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Energia

Sucroalcooleiras querem substituir o diesel por álcool em suas frotas


Gazeta Mercantil - 01 abr 2008 - 06:46 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:06

As empresas sucroalcooleiras do País querem usar o álcool em substituição total ou parcial ao diesel em suas frotas cativas de caminhões, máquinas agrícolas e em motores estacionários para irrigação dos canaviais.

Na última semana, durante o 10º. Seminário de Mecanização e Produção de Cana-de-açúcar, realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Agroindustrial (Idea), em Ribeirão Preto, representantes de usinas debateram amplamente o assunto com técnicos de montadoras de caminhões e de máquinas agrícolas, fabricantes de sistema de injeção e acadêmicos.

"A Scania sabe do interesse do setor em ter um motor diesel-etanol e continua trabalhando para desenvolvê-lo", disse Emílio Paulo Fontanello, engenheiro de vendas da Scania. Richardson Gouveia, da Case IH, revelou que "estamos em tratativas com um de nossos fornecedores de motores (Scania ou Cummins) para começar os testes de uma colhedora de cana com motor a etanol ainda nesta safra". Segundo o engenheiro Orlando Volpato Filho, da Delphi, o conceito do motor diesel movido a etanol existe há mais de 30 anos. "Mas, agora, com os novos motores diesel eletrônicos, para se usar álcool, é preciso ter um sistema de injeção eletrônica original e totalmente integrado, para que se tenha o controle completo de todas as variáveis do motor", disse Volpato.

"O setor necessita substituir parte do diesel pelo álcool para reduzir custos e ser mais competitivo no mercado", disse Jorge Luiz Negri, da área de mecanização da Usina Quatá, do município paulista de mesmo nome.

"Faz dez anos que usamos 10% de álcool anidro misturado ao diesel em dez caminhões da frota, que já rodaram mais de 1 milhão de quilômetros cada um, sem dar problema algum", disse por sua vez Maurílio de Oliveira Mello, gerente de frotas da Usina São Martinho, de Pradópolis (SP), uma das maiores do País. A economia pode ser grande para uma usina como a São Martinho, que consome 100 mil litros de diesel por dia durante a safra, já que o álcool dentro da usina custa menos de R$ 0,50 o litro, enquanto o diesel é comprado por R$ 1,60 a R$ 1,70 o litro. "Queríamos continuar os testes nos caminhões novos, equipados com motores eletrônicos, mas esses motores não aceitam a mistura de 10% de álcool anidro no diesel", pleiteou Mello, da São Martinho.

"Quanto mais o setor se externar e divulgar seus interesses, o fabricante vai ouvir e fazer o que pode", respondeu Fontanello, da Scania.

A substituição do diesel por etanol não é um assunto novo. Há dez anos, antes de se cogitar a mistura do biodiesel no diesel, o governo estudou implantar a mistura de álcool anidro no derivado do petróleo. Antes disso, na década de 1980, no auge do Proálcool, muitas usinas fizeram conversões caseiras de motores movidos originalmente a diesel e gasolina para álcool. E, à época, montadoras como Scania e Mercedes-Benz chegaram até mesmo a oferecer às usinas veículos novos com motores convertidos para o uso do álcool.

Mas a experiência foi passageira. "Como o consumo de álcool em caminhões era excessivo, o preço do petróleo caiu e o diesel era subsidiado naquela época, houve desinteresse na substituição do combustível, embora não houvesse dificuldade tecnológica para tanto", lembra Alfred Szwarc, consultor da União da Indústria Canavieira (Unica).

"Acho positivo e salutar esse movimento para buscar novos usos para o etanol, devido a questões ambientais e ao preço e oferta do álcool. O avião Ipanema da Embraer, movido a álcool, é uma prova de que há novos espaços para o álcool", disse Szwarc, ressalvando que o uso do álcool no diesel serviria para frotas cativas, especialmente das usinas."A experiência de conversão dos motores pode ter parado no Brasil, mas a Scania continuou suas pesquisas na Suécia, com foco na aplicação do álcool em motores para ônibus urbanos, devido a questões ambientais", afirmou Fontanello. Em 1989, a Scania iniciou a produção em série de motores diesel convertidos para álcool e, até agora, produziu 600 deles, que equipam ônibus que rodam na capital Estocolmo e em outras cidades suecas. "Em São Paulo, no corredor São Mateus - Jabaquara, um ônibus Scania roda desde novembro de 2007, movido a álcool (95%) com aditivos (5%)", contou Fontanello.

Ricardo Soares de Arruda Pinto, diretor do IDEA, estima que há mais de 100 mil motores nas usinas do País nos quais poderiam ser instalados kits de conversão para álcool. O professor Carlos Valois Maciel Braga, da PUC/RJ, já desenvolveu kits diesel-gás e tem um protótipo diesel convertido para álcool.

Edson Álvares da Costa