Os leilões de aquisição de biodiesel realizado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) têm registrado uma tendência curiosa nos últimos meses. A agência é responsável por definir o valor máximo que as usinas podem cobrar pelo seu biodiesel e o deságio dos leilões leva em consideração esse preço para ser calculado.
Do 16º leilão, realizado em novembro de 2009 até o 18º, que acontece esta semana, o preço máximo estipulado pela agência teve uma oscilação discreta de 0,92%. A cotação do óleo de soja, no entanto, não seguiu a mesma lógica. De novembro de 2009 a maio de 2010, o preço recuou 14,15%, principalmente por conta da expectativa de safra recorde e o desaquecimento das exportações.
A ANP, no entanto, não embarcou no ritmo de queda do preço da soja. Para o 16º leilão, em novembro de 2009, o preço máximo estipulado foi de R$ 2,35. No 17º leilão a agência reduziu esse preço para R$ 2,30 (redução de 2,37%), enquanto o óleo apresentou uma queda de 11,41%. Já de março deste ano (quando a ANP definiu o preço do leilão 17) para abril, a situação ficou mais curiosa, o óleo de soja recuou 9,02%, mas a ANP elevou o preço máximo de 0,87%, de R$ 2,30 para R$ 2,32. A ANP não revela o cálculo que faz para chegar ao valor.
A expectativa de preço da soja para os próximos meses não é de alta. Para o consultor da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro, a tendência é que os preços percam a sustentação que apresentaram nas últimas semanas. “Já colhemos a safra. A tendência é o mercado esfriar”, aponta. O comportamento da cotação da soja, explica, vai depender do clima nos EUA, que começa a plantar agora.
A queda no preço da soja também não inspirou uma disputa maior de preços no leilão. Nas três últimas negociações realizadas pela ANP, o deságio médio foi de 1,74%. Um recuo pequeno se comparado ao do 13º leilão, que foi de 8,72%. O preço da soja deveria ter um impacto grande no preço do biodiesel uma vez que é dessa matéria-prima que é feito 80% do combustível brasileiro e ainda o custo da matéria-prima representa cerca de 80% do preço final do biodiesel.
A reportagem da BiodieselBR.com solicitou à ANP explicações sobre o cálculo do preço máximo e a relação deste com a cotação da soja, mas até o fechamento desta reportagem não foi enviada nenhuma resposta.
Atualização 25/05 - 11:35:
Para ANP preço da soja deve subir nos próximos meses
Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP) a tendência para o próximo trimestre é de aumento no preço da soja, por isso o acréscimo no preço máximo do leilão. "O ligeiro acréscimo fundamenta-se na sazonalidade dos preços da principal matéria-prima, a soja. O 18º leilão tem entrega prevista para o terceiro trimestre, período de entressafra da soja no Brasil, quando os preços tendem a se elevar", justifica a agência. No entanto, considerando esta sazonalidade, no mesmo período do ano passado a situação não foi a mesma. O preço do óleo de soja estava 13,71% mais elevado e o preço máximo do leilão no período foi fixado apenas 3 centavos acima do preço do leilão desta quinta-feira.
A agência também informou que "o cálculo do preço máximo de referência do biodiesel no Leilão ANP tem como base os custos das principais matérias-primas, custos industriais e financeiros e impostos. Também compõem a base de custos cotações de contratos futuros, de modo a incorporar a sinalização do comportamento futuro dos custos". Mas não revela qual seria esse cálculo, nem qual o peso de cada item na composição do preço.
Fonte: Abiove, ANP
Rosiane Correia de Freitas - BiodieselBR.com