BiodieselBR.com - Conteúdo Patrocinado 10 out 2023 - 10:46

Salvar o planeta vai exigir um novo entendimento da economia. Um que não considere mais aceitável continuar despejando no planeta resíduos de todos os tipos. Primeiro porque o planeta não está mais dando conta de absorver os golpes. Mas também porque resíduo é algo que simplesmente não existe. O que existem são recursos que seriam perfeitamente úteis para um setor e que estão sendo desperdiçados por outro. Encontrar formas de amarrar essas duas pontas – fechar o loop – é a missão da ‘economia circular’ que tenta ir além da mera reciclagem e avançar na direção de um sistema econômico que permita recuperar os recursos ao longo de todo seu ciclo de vida.

Para compreender melhor como a empresa vem atuando nessa frente, BiodieselBR.com conversou com o gerente de projetos para Negócios na área de Químicos e Produtos de Performance, Rafael Viñas.

BiodieselBR.com – Um limitante para a expansão dos biocombustíveis e da bioeconomia em geral é disponibilidade de matérias-primas renováveis. Como a BASF atua para expandir a oferta?

Rafael Viñas – A BASF contribui para o aumento da disponibilidade de biomassas renováveis nas mais diversas cadeias. Por exemplo, aumentando a produtividade em cultivos como soja, milho, algodão e cana-de-açúcar que participam – ou que podem participar – da cadeia dos biocombustíveis. E, também, com tecnologias que permitem acessar outras fontes importantes de matérias-primas na pecuária.

BiodieselBR.com – Historicamente, a forma de aumentar a oferta de biomassa é abrindo novas terras o que se tornou problemático. Como podemos intensificar a produção de forma sustentável em áreas já abertas?

Rafael Viñas – Soluções que geram ganhos de produtividade ajudam a economizar recursos levando a resultados positivos não só para a pegada ambiental dos produtos como para os negócios como um todo. No contexto da pecuária, a BASF desenvolveu enzimas que garantem maior absorção de nutrientes. Além disso, temos glicinatos e microminerais que são essenciais para a vitalidade, saúde e bem-estar dos animais. Para os principais sistemas agrícolas temos soluções como sementes, proteção de cultivos e agricultura digital. Isso melhora a produtividade e a rentabilidade dos cultivos e criações. Tudo isso permite o aumento da oferta de biomassa sem o uso de terras adicionais.

BiodieselBR.com – Qual o peso desse segmento dentro do portfólio de inovação da BASF?

Rafael Viñas – O investimento global em pesquisa e desenvolvimento de nossa Divisão de Soluções para a Agricultura é de aproximadamente € 950 milhões por ano. Isso nos permite ter soluções integradas que auxiliem nossos clientes em todas as fases.

BiodieselBR.com – Outra solução possível para a oferta de matérias-primas para biocombustíveis vem do aproveitamento de fontes biomassa residuais. A BASF está envolvida nesse nicho específico?

Rafael Viñas – Temos soluções para o aproveitamento de biomassa como resíduos agrícolas, florestais e urbanos. Seja a partir de biomassa lignocelulósica cujo aproveitamento exige soluções de alta tecnologia, mas, também, em casos mais corriqueiros, como o aproveitamento do óleo de fritura usado. Ele é produzido em grandes quantidades por estabelecimentos comerciais e industriais que lidem com a fritura de alimentos e pode ser utilizado para produzir biodiesel por meio da transesterificação convencional.

BiodieselBR.com – Quando se fala em economia circular, o que vem à mente da maioria das pessoas é a reciclagem de materiais ‘artificiais’. Mas existe todo um lado menos divulgado que é o aproveitamento mais ‘racional’ de biomassas. Temos conseguido avançar para fechar o ‘loop’ nesse lado da questão?

Rafael Viñas – Realmente. O conceito de economia circular vai além da gestão de resíduos recicláveis. A ideia é usar os recursos da maneira mais eficiente e pelo maior tempo possível, minimizando seu descarte e recuperando os produtos e materiais ao longo de todo seu ciclo de vida. Isso exige mudanças. Não só da cadeia produtiva, mas, também, dos consumidores. E se aplica também às rotas biológicas que envolvem o uso de biomassas de origem vegetal ou animal.

BiodieselBR.com – Como no aproveitamento de resíduos lignocelulósicos e do óleo de cozinha na produção de biocombustíveis que falávamos há pouco?

Rafael Viñas – Isso. Para a energia também temos a produção de biogás, a partir de resíduos orgânicos como resíduos de alimentos, dejetos animais e resíduos florestais. Mas vai além. Também podemos produzir biofertilizantes e biomateriais para uma variedade de aplicações como, por exemplo, embalagens. No entanto, o pleno desenvolvimento das rotas biológicas para economia circular ainda enfrenta desafios. Seja pelo custo maior dos produtos e serviços gerados a partir de biomassa, pela disponibilidade da biomassa em si e pela necessidade de novas regulamentações. Viabilizar o potencial dessas rotas para um futuro mais sustentável ainda vai demandar esforços relevantes.

BiodieselBR.com – A circularidade também ajuda a desarmar a controvérsia entre a produção de biocombustíveis e de alimentos, não?

