira usina sucroalcooleira no país. Cinco empresas da região Sudeste foram prospectadas. A aquisição é a etapa final para que a Amyris comece a produzir diesel de cana-de-açúcar na safra 2011.
A tecnologia teve sua planta-piloto inaugurada em meados de 2008, em Campinas, e ganhou na quinta-feira uma versão mais potente — a chamada planta de demonstração, com escala de produção de até 40 mil litros de diesel de cana por ano. É nesta planta que a Amyris fará os ajustes finais, enquanto submete a tecnologia para testes do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e aprovação da Associação Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). “É o último passo antes de converter uma usina”, diz Fernando Reinach, membro do conselho executivo da Amyris e diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios, um dos cinco maiores investidores da empresa americana.
A compra deverá ser concretizada até agosto, esperam os executivos. Isso porque a Amyris necessita de um tempo de adaptação da planta sucroalcooleira para produção de diesel (retrofit, no jargão do setor), de modo que consiga iniciar as operações em 2011. Segundo a empresa, o custo de adaptação para uma planta que produz 2,5 milhões de toneladas de cana por ano é de US$ 50 milhões.
Até o ano passado, a candidata natural para a produção de diesel de cana era o grupo Santaelisa Vale, de Sertãozinho (SP), cuja subsidiária Crystalsev era sócia da Amyris neste projeto. Recentemente, a Amyris adquiriu de volta os 50% de participação que pertencia à Crystalsev. Em entrevista ao , executivos
Valor da Santelisa confirmaram que o grupo se desfez dessa fatia significante, uma vez que a empresa tinha necessitava fazer caixa.
Fontes do setor afirmam que a CNAA (Companhia Nacional do Açúcar e do Álcool), que também tinha parceria com a Santelisa até fevereiro, foi apontada como futura parceira da Amyris. Procurado, o principal executivo da CNAA não retornou às ligações. Com três usinas no país, a CNAA fez captações de R$ 400 milhões no início do ano para tocar seus projetos de usinas e realizar futuros investimentos.
“A Amyris está procurando usinas de pequeno porte para tocar seu projeto no Brasil. Neste caso, não temos como fazer associação com eles”, afirmou um executivo de um grande grupo ao .
Valor Segundo John Melo, CEO da Amyris, o diesel de cana não virá para retirar o mercado do etanol. Ao contrário, o produto foi concebido para diminuir a dependência das importações do diesel, um produto altamente prejudicial ao ambiente por ter como matériaprima o petróleo e conter alto teor de enxofre. Hoje, o Brasil consome cerca de 45 bilhões de litros de diesel por mês. “É importante para a balança brasileira, que hoje exporta petróleo e importa diesel. Cerca de 5 bilhões de litros são importados atualmente”, afirma Reinach.
Do ponto de vista do usineiro, lembra Melo, há também vantagens econômicas. “Eles podem produzir açúcar, etanol e diesel — mas com a vantagem de o diesel custar bem mais que o etanol”, diz o CEO. De acordo com ele, o barril do diesel é comercializado hoje a US$ 106. O do etanol, US$ 56.
Outra vantagem é que a tecnologia é desenvolvida para usar exclusivamente a cana como matéria-prima, o que trará o desenvolvimento dessa indústria ao Brasil.
O diesel de cana pertence à chamada segunda geração de combustíveis, fortemente amparados na biotecnologia. Ao contrário do biodiesel, ele não tem em sua composição óleos vegetais. “A técnica é a utilização de uma levedura geneticamente modificada para atuar na fermentação da cana. Essa levedura permite que a garapa se transforme em diesel e não em etanol”, diz Reinach. O pulo do gato da Amyris, neste caso, foi a identificação de uma molécula — o farneseno — que sintetizasse as características do diesel de petróleo.
A empresa afirma ainda que o novo diesel dará outros usos à cana e abrirá portas para demais combustíveis à base da matéria-prima, como a gasolina e o querosene.
Bettina Barros e Mônica Scaramuzzo