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Camera eleva aporte em industrializados


Valor Econômico - 03 dez 2010 - 07:15 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:15

De olho na ampliação das margens operacionais, a Camera Agroalimentos, uma das maiores processadoras e comercializadoras de soja do Rio Grande do Sul, decidiu elevar os produtos industrializados à condição de principal fonte de faturamento, à frente da venda de grãos e insumos. A estratégia inclui a expansão da fábrica de óleo bruto e refinado em Santa Rosa, concluída neste ano, e a recente aquisição de uma unidade de beneficiamento de arroz em São Borja, além do ingresso no segmento de biocombustíveis.

A usina de biodiesel da empresa foi inaugurada dia 11 de novembro, em Ijuí, e a capacidade instalada nominal inicial de 144 mil litros por ano já será ampliada em 60% no segundo semestre do ano que vem. "Passamos a fazer investimentos mais fortes na verticalização da cadeia (de grãos) para aumentar a participação do segmento industrial", explicou o diretor administrativo e financeiro, Fabio Magdaleno. No período de 2009 a 2011, a Camera vai investir R$ 75 milhões nesse processo.

De acordo com o executivo, a decisão foi tomada em 2005, quando os produtos industrializados correspondiam a apenas 15% do faturamento. Agora, o segmento já vai responder por 45% da receita bruta prevista de R$ 1,1 bilhão em 2010 e por 55% das vendas totais estimadas em R$ 1,45 bilhão para 2011. Ao mesmo tempo, a margem Ebitda, que mede a relação entre a geração de caixa e a receita líquida, partiu de cerca de 3% em 2005 e deve alcançar 5% em 2010 e 6% no ano que vem. As exportações diretas representam 10% das receitas.

Em 2009 e 2010, a Camera já investiu R$ 55 milhões na ampliação das operações industriais, sendo R$ 40 milhões na usina de biodiesel que opera com soja, canola, girassol e gordura animal. A empresa vendeu 12,75 milhões de litros no último leilão promovido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), para entrega no primeiro trimestre de 2011, e projeta um faturamento de R$ 200 milhões no segmento no ano que vem.

Camera RS

Segundo Magdaleno, a companhia decidiu ingressar no segmento de biocombustíveis porque domina praticamente toda a cadeia produtiva anterior, da aquisição dos grãos à produção do óleo bruto. Além de proporcionar margens mais generosas, a investida também pretende evitar que os 20 mil agricultores parceiros da empresa no Rio Grande do Sul sejam seduzidos a fornecer matéria-prima para concorrentes no mercado de biodiesel, explicou o diretor.

Neste ano, a Camera originou (adquiriu para industrialização e comercialização) 1,2 milhão de toneladas de soja, o equivalente a 11% da safra gaúcha do grão, e para 2011 a previsão é chegar a 1,35 milhão de toneladas, o que deverá significar mais de 14% da colheita do produto no Estado. No trigo, a participação deve subir de 17% para 21% da produção estadual no período e no milho, de 3% para 4%.

  • Magdaleno: Investimentos mais fortes na verticalização para ampliar a participação do segmento industrial na receita

    Foto: Jefferson Bernardes / Valor
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Outros R$ 10 milhões foram aplicados neste ano na fábrica de Santa Rosa, onde fica a sede da empresa, que teve a capacidade de produção de óleo de soja e canola ampliada em 50%, para 1,5 mil toneladas por dia, considerando o volume de grãos processados. Do total, 40% correspondem a produto refinado e o restante a óleo bruto, que antes era vendido para terceiros e agora será utilizado na fabricação de biodiesel.

Adquirida em 1999 da Olvebra, a unidade passou pela primeira grande ampliação (de 400 para 800 toneladas por dia) em 2005 e em 2007 começou também a fazer refino. Hoje a Camera produz 4 milhões de litros de óleo de soja refinado por mês e detém uma fatia de 40% do mercado gaúcho do produto, além de 5% em Santa Catarina. E, conforme Magdaleno, ainda há "muito espaço" para crescer na região Sul antes de partir para outros Estados do país.

Os R$ 5 milhões restantes investidos no período 2009/10 foram direcionados para tecnologia da informação e melhorias operacionais e logísticas. Para 2011 a Camera prevê aportes de mais R$ 20 milhões, sendo parte direcionada para a planta de biodiesel, que terá a capacidade nominal ampliada para 230 milhões de litros por ano. Como a ANP autoriza a inscrição de até 80% da capacidade das usinas nos leilões de biocombustíveis, a empresa poderá vender 184 milhões de litros por ano do produto.

Plano de expansão inclui aquisições    

Os planos de expansão da Camera, que em janeiro completará 40 anos de operação, também incluem incorporações. Há alguns dias a empresa adquiriu, por um valor não revelado, uma planta em São Borja capaz de beneficiar 54 mil toneladas de arroz por ano. A unidade já industrializava o grão com a marca Camera desde 2009, mas até então sob regime de terceirização. Segundo o diretor administrativo e financeiro Fabio Magdaleno, agora a empresa utilizará 50% da capacidade da unidade para produção própria e também trabalhará para terceiros.

Até agora, a Camera vinha comprando 100 mil toneladas de arroz por ano, mas beneficiava 10 mil. O restante era vendido com casca. Com a ampliação do volume de produto industrializado para quase 30 mil toneladas por ano, a empresa vai usar a casca como biomassa para geração de calor na fábrica de Santa Rosa e na Usina de Ijuí.

No mês passado a empresa ainda arrendou, por 15 anos, as unidades de armazenamento e as operações de comercialização de grãos e insumos da cooperativa Cotrisa, de Santo Ângelo. Em agosto, adquiriu a cerealista Irmãos Marquetto, que trabalha com soja e arroz em Santa Maria. A Camera tem também fábrica de ração para suínos e bovinos em Santo Cristo, além de dois portos secos em Ijuí e Cacequi, de onde faz o transbordo de produtos para o porto de Rio Grande, e um centro de distribuição em Cachoeirinha.

A Camera é uma sociedade anônima de capital fechado. O diretor-presidente e maior acionista é Vanoli Kist, de 64 anos, genro do fundador, Orestes Camera. O filho dele, Roberto, é diretor industrial e de planejamento, e Marcos Jasioka é diretor de originação e logística, e também faz parte do grupo controlador. Magdaleno é um executivo contratado. Criado há dois anos, o conselho de administração terá em 2011 três representantes dos controladores e dois integrantes externos, mas conforme o diretor financeiro não há planos de abertura de capital.

Sérgio Bueno
Tags: Camera