Rafael Viñas – Esse é um debate que não tem uma resposta fácil. Os biocombustíveis são de origem renovável. Logo, seu uso reduz as emissões de gases de efeito estufa e nossa dependência dos combustíveis fósseis. Além disso, trazem impactos sociais positivos pela geração de renda em regiões agrícolas e, também, são um ponto muito importante ao estimular a inovação tecnológica. No biodiesel temos o Selo Biocombustível Social que tem metas de aquisição de pequenos produtores. É importante quando os ganhos ambientais, sociais e econômicos caminham juntos porque isso ajuda que a biomassa seja produzida de forma responsável evitando impactos ambientais negativos como o desmatamento de florestas ou a poluição da água. A melhor abordagem varia de acordo com o contexto local e as condições específicas e deve ser dada pela regulação. Via de regra, contudo, as biomassas residuais não são usadas para fins alimentares, logo seu aproveitamento, associado ao manejo adequado das áreas agricultáveis, é uma forma de reduzir a disputa entre a produção de biocombustíveis e de alimentos.

BiodieselBR.com – De que forma a BASF, como uma grande empresa global, tem atuado para ‘fechar os loops’ dentro de suas próprias cadeias de produção?

Rafael Viñas – A BASF tem atuação forte nesse sentido. A empesa desenvolveu, por exemplo, o conceito de ‘Verbund’ que busca integrar todos os processos produtivos das suas fábricas; o subproduto de uma unidade serve como matéria-prima para outra. Com isso, conseguimos reduzir em 90% a geração de resíduos e ter maior eficiência no consumo de recursos e de energia. Aqui no Brasil, temos inúmeras iniciativas de circularidade prevendo o reuso de água, energias renováveis, zero aterro, entre outras...

BiodieselBR.com – Essas são iniciativas ‘da porteira pra dentro’, mas como vocês atuam da ‘porteira pra fora’?

Rafael Viñas – Envolvendo os clientes?

BiodieselBR.com – Exatamente

Rafael Viñas – Temos o Circulaí, um programa que foi criado pela área de negócios de ‘Materiais de Performance’ que produz plásticos de engenharia para fomentar o uso de materiais com conteúdo reciclado. Eles envolveram os clientes incentivando a rastreabilidade dos materiais e seu retorno para uso em aplicações de vida longa. Na linha de ingredientes para cosméticos uma das novidades é o bioativo Kerasylium que aproveita resíduos na produção de ingredientes nobres e o Nephoria que é um extrato natural das folhas do rambutan. Esse é um caso interessante, porque faz parte do Programa Rambutan que criamos em 2015 para garantir o cultivo e extração de ativo de forma ambientalmente responsável.

BiodieselBR.com – Tanto a intensificação da produção quanto o aproveitamento de biomassas residuais têm impactos positivos em termos de emissões de GEEs. Quanto seria possível avançar na descarbonização por essa rota?

Rafael Viñas – O potencial é significativo. Com os biocombustíveis a redução das emissões de CO2 poderia chegar a 70% até 2050. O dado é revelado pelo estudo Global Energy Transformation que foi publicado este ano e identifica opções para descarbonização da matriz energética global.

BiodieselBR.com – De que forma é possível estimular ações nessa direção?

Rafael Viñas – No Brasil, o RenovaBio é um exemplo importante ao estabelecer um sistema de metas ambiciosas de descarbonização que se conecta com incentivos econômicos para que os produtores adotem tecnologias mais eficientes. Os CBios têm sido uma importante ferramenta para impulsionar a indústria de biocombustíveis e contribuir para a diversificação da matriz energética do país, diminuindo a dependência dos combustíveis fósseis e aumentando a participação de fontes mais limpas.

BiodieselBR.com – Falando no RenovaBio, a BASF fechou parceria com uma fabricante de biodiesel para trocar CBios por insumos. A empresa continua apostando nesse tipo de oportunidade?

Rafael Viñas – Sim, a primeira operação foi em 2021 com a 3tentos. Foi uma parceria inédita e inovadora, em que os CBios funcionaram como ativo de troca. A operação mais recente acaba de ser realizada com a Olfar. Além de insumos agrícolas, a operação mais recente envolveu também o metilato de sódio. A aquisição deste tipo de matéria-prima com CBios é um processo pioneiro, resultado de um desenvolvimento conjunto entre Olfar e BASF.

BiodieselBR.com – A interface mais imediata entre a BASF e a indústria de biodiesel é o metilato de sódio. A produção da BASF em Guaratinguetá dá conta da expansão esperada para o biodiesel ou serão necessários investimentos?

Rafael Viñas – O investimento da BASF no aumento de produção da fábrica de metilato no complexo de Guaratinguetá, realizado em 2019, já tinha em vista a política de expansão do biodiesel e foi dimensionado para atender necessidades futuras do mercado. Somos um parceiro estratégico para os produtores de biodiesel, já que o metilato de sódio aumenta a produtividade e reduz o custo de preparação do combustível renovável

BiodieselBR.com – Há bastante entusiasmo em tornos dos biocombustíveis avançados. Especialmente o SAF. A BASF está presente nesse segmento também?

Rafael Viñas – O combustível sustentável de aviação ou, na sigla em inglês, SAF é um tipo de biocombustível avançado que é produzido a partir de biomassa não alimentar. O SAF é uma alternativa ao querosene de aviação. A BASF também está nesse segmento fornecendo catalisadores de hidrogenação usados na rota de produção de SAF mais comumente utilizada.

Fábio Rodrigues – BiodieselBR.com
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