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Os esforços internacionais para garantir que a produção de óleo de palma (dendê) seja sustentável correm o risco de entrar em colapso. Segundo reportagem do jornal britânico "The Guardian", ambientalistas e a indústria não chegaram a um acordo sobre a obrigatoriedade do setor de reduzir suas emissões de gases de feito estufa, responsáveis pelo aquecimento global.

A redução dessas emissões é crucial para governos compradores de biocombustíveis a base de palma, sobretudo europeus, que passaram a adotar percentuais maiores de substituição de combustível limpo ao de origem fóssil. O Reino Unido, por exemplo, introduziu no ano passado a obrigatoriedade de 2,5% de mistura à gasolina e ao diesel - sendo que 8% desses biocombustíveis são à base de palma.

Ao mesmo tempo em que tentam minimizar uma forte fonte de emissões de gases-estufa, que é o setor de transportes, esses países são criticados por comprarem óleo gerado a partir do desmatamento de florestas nativas da Ásia - anulando os benefícios dos biocombustíveis e piorando o estado do planeta.

Criada em 2004 para estabelecer padrões ambientais internacionais para a produção mundial, a Mesa Redonda para a Palma Sustentável (RSPO, na sigla em inglês ) se dividiu em torno da necessidade de quantificação as emissões geradas com o plantio de palmas em áreas alagadas, que produz um volume significativo de gases. "Não vejo como a RSPO poderá continuar sendo um organismo certificador se as emissões não forem incluídas nos padrões de sustentabilidade", disse ao "The Guardian" Marcus Silvius, da organização ambientalista Wetlands International e também membro da RPSO.

"As áreas alagadas são usadas no mundo inteiro para fim comercial. Então não sei porque não podemos alocar parte de nossos recursos para a produção de óleo de palma e gerar renda para a população local", devolveu a Associação de Produtores de Óleo de Palma da Malásia.

Na reunião do clima em dezembro, em Copenhague, um dos temas de debate será justamente a compensação financeiras a que países tropicais, como Malásia e Brasil, teriam direito se mantivessem suas florestas em pé. O esquema, no entanto, não deve ser aprovado já desta vez.

Apesar do impasse, a pressão pela preservação dessas florestas é crescente sobre a indústria. A Nestlé, maior empresa mundial de alimentos, anunciou recentemente que pretende utilizar até 2015 apenas "óleo sustentável certificado" como matéria-prima para seus produtos. A decisão vem na esteira de uma revisão completa da cadeia de fornecimento do óleo da companhia, criticada pelo Greenpeace de ignorar a destruição das florestas da Indonésia em nome da lavoura. Membro da RSPO, a empresa disse que utiliza 0,7% (320 mil toneladas) da oferta mundial do óleo e que busca encontrar uma solução para a ameaça ambiental causada pela palma na Ásia.

Indonésia e Malásia são os dois maiores produtores mundiais do óleo, nesta ordem, e suas produções seguem de vento e popa. Ontem, os contratos futuros do óleo reverteram a tendência altista e fecharam com queda de 0,9%, para 2,218 ringgit (US$ 656) por tonelada, devido a informações de que a Malásia elevará a produção em 2010. O país produzirá 17,8 milhões de toneladas, uma alta anual recorde de 4,9%, em decorrência do aumento na área plantada.

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