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Soja

Avanço da colheita de soja no país revela efeitos do clima adverso e da ferrugem


Globo Rural - 11 mar 2024 - 10:49 - Última atualização em: 21 mar 2024 - 08:55

A colheita de soja da safra 2023/24 avança no país e mostra perdas de produtividade devido a problemas climáticos no fim do ano passado, sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Sul. As perdas parecem ter estancado no Centro-Oeste recentemente com o clima mais favorável. No Sul, no entanto, o avanço da ferrugem asiática ainda pode causar prejuízos.

A Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil) prevê uma produção de 135 milhões de toneladas no país, ou menos, segundo Antonio Galvan, presidente da entidade. No ciclo 2022/23, a colheita alcançou 154,6 milhões de toneladas. “Os relatos que temos é de uma quebra maior do que a estimada em fevereiro pela Conab [Companhia Nacional de Abastecimento]”, diz Galvan. A última previsão da Conab é de 149,5 milhões de toneladas. O próximo levantamento sairá nesta terça-feira (12).

Em Mato Grosso, diferentemente dos péssimos rendimentos observados nas primeiras áreas colhidas, em dezembro de 2023, a produtividade dá sinais de estabilização neste momento em que a colheita atinge 90,42% da área, segundo Cleiton Gauer, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). “O rendimento melhorou, mas ainda está muito distante daquele observado na temporada passada, quando tivemos ótimos resultados”, afirma Gauer.

O Imea manteve a estimativa de produtividade em 52,81 sacas por hectare — na safra passada, foram 62,30 sacas por hectare. “A colheita deve se estender por mais um mês no Estado. É preciso aguardar o fim dos trabalhos para chegar a uma média consolidada”, diz.

No grupo Bom Futuro, a colheita da soja atingiu 90% da área, com produtividade entre 55 e 56 sacas por hectare, mas que poderia ser um resultado melhor, segundo José Vengrus Filho, diretor de mecanização da Bom Futuro.

Nosso investimento foi feito para chegar pelo menos na nossa média, de 70 sacas por hectare, mas tivemos a atuação do clima como nunca visto antes, com temperaturas acima da média e um calor de 40º C por vários dias consecutivos na época do plantio

No Matopiba, o impacto do clima foi variado. As lavouras de soja do Maranhão estão com aspectos muito diversos. Numa mesma fazenda, é possível ver pés verdes e robustos em alguns talhões, enquanto, em outros, as plantas estão pequenas e com vagens espaçadas, diz José Carlos Oliveira de Paula, presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja-MA). A expectativa dele é que a safra fique 10% a 12% abaixo do previsto inicialmente, em 3,6 milhões de toneladas.

As piores estiagens no Maranhão ocorreram no leste e sul do Estado. Já o nordeste do Estado teve bons índices pluviométricos, que devem garantir uma produtividade em linha com a de 2022/23.

Em São Raimundo das Mangabeiras, onde a BrasilAgro cultiva 25 mil hectares de soja, as lavouras estão bonitas e prestes a serem colhidas. “Aqui a área é uma mesa, uniforme e sem parte ruim para o cultivo”, diz Gustavo Javier Lopez, diretor financeiro da BrasilAgro. Segundo André Guillaumon, CEO da companhia, alguns talhões precisaram ser replantados, mas a produtividade média deve repetir o desempenho do ciclo passado, com cerca de 60 sacas por hectare.

A SLC Agrícola, que tem 320 mil hectares de soja em sete Estados, informou que colheu 60% da área e a quebra média de safra é de 12%. “No Mato Grosso, tivemos quebras de até 50%. Mas vamos ter uma safra cheia na Bahia e no Maranhão”, disse Aurélio Pavinato, CEO da SLC ao Valor.

No Rio Grande do Sul, o clima úmido provocou o avanço da ferrugem asiática. “Pela agressividade da ferrugem, a quebra de safra deve levar a produção para 18 milhões de toneladas ou menos”, diz Galvan, da Aprosoja Brasil. Por ora, a Emater-RS projeta 22,3 milhões de toneladas, 71,5% a mais que no ciclo 2022/23, quando houve quebra da produção no Estado

“Houve atraso no plantio com o excesso de chuvas no fim de 2023, mas o clima se estabilizou. Agora depende dos tratamentos fitossanitários. Há mais incidência de ferrugem asiática por causa da umidade”, afirma Claudinei Baldissera, diretor técnico da Emater-RS. A colheita não chega a 1% no Estado.

O Paraná colheu até agora 64% da área de 5,8 milhões de hectares. Edmar Gervásio, do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento do Paraná, diz que o clima está favorável neste mês. Ainda assim, deve haver quebra de 16,4%, para 18,2 milhões de toneladas, após as ondas de calor no fim de 2023.

A Cocamar, que atua no Paraná, Mato Grosso do Sul e em São Paulo, informou que em 60% das áreas, houve queda de 30% na produtividade por causa das ondas de calor. “A produtividade dos cooperados está em torno de 40 sacas por hectare, quando a previsão inicial era atingir 60 sacas”, diz Rafael Furlanetto, gerente técnico da Cocamar. A pior situação foi no Vale do Paranapanema, onde a produtividade está em 16 a 18 sacas por hectare.

Cibelle Bouças, Paulo Santos e Fernanda Pressinott – Globo Rural