As propostas destinadas a reduzir as metas da União Européia de emprego de biocombustíveis ameaçam os investimentos no setor, disse a Associação Européia de Bioetanol.
O Reino Unido vai desacelerar a expansão dos biocombustíveis para aprofundar os estudos sobre seu impacto ambiental e sobre os alimentos. A comissão de meio ambiente do Parlamento Europeu disse ontem que a meta para o emprego dos combustíveis renováveis no transporte deverá ser de 4 por cento até 2015 e de 8 a 10 por cento até 2020. A Comissão Européia tinha proposto como objetivo uma parcela de 10 por cento até 2020.
"Poderemos ter menos investimentos", disse Robert Vierhout, secretário-geral da Associação Européia de Bioetanol, em entrevista concedida hoje por telefone a partir de Praga. "É por isso que a Comissão não queria nenhuma meta intermediária antes de 2020, porque os investidores têm de ter condições regulatórias estáveis".""
O setor europeu de biocombustíveis já encontra dificuldades em manter as margens depois que os preços do trigo, o principal cereal empregado na produção de etanol na Europa, mais do que duplicaram no intervalo de dois anos. Os produtores, além disso, estão competindo com o etanol mais barato importado do Brasil e dos Estados Unidos, que respondem por cerca de um terço do mercado europeu.
`"As margens estão sendo comprimidas", disse Vierhout. ``Os produtores de biodiesel enfrentam problemas diante o enorme afluxo de combustível norte-americano", acrescentou.
A expansão da produção européia de etanol já estava em desaceleração antes dos anúncios. A produção subiu 11 por cento, para 1,77 bilhão de litros, no ano passado, comparativamente ao crescimento de 74 por cento observado em 2006 e de 73 por cento em 2005. Ela caiu em sete dos 13 países-membros da UE fabricantes de etanol, segundo a Associação Européia de Bioetanol, sediada em Bruxelas.
Os biocombustíveis conhecidos como de primeira geração são normalmente produzidos a partir de plantas alimentícias, como milho e cana-de-açúcar, enquanto a segunda geração provém da biomassa, como aparas de madeira e gramíneas.
"Tentamos levantar recursos para duas empresas de biocombustíveis este ano, sem sucesso", disse Dougie Yougson, analista da Ambrian Partners Ltd. de Londres."``Esse é em boa medida um problema da primeira geração. As empresas de biocombustíveis de segunda geração estão se saindo muito melhor".
O Reino Unido pretendia que 5 por cento dos combustíveis vendidos nos postos consistisse de biocombustíveis até 2010, para uma taxa de crescimento anual de 1,25 por cento. A ministra dos Transportes do país, Ruth Kelly, disse ontem aos parlamentares que o ritmo deveria desacelerar para aumentos anuais de 0,5 por cento. Ela reagia a um relatório encomendado pelo governo sobre os efeitos causados pela destinação da terra ao cultivo de produtos agrícolas para fins energéticos, em vez de para fins alimentícios.
Grãos brasileiros
Um consórcio português está se preparando para construir a maior usina de biodiesel do país, com 90 por cento da matéria-prima, principalmente soja e girassol, proveniente de Brasil, Angola e Moçambique. A refinaria deve entrar em operação em 2010 e terá uma capacidade anual de 250 mil toneladas, de acordo com um acionista.
Pedro Sampaio Nunes disse que o restante da matéria-prima utilizada virá de Portugal, e pode ser soja, colza e palma. "O investimento será de cerca de € 100 milhões".