Na busca por fontes de energia menos poluentes e mais econômicas, pesquisadores brasileiros dão um grande passo ao mostrar a eficiência das microalgas, encontradas no litoral brasileiro, como matéria-prima para produzir biodiesel. A pesquisa, desenvolvida pelo Instituto de Biologia da Universidade Federal (UFF), sugere que as algas têm capacidade de gerar 90 mil litros de óleo por hectare ao ano, enquanto a soja, principal base do biodiesel do Brasil, produz apenas 500 litros por hectare. Além disso, as algas ajudam a combater o efeito estufa, uma vez que precisam de dióxido carbônico (CO2) para se reproduzirem.
– O projeto de tornar algas em biomassa é visto, hoje, como algo promissor. Uma das razões é o alto valor do petróleo, que esse ano chegou a atingir US$ 140 o barril. A diminuição do preço de custo de produção do biodiesel também contribuiu. E, atualmente, há uma extrema preocupação em retirar carbono da atmosfera – explica Sergio Lourenço, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, responsável pelo estudo.
A alternativa também não encontra obstáculos na agricultura. As microalgas são cultivadas em água e, como não possuem raíz, nem caule, demandam um espaço pequeno para se reproduzirem. Além disso, crescem mais rápido que qualquer outra planta. Num espaço equivalente a um hectare, por exemplo, as algas têm capacidade de produzir 100 vezes mais óleo que a soja.
– Em matérias-primas como soja e amendoim só é aproveitado um pedaço pequeno da planta, ou só o fruto, para gerar óleo. Já nas algas, todas as células são aproveitadas por isso a produção é alta – avalia Lourenço. – Não é preciso desmatar áreas para cultivá-las. E não entra em atrito com a produção de alimentos, já que ninguém come algas.
Antonio José Maciel, professor da faculdade de engenheira agrícola da Unicamp, diz que, mesmo o projeto estando em fase laboratorial, mostra-se promissor.
– É algo que poder ter alto potencial. Nosso país tem grandes condições de produção devido ao clima e à água, mas é preciso um programa de pesquisa que dê resultados para, assim, receber investimentos – afirma Maciel.
Embora os benefícios do biodiesel de algas prevaleçam, há questões que dificultam o investimento de instituições. Além do cultivo ser trabalhoso, e portanto, demandar uma equipe especializada – não pode ser elaborada por agricultores – precisa ainda de investimentos em pesquisas.
– A soja não precisa mais ser pesquisada, e já existem os particulares que a cultivam e vendem. Já o processo de produção de algas exige alto investimento. A separação das células que serão convertidas em biodiesel demanda muito recurso – confessa Lourenço. – O biodiesel de algas ainda não é viável, mas acredito que em cinco anos já vamos ter produção comercial em escalas grandes.
Redução de custos
A Petrobras também desenvolve, desde 2006, pesquisas com esse tipo de matéria-prima. Segundo a instituição, os próximos passos do projeto serão produzir maior quantidade de biomassa e aumentar o volume da produção de biodiesel de microalgas.
– Nosso maior desafio é buscar a redução de custos, o ideal seria reduzir bastante os gastos, o que só seria possível com tecnologia de ponta aplicada ao processo – avalia o oceanógrafo Leonardo Bacellar, pesquisador do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes) da Petrobras.
Técnica gera aumento na produção de lipídio
Atualmente no Brasil, 78% do biodiesel têm como matéria-prima a soja. Os outros 22% vêm do amendoim, girassol, carcaça de frango, entre outros. As fontes são inesgotáveis, porém, a porcentagem de lipídios encontrada nas espécies é considerada baixa. A concentração de lipídios das algas também não á alta: poucas espécies chegam a 20%. No entanto, a equipe de Sergio Lourenço, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, responsável pelo projeto de tornar as microalgas fonte de biodiesel, desenvolveu uma técnica que faz as algas produzirem mais lipídios. A concentração pode chegar a 50%, segundo o biólogo.– Por meio de técnicas de manipulação alteramos as condições dos meio de cultura: mudamos as proporções de nutrientes, de luz e agitação do sistema. Um conjunto de alterações faz com que as algas acumulem mais gordura – conta Lourenço. – O problema hoje no Brasil não é produzir biodiesel e sim, gerar biomassa, que é a matriz gordurosa que será convertida em biocombustível.
De acordo com o biólogo, a soja, por exemplo, possui 18% de lipídios, e isso não quer dizer que essa quantidade será toda convertida – no máximo será a metade. Mas Isso não é um problema grave para o Brasil porque o país é o segundo maior produtor de soja do mundo – só perde para os EUA.
O dendê pode concentrar 30% de lipídios e o amendoim e girassol chegam a 40%. São quantidades mais promissoras para a conversão, porém o Brasil não tem grande escala dessas espécies.
No país, agora, é encontrado também o pinhão manso, uma planta, trazida da Índia, vista como a grande promessa para ser matéria-prima do biodiesel. Mas segundo Lourenço, há ainda que ser mais pesquisada.
– É uma planta exótica, não conhecemos bem a espécie, então, é arriscado, pois existem fungos e bactérias que destroem toda plantação. E o agricultor quer garantia. – alerta Lourenço.
Bioquerosene
As algas podem ainda ser matéria-prima para o bioqueronese, produto cada vez mais procurado pelo mercado de aviação. Além disso, todas as espécies de microalgas podem ser usadas para a produção desse combustível.
Cecilia Minner