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Esqueça a soja, a mamona, o girassol, o pinhão manso e a palma. Um projeto inédito no Nordeste feito em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Petrobras e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do RN (Emparn) está desenvolvendo uma maneira de cultivar microalgas em larga escala para produzir de forma econômica o biodiesel.

A produção de biodiesel a partir de óleo de microalgas apresenta-se como uma boa solução tendo em vista a necessidade urgente de encontrar alternativas para substituir o petróleo na produção de energia. Sem contar que as microalgas têm se apresentado mais produtivas do que as outras oleaginosas e de quebra ajuda na preservação do meio ambiente.

“Em relação à produção de óleos, as microalgas, em laboratório, são pelo menos 15 vezes mais produtivas que a palma, que é a oleaginosa de maior produtividade. Além disso, a área ocupada na sua produção é 100 vezes inferior à das culturas tradicionais. Ou seja, são precisos apenas 2.500 hectares para abastecer uma refinaria de 250 mil toneladas, contra a necessidade de 500 mil hectares de soja e de 250 mil hectares de girassol para produzir a mesma quantidade de óleo”, explica a coordenadora do projeto e do Laboratório de Anatomia Vegetal da UFRN, Juliana Espada Lichston.

Entre outras vantagens, as microalgas têm a capacidade de seqüestrar (retirar) o dióxido de carbono (CO2) do ar, reduzindo a emissão de gases e o efeito estufa para a atmosfera, gasta uma menor quantidade de água e não compete com outras culturas alimentares já que não precisa de terra fértil e pode ser produzida sobre áreas secas. “A nossa proposta não é substituir as plantas pelas microalgas e sim oferecer mais uma opção para a produção do biocombustível”, adverte Juliana Lichston.

Entre os exemplos de microalgas que podem ser utilizadas para a produção do biocombustível estão a Spirulina sp; Chlorella sp; Synechoccus sp; Dunaliella sp, boa parte delas encontradas no Rio Grande do Norte e no Nordeste brasileiro, que já possui uma grande vantagem com relação a outras regiões, que é a alta incidência de raios solares durante todo o ano, um dos requisitos para o desenvolvimento dessas microalgas.

Mas apesar de todas essas vantagens o projeto, que já foi aprovado pela Petrobras e aguarda apenas o aval da Agência Nacional de Petróleo, tem dois grandes desafios, comprovar a potencialidade e a economia da produção em larga escala das microalgas e encontrar outras espécies que também produzam óleos. “A nossa expectativa é que ainda este ano nós vamos dar início à produção em larga escala”, conta a coordenadora do projeto.

A produção em larga escala será feita na base física da Emparn em Extremoz, onde fica o Centro Tecnológico de Aqüicultura,uma parceria com a UFRN. Por enquanto apenas a estrutura de laboratório está montada, falta a parte dos tanques, onde as microalgas serão depositadas e expostas a radiação solar.

Uma outra proposta do projeto é encontrar outras aplicações para as microalgas, como por exemplo, ração para camarão. “As microalgas são bastante utilizadas para fins alimentares, não aqui no Brasil, mas no Japão, por exemplo. “Elas podem ser destinadas a diversos fins, o biodiesel é apenas algum deles. “As microalgas possuem grandes vantagens para o meio ambiente, já que é responsável por mais de 50% da fotossíntese e nós temos que aproveitar o potencial do RN para conseguir desenvolver esse projeto inédito”, finaliza Juliana Lichston.

Produção tem de superar obstáculos
O valor da produção em larga escala dessas microalgas não pode ser divulgado porque ainda está sob análise da ANP, mas o coordenador do Centro Tecnológico de Aqüicultura está confiante. “Esse é um projeto que tem grandes chances de dar certo porque as microalgas se dão muito bem com o meio ambiente e com o clima do RN”, disse o coordenador do CTA, Ezequias Viana de Moura.

Porém, para atingir a escala industrial, a produção terá de superar vários obstáculos, como a viabilidade econômica do processo, por exemplo. “Até agora, os resultados que obtivemos são em escala de bancada, mas já são bastante promissores, o que nos anima a testar o sistema numa planta-piloto, num projeto que tem exatamente como objetivo a viabilização econômica desse empreendimento”, revela a Ezequias de Moura.

As fazendas de microalgas exigem uma infra-estrutura bem diferente de suas similares com plantações convencionais. Elas podem ser cultivadas em tanques de 20 metros cúbicos exposto a condições favoráveis de temperatura, salinidade e nutrientes. Também é necessário um laboratório equipado para análises diárias, além de equipamentos para a coleta e absorção do óleo. A estrutura prevista pela Emparn é de oito tanques, de alvenaria ou fibra de vidro, abertos para receber a irradiação solar.

A primeira parte da produção é a coleta da cepa das microalgas (conjunto de microalgas da mesma espécie ou gênero). Em seguida é feita a repicagem, que é o processo de aumentar a escala de produção das microalgas. “Essa escala varia de um litro até três mil litros, que já é a escala de comercialização”, explica Ezequias.

O passo seguinte é o que os especialistas chamam de inocular, ou seja transferir essa matéria orgânica para os tanques de 20 metros cúbicos. “A partir desse estágio é que o material será analisado econômica, ambiental e produtivamente para ver se vai valer a pena”, explica o professor. A análise do material vai ser feita no Laboratório de Anatomia Vegetal e no de química da UFRN também.

De acordo com Ezequias de Moura o projeto tem duração de 30 meses a partir da assinatura, que vai poder explorar comercialmente o biodiesel.

Carla França

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