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Negócio

Petróleo caminha para superar soja e liderar exportações do país


Valor Econômico - 09 mai 2024 - 11:02

Com a indústria extrativa responsável por um quarto da exportação brasileira, o petróleo ganha cada vez mais destaque e caminha para ser o principal produto da pauta de exportação brasileira de 2024. O desempenho da commodity ajudou na receita recorde de embarques para o período de janeiro a abril. A diferença do petróleo para a soja, que está no topo do ranking do período, é apenas de US$ 300 milhões. Os embarques totais seguem puxados por volumes, o que compensa a queda de preços, dinamismo semelhante ao do total das importações.

A balança comercial registrou superávit de US$ 9,04 bilhões em abril, segundo dados divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic). No acumulado do ano, o superávit alcançou US$ 27,74 bilhões. As exportações somaram US$ 108,9 bilhões, alta de 5,7%. Já as importações cresceram 2,2% e alcançaram US$ 81,1 bilhões.

Puxada por petróleo bruto e minério de ferro, a participação da indústria extrativa na exportação total brasileira avançou de 21,7% para 25,8% de janeiro a abril de 2023 para igual período deste ano.

As duas commodities tiveram alta na receita de exportação em nível acima da média dos embarques totais. O valor embarcado de petróleo e de minério de ferro cresceu, respectivamente, 29,3% e 24,8% de janeiro a abril contra iguais meses de 2023. No mesmo período, a exportação total do país aumentou em 5,7%

Herlon Brandão, diretor de Estatísticas e Estudos de Comércio Exterior do Mdic, afirmou que o “petróleo tem sido o grande destaque” das exportações nos quatro primeiros meses deste ano.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o petróleo caminha para ser o principal produto da pauta de exportação brasileira em 2024. Os dados da Secex mostram ainda que, apesar da queda de 3% nos preços, o aumento de receita com petróleo foi garantido por volume de embarque, que cresceu 33,4%, sempre de janeiro a abril deste ano contra iguais meses do ano passado.

“Mantendo o ritmo atual, mesmo que não haja aumento de preços, o petróleo se tornará o principal produto exportado pelo Brasil em 2024”, diz Castro. A soja, explica, está à frente atualmente, mas a exportação do grão tem grande sazonalidade e deverá cair a partir de setembro. Além disso, diz ele, há neste momento antecipação de embarques, o que tem trazido bom desempenho de volume da soja nas vendas externas, mas a safra do grão em 2024 não será tão grande quanto a do ano passado.

No agregado das exportações o bom desempenho dos volumes, que cresceram 10,6% de janeiro a abril, continuam compesando os preços, que caíram 4,2%, sempre na comparação com igual meses de 2023. Nas importações houve dinâmica semelhante, com aumento de 12,6% na quantidade e queda de 9,9% nos preços.

Lucas Barbosa, economista da AZ Quest, diz que a dinâmica da balança segue “robusta”, com exportação que se mantém ao redor de US$ 345 bilhões no acumulado de 12 meses. As importações, que vinham em queda, diz Barbosa, parecem ter se estabilizado em patamar próximo de US$ 240 bilhões em 12 meses, com dinâmica mais heterogênea entre os setores e sinais de que podem acelerar. isso, destaca, já pode ser observado em itens industriais e de bens de capital, o que pode refletir as políticas do governo de estímulo à atualização do parque industrial e está em consonância com a perspectiva de crescimento da economia mais disseminado em 2024.

Segundo dados da Secex, considerando a importação por categorias econômicas, o aumento de volume nas compras externas foi puxado por bens de capital, com alta de 19,6%, e por bens de consumo, que cresceram 20,4%.

Nas relações bilaterais, chamam a atenção as trocas com a Argentina. Depois de um superávit de apenas US$ 75,5 milhões de janeiro a março, a balança comercial do Brasil com a Argentina virou o sinal no acumulado do até abril, com déficit de US$ 40,3 milhões.

O resultado não surpreende, diz Castro, da AEB. “Os argentinos reduzem as importações em busca de melhor saldo comercial não somente pela falta de divisas mas também para mostrar alguma medida que possa melhorar as condições do setor externo. Isso afeta as exportações brasileiras.” Os dados da Secex mostram que houve queda de 29,9% no valor embarcado pelo Brasil aos argentinos de janeiro a abril deste ano contra iguais meses de 2023. As importações cresceram 2,9%.

Questionado sobre os efeitos na balança do desastre ambiental no Rio Grande do Sul, Brandão disse que o Estado é atualmente o sexto maior exportador e também o sexto maior importador do Brasil. Entre os itens mais vendidos, estão soja, tabaco e carne bovina, além de produtos industrializados, como calçados, polímeros plásticos e máquinas agrícolas. O impacto das enchentes sobre as vendas de soja é “ainda é incerto”, disse.

Estevão Taiar e Marta Watanabe – Valor Econômico