O Ceará, se tivesse que suprir sozinho sua capacidade instalada para a produção de biodiesel, ainda estaria longe de ser auto-suficiente. O programa da nova fonte de energia avança e, já a partir do ano que vem, duas usinas beneficiadoras do combustível devem estar em funcionamento, com capacidade de produção conjunta de 168 mil toneladas do biodiesel.
Entretanto, segundo o coordenador do Programa de Biodiesel estadual, Walmir Severo, para suprir essas usinas, o Estado precisaria ter, no mínimo, 300 mil hectares plantados, no caso da utilização da mamona Mas, na prática, só existem hoje 10,6 mil hectares — ou seja, apenas 3% do necessário.
O desafio está sendo, segundo ele, lançado ao Governo do Estado e aos empresários da agropecuária. Mas Severo se mostra otimista, afirmando que o Ceará não tem a obrigação de suprir, sozinho, toda essa capacidade. ´Essas usinas não atendem somente ao Estado, mas ao Nordeste inteiro´, esclarece.
Severo informa que deverão ser investidos, no Ceará, R$ 21,54 milhões no Programa do Biodiesel para o ano que vem, sendo R$ 18 milhões do Governo do Estado e o restante da Petrobras. A expectativa, aponta, é que se chegue a 55 mil hectares plantados de oleaginosas em terreno cearense até o fim de 2008. Para isso, será investido na cultura do girassol, ainda inexistente aqui.
´Acredito que o girassol é a grande alternativa. No Cariri, por exemplo, o agricultor pode consorciar o girassol com a cultura do milho e ter bons resultados´. De acordo com estimativa do Programa de Biodiesel, o Ceará deverá contar com 5 mil hectares plantados de girassol em 2008, ficando o restante com a mamona. Atualmente, 97 municípios foram zoneados pelo programa e oito já trabalhados com oleaginosas em 2007. A meta é alcançar 130 municípios em 2008, com 27.500 agricultores familiares.
A cultura da mamona já existia no Ceará, mas, com o tempo, foi se perdendo. A tentativa do governo, agora, é recuperar este plantio. ´O Ceará tem condições de ser um dos estados a ajudar a mudar a matriz energética do país, e é preciso investir nisso´, destaca o vice-governador do Estado, Francisco Pinheiro. Para Walmir Severo, a cultura da mamona deve ser incentivada, acima de tudo, por permitir uma diversificação da agricultura do pequeno produtor. ´A mamona é oportunidade no verão, quando o milho e o feijão não dão´, destaca.
Política de preços
Para incentivar a produção de oleaginosas, o governo garante, desde março deste ano, uma política de preços em que o quilograma da mamona não possa ser comercializado por um preço abaixo de R$ 0,70 e o de girassol não fique por menos de R$ 0,50. As duas oleaginosas possuem 100% de subsídio pelo governo, enquanto que o calcário e o ácido bárico utilizados no solo têm subsídios de 50%.
Outra iniciativa é o repasse ao pequeno agricultor, a fundo perdido, de R$ 150,00 por hectare plantado de oleaginosas, quando a propriedade possui no máximo três hectares. Também há a formação do Fundo de Capital de Giro, que destinará R$ 200,00 por família para apoiar organizações que trabalham com essa população.
EM QUIXADÁ
Projeto da Petrobras deve estar pronto até junho de 2008A usina de produção de biodiesel da Petrobras no Ceará, instalada no município de Quixadá, deve ter sua construção terminada já no primeiro trimestre de 2008, após um investimento de R$ 76 milhões. A capacidade de produção da usina será de 50 mil toneladas/ano de biodiesel.
´A usina vai precisar de matéria-prima, e o produtor já pode se organizar para produzir´, ressalta o gerente da fábrica, João Augusto Paiva. O empreendimento é considerado de médio porte e irá atender à produção nordestina, juntamente com a outra usina da estatal instalada na Bahia.
No Ceará, além desta, está localizada em Crateús a usina da Brasil Ecodiesel, com capacidade de produção de 118 mil toneladas de óleo, já operando desde janeiro deste ano.
Pensando nesta crescente demanda, o prefeito do município de Itapipoca, João Barroso, resolveu construir uma mini usina de esmagamento de mamona. A previsão é que esteja pronta no segundo semestre de 2008 para atender a região e terá capacidade de produzir até 8 mil litros de óleo por dia.
Para atender a instalação, será preciso três mil hectares de produção da oleaginosa. ´A potencialidade da região para essa produção é grande e agora vai aumentar, porque o produtor vai ter garantia de retorno´, afirma. Os investimentos para a instalação dos equipamentos são de R$ 500 mil, com recursos federais. Com o valor do terreno e a instalação do galpão, que ficaram a cargo da Prefeitura, o valor final é de cerca de R$ 800 mil.
Sérgio de Sousa
Especial para Economia