NOS ÚLTIMOS TRINTA anos, pesquisadores de várias partes do planeta se debruçaram sobre a tarefa de descobrir um substituto para o petróleo. Apesar de iniciativas bem-sucedidas no Brasil (com o pró-álcool), na Alemanha (biodiesel) e nos Estados Unidos (etanol de milho), os chamados combustíveis alternativos estão longe de ocupar o lugar do petróleo. O principal entrave é o custo mais elevado em relação ao versátil ouro negro, do qual se pode extrair desde combustíveis líquidos e gás de cozinha até resinas termoplásticas. Apesar disso, um grupo de investidores da Europa e dos Estados Unidos, continua disposto a bancar apostas neste campo. A bola da vez é a microalga. Nos últimos seis meses, foi aplicado cerca de US$ 1 bilhão em 50 empresas de biotecnologia americanas, que atuam na produção de biodiesel a partir de microalgas. Há uma razão para levar o assunto a sério. Gente como Bill Gates e o clã Rockefeller são alguns dos que colocaram dinheiro nessa história. A alga é um insumo renovável que está presente abundantemente na água de rios, lagoas e mares e cuja proliferação depende basicamente de alguns nutrientes e da radiação solar. Os resultados, ao menos por enquanto, são animadores. Em 7 de janeiro último, um avião da Continental Airlines decolou do aeroporto de Houston (Texas) para um voo de duas horas sobre a cidade. No tanque, uma mistura composta de querosene de aviação (50%) e biodiesel de algas e pinhão (50%). E mais. Os dirigentes da Solazyme rodam pelas ruas da Califórnia com um Jeep movido unicamente a biodiesel de microalga.
Isso não indica, contudo, que daqui a dois ou três anos poderemos parar o carro diante de uma bomba de combustível e escolher entre gasolina, diesel, etanol, gás veicular e biodiesel de alga. É que ainda falta definir a equação financeira para dar suporte a uma empreitada deste porte em larga escala. Algo que se torna mais delicado ainda, agora que o preço do barril de petróleo despencou para "apenas" US$ 40. "Neste tipo de projeto um mero detalhe pode definir o sucesso ou o fracasso da empreitada", opina Leonardo Barcellar, analista ambiental do Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes). "Existem milhares de algas no mundo. Conhecemos apenas 30 mil delas e ainda não há um consenso sobre qual possui a melhor relação custo-benefício", completa. Desde 2006, o Cenpes realiza estudos nesta área mas que ainda estão em estágio embrionário. O trabalho é feito em parceria com as universidades federais de Santa Catarina e do Rio Grande do Norte e consome parte do orçamento anual, de R$ 1,7 bilhão, do centro.
Os americanos, no entanto, estão mais otimistas. A californiana Solazyme, por exemplo, garante que até 2012 colocará no mercado um óleo vendido ao preço de US$ 40 a US$ 80 o barril. A arquirrival Sapphire Energy, que abasteceu a aeronave da Continental Airlines, promete para 2014 a comercialização de seu biodiesel de alga por US$ 60 o barril, em valores de hoje. Ela é bancada pela família Rockefeller e pelo dono da Microsoft.
Mesmo que o insumo chegue ao mercado por esses valores, será preciso um forte lobby para que o combustível não restrinja seu raio de ação aos automóveis de ecologistas de carteirinha. As duas empresas, porém, pretendem mostrar que a microalga pode representar a independência energética do país, sem que para isso seja necessário usar terras destinadas à produção de alimentos. Afinal, para produzir o combustível basta depositar as microalgas em tanques e submetê-las à luz do sol.
ÓLEO CULTIVÁVEL: a produção começa com a seleção das algas, cultivadas
em estufas dentro de laboratórios, como o da Solazyme (na foto acima)
ROSENILDO GOMES FERREIRA