A Royal Dutch Shell, a maior comerciante mundial de biocombustíveis, considera "moralmente inadequado" o uso de produtos agrícolas que podem servir para alimentação na fabricação de combustíveis renováveis enquanto ainda existem pessoas passando fome no mundo, afirmou um executivo na quinta-feira.
Eric G. Holthusen, gerente de Tecnologia de Combustíveis para Ásia e Pacífico, afirmou que a unidade de pesquisa da companhia, a Shell Global Solutions, tem desenvolvido combustíveis alternativos a partir de fontes renováveis que utilizam como matéria-prima lascas de madeira e resíduos vegetais, em vez de produtos alimentícios.
Holthusen afirmou que a participação da companhia no mercado de biocombustíveis extraídos de alimentos tem sido guiada por questões econômicas ou legais.
- Se nós tivéssemos alternativa hoje, nós não seguiríamos essa direção - declarou Holthusen, em um seminário em Cingapura.
E acrescentou:
- Nós achamos que é moralmente inadequado porque o que nós estamos fazendo aqui é usar alimento, transformando isso em combustível. Se você olhar para a África, ainda há falta de comida, pessoas passando fome, e pelo fato de sermos mais ricos nós usamos comida para fabricar combustível. Isso não é o que eu gostaria de ver. Mas às vezes o mercado força você a fazer isso.
Os principais biocombustíveis vendidos comercialmente no mundo são o etanol e o biodiesel.
O etanol, utilizado principalmente nos Estados Unidos e no Brasil, tem como matéria-prima a cana-de-açúcar e a beterraba, além de grãos como milho e trigo.
O biodiesel, usado na Europa, é fabricado no continente predominantemente a partir de oleaginosas, colza, e também pode ser produzido com palma e coco.
Holthusen disse que a Shell tem trabalhado em alternativas para produtos alimentícios, mas ele não revelou quando o biocombustível produzido a partir de tais matérias-primas estaria comercialmente disponível.
- Nós não descansamos. Estamos fazendo o que todo mundo precisa fazer. Nós estamos trabalhando todo o tempo em alternativas, para deixar de usar alimentos, e isso é o que chamamos uma segunda geração de biocombustíveis - disse.
Ele afirmou que a Shell, em parceria com empresa canadense de biotecnologia Iogen Corp., desenvolveu o "álcool de celulose", que é fabricado com lascas de madeira e porções de palha de cereais que já não servem como alimento. Esse biocombustível, segundo ele, pode ser misturado à gasolina.