Biodiesel

Na disputa mundial por novas fontes renováveis de energia, a corrida em direção à América do Sul mostra que, no mapa do tesouro, o Brasil está na linha de chegada. A busca é pela matéria-prima, espécie de ouro verde, capaz de produzir em quantidade um combustível limpo, que promete aliviar parte da dependência global do petróleo. A oleaginosa que vai responder melhor a esta demanda ainda é uma aposta em aberto. O Brasil tenta emplacar o álcool como produto internacional, enquanto caminha devagar no cultivo em escala de sementes como a mamona, palma ou pinhão-manso. O resultado científico da viabilidade econômica de espécies promissoras ainda é esperado, mas o capital estrangeiro não aguarda pelo sinal verde. Chega por aqui disposto a adquirir grandes extensões de terra, pagando para ver, numa caça ao tesouro. Minas Gerais está entre as regiões preferidas e a intenção é uma só: investir no combustível do futuro, de forma a atingir a produção em grande escala.

Europeus, americanos e até vizinhos da América do Sul já começaram sua produção. Mas o Brasil, e muito menos Minas, vai ficar com a riqueza. Lembrando o século 18, o ouro verde sai do país em sua forma bruta. Em países estrangeiros, é transformado em biodiesel, ganha valor e está pronto para ser negociado conforme cotação internacional das bolsas de Rotterdam e Chicago. Ao pedir investimentos estrangeiros para financiar a produção de biodiesel na América Central e na África, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a despertar o interesse mundial. 

O economista japonês radicado no Norte de Minas Nagashi Tominaga foi o primeiro no Brasil a investir comercialmente na cultura do pinhão-manso. Ele está impressionado com a disposição e agilidade européia. Em Janaúba, Tominaga dirige a Biojan-MG Agroindustrial, uma empresa em parceria com o grupo espanhol CIE Automotive, que no Brasil é controlado pela Bioauto Participações (Biopar). São 105 hectares plantados de pinhão-manso para a comercialização de sementes. A intenção é crescer rapidamente, expandindo a área para 25 mil hectares nos próximos três anos. Estão previstas também unidades próprias de extração, capazes de esmagar a semente obtendo 30 mil toneladas de óleo/ano. “Todo o óleo será exportado”, diz Tominaga.

Já a empresa Plant. A. Bio trabalha em Minas com capital argentino e europeu no cultivo de oleaginosas. De acordo com Luciano Murta, coordenador de projetos, investidores ingleses querem cultivar 150 mil hectares – e holandeses têm expectativas para 60 mil hectares. A Região de Araçuaí, no Norte do estado, é uma das escolhidas.

Quando financiam a produção nacional, os estrangeiros se associam a empresas brasileiras capazes de organizar e administrar o investimento. “O Brasil tem terra, água e sol. O problema é ficarmos condenados a produzir matéria-prima de baixo valor agregado, utilizada no exterior para o desenvolvimento de inteligência, que certamente nos será vendida por um alto preço”, analisa Eduardo Neri, diretor da Energy Choice, especializada em desenvolvimento sustentável.

FAMILIAR
O investimento total em biodiesel no Brasil é inferior a R$ 2 bilhões, bem menos que os US$ 33 bilhões estimados para o etanol no período 2008-2012. O custo menor da produção de óleo e a possibilidade de trabalhar com a agricultura familiar atraiu o interesse de empresas como a Refinaria Nacional de Petróleo Vegetal. Localizada em Barbacena, na Região Central de Minas, o empreendimento conta com apoio financeiro italiano. O embarque para a Europa começa em junho do ano que vem. Serão 2,5 mil toneladas/mês.

O Instituto Volta ao Campo (IVC), em Uberlândia, coordena plantio do pinhão-manso com agricultores familiares na região do Triângulo Mineiro. O apoio financeiro é da suíça Global Agriculture Reserch (GAR). O plano é saltar de 80 para 40 mil hectares em cinco anos. “Há interesse também no cultivo da mamona. A empresa só investe em culturas que não competem com a produção de alimentos”, diz o consultor do IVC, José Soares de Aquino.

Marinella Castro

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