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Soja

Com demanda para biodiesel, mercado interno deve elevar influência no preço da soja


Globo Rural - 07 mar 2024 - 09:25

O preço da soja deve ter uma influência um pouco maior do mercado interno nos próximos meses. Consequência da elevação de 12% (B12) para 14% (B14) da mistura de biodiesel no diesel, que entrou em vigor no dia primeiro de março. A avaliação é de Matheus Pereira, consultor e diretor da Pátria Agronegócios. Ele avalia que há espaço para recuperação das cotações da oleaginosa o Brasil, que se desvalorizaram, sob influência, principalmente, da queda do grão na Bolsa de Chicago.

“É uma maneira de dar uso para a capacidade produtiva que o Brasil tem. É algo que pode criar sustentação. Quanto mais se adiciona procura, aumentando o uso da soja para biocombustível, damos mais uma opção à base produtiva, que tem sofrido com escassez de compradores”, analisa.

Desde o início do ano, o preço da soja no mercado interno vem em tendência de queda, acompanhando a retração das cotações internacionais. Neste ano, a commodity se desvalorizou 11,48%, de acordo com levantamento do Valor Data, com base no contrato de segunda posição (atualmente, maio de 2024). A baixa acumulada nos últimos 12 meses até a terça-feira (5/3), é de 24,35%.

“O mercado sangrou muito, tanto por parte de Chicago como também nos prêmios, nos últimos 60 dias, mas o pior já está para trás”, diz Pereira.

A cadeia produtiva do biodiesel estima que o aumento da mistura demandará 8,9 bilhões de litros do biocombustível em 2024, 21,92% a mais que em 2023 (7,3 bilhões de litros). A soja é matéria-prima para quase 70% da produção nacional. Nas contas da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), a demanda por óleo de soja deve chegar a 5,8 bilhões de litros, 20,83% a mais que em 2023 (4,8 bilhões).

O setor comemorou a decisão anunciada em dezembro do ano passado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). A mudança para o B14, no entanto, veio em um momento de incertezas na produção justamente da principal matéria-prima para o combustível renovável.

A consultoria StoneX calcula a demanda de soja para processamento pelas indústrias deve aumentar 28% neste ano, para 36,6 milhões de toneladas. Isso em meio a problemas climáticos em diversas regiões do Brasil, que vêm frustrando expectativas para safra de soja. A situação se reflete nos números oficiais e do setor privado.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu último relatório de safra, em fevereiro, estimou uma produção de 149,4 milhões de toneladas. As projeções iniciais apontavam para uma colheita superior a 160 milhões.

A Abiove, que representa a indústria de soja, reduziu sua estimativa para a safra brasileira do grão 2023/24, que está com a colheita em andamento no país. Mas manteve a expectativa de demanda para esmagamento. Com a quebra de produção, parte da oleaginosa que seria exportada tende a migrar para o mercado interno.

A entidade revisou a produção esperada de soja de 156,1 milhões para 153,8 milhões de toneladas. Por outro lado, elevou os estoques iniciais estimados para a atual temporada, de 4,3 milhões para 4,6 milhões. A safra 2023/24 deve terminar com estoques de soja em 3,9 milhões de toneladas. A previsão anterior era de 5,6 milhões.

A indústria de soja deve processar neste ano 54,5 milhões de toneladas da oleaginosa. O número é igual ao da previsão anterior. Como a safra deve ser menor que a anterior, por causa dos problemas climáticos, a Abiove diminuiu a sua expectativa de exportação de soja em grão, de 98,1 milhões para 97,8 milhões de toneladas.

Matheus Pereira, da Pátria Agronegócios, prevê uma produção ainda menor, de 143,18 milhões de toneladas de soja, em função, principalmente, das perdas de produtividade na região Centro-oeste. Na avaliação do consultor, o mercado da oleaginosa começa a ficar mais ciente do tamanho da quebra da safra brasileira e de suas consequências sobre o quadro de oferta e demanda.

“Cabem novos cortes de estimativas da safra brasileira. Houve redução de produtividade, principalmente no Estado de Mato Grosso. E as culturas tardias estão sofrendo pressão de pragas e focos de ferrugem. Há problemas no radar”, alerta.

Neste cenário, diz ele, a expectativa é de um mercado mais “lateralizado”, ao menos nas próximas semanas, à espera de uma melhor definição das condições de safra do Brasil. Mas a tendência é de elevação nos preços, levando-se em conta que as previsões já apontam para um volume de colheita distante dos recordes previstos inicialmente.

Em algumas regiões, as cotações já ensaiam alguma alta. No Paraná, o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) subiu 2,04% nos primeiros dias de março. Na terça-feira (5/3), ficou em R$ 112,96 a saca de 60 quilos. A referência com base no corredor de exportação de Paranaguá aumentou 2,1% no período, ficando em R$ 117,88 na terça-feira.

Raphael Salomão – Globo Rural