Representante de um setor que ainda enfrenta diversos desafios para se consolidar, apesar do enorme potencial disponível, a Brasil Ecodiesel apresenta seus resultados financeiros do quarto trimestre de 2008 e do fechado do ano na próxima segunda-feira (30/03).
Na visão de analistas e consultores do setor, no entanto, os números não devem ser favoráveis. Os altos preços das matérias-primas, o elevado nível de endividamento e a falta de estímulos à produção de biodiesel são alguns dos principais fatores mencionados como responsáveis pelo desempenho desfavorável da Brasil Ecodiesel.
A situação da companhia pode ser ainda mais delicada se forem considerados os cancelamentos de leilões da ANP - Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - em 2008. Para a equipe de pesquisa da SLW Corretora, a expectativa é de um resultado fraco, com prejuízos, em função do alto endividamento acumulado. "A demanda ficou muito aquém da esperada em 2008, mas a empresa teve sua situação agravada pelo não cumprimento dos compromissos de leilões e pelos atrasos na entrega do produto", destaca a equipe de pesquisa.
Com os efeitos da crise econômica mundial, a falta de crédito à indústria e a alta dos preços das matérias-primas, a Brasil Ecodiesel também enfrentou períodos de dificuldade para conseguir operar suas indústrias em plena capacidade. Os analistas da SLW lembram que, durante muito tempo, a empresa ficou totalmente dependente da soja, matéria-prima que vem registrando preços altíssimos por um longo período. "No terceiro trimestre de 2008, a empresa já havia apresentado resultados negativos por conta do uso da soja. Assim, mesmo com o aumento da produção por conta da adoção do B3 [mistura de 3% de biodiesel ao diesel mineral] em julho do ano passado, a empresa teve prejuízo."
O analista da Planner Corretora, Peter Ping Ho, estima que a perspectiva para os negócios da empresa neste ano não sejam positivas em função do alto nível de endividamento e dos estoques com preços elevados, resultado dos altos preços da matéria-prima. "A companhia vem renegociando e prolongando as dívidas, mas não deve apresentar lucro ainda neste ano. Acredito em uma recuperação da situação financeira em longo prazo", diz.
Para os analistas da SLW, a recuperação do mercado de biodiesel pode acontecer junto com a do setor sucroalcooleiro, com a retomada da demanda por diesel. "O setor ainda está engatinhando e precisa de investimentos mais fortes, atraindo inclusive o investidor privado. Mesmo com o aumento da mistura ao diesel, ainda há poucos investimentos e dificuldade de acesso às linhas de crédito", acrescentam.
Uma notícia que anima os representantes do setor, no entanto, é a possibilidade de aumento da mistura de biodiesel ao diesel mineral. Segundo a ANP, o Brasil pode adotar a mistura de 4% (B4) a partir de abril. Técnicos da ANP constataram que existe um excedente de produção de biodiesel para o qual não há demanda. Com isso, no dia 6 de março deste ano, o ministro de Minas e Energia anunciou que a adoção do B4 está prevista para meados de 2009 e que a introdução do B5 pode ser antecipada de 2013 para 2010.