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Brasil registra patente de biodiesel de esgoto


O Globo - 30 nov 2008 - 22:22 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:07

Na era da sustentabilidade, nada se perde, nem se  cria, tudo... se reaproveita. Com essa idéia na cabeça, alunos e professores de pós-graduação têm se dedicado a projetos que transformam material proveniente do lixo e do esgoto em trabalhos inovadores e premiados. Além de ecológico, o aproveitamento do lixo pode ser rentável. O relatório "Empregos verdes: trabalho decente em um mundo sustentável e com baixas emissões de carbono", da Organização Mundial do Trabalho (OIT), divulgado em setembro, mostrou que as tentativas de frear o aquecimento global estão criando empregos. 

Na área de energias renováveis, por exemplo, existem hoje cerca de 2,3 milhões de postos de trabalho no Trabalhos mostram que transformação de matéria descartada pode ser rentável, além de ecológicmundo, que podem chegar a 20 milhões até 2030, segundo a OIT.  O Brasil é citado no relatório na gestão de dejetos e reciclagem. O país emprega 500 mil pessoas no setor, número que deve crescer nos próximos anos, com a alta de preço das matérias-primas.

Na tese de mestrado que desenvolveu para o Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ),  a engenheira civil Cíntia Fontes utilizou cinzas do lodo sanitário (que é queimado a 550 graus) para produzir argamassa e concreto ecológicos. No experimento,  ela substituiu porções de 5% a 10% do cimento convencional por cinzas provenientes da queima do esgoto e encontrou uma mistura, segundo ela, tão resistente quanto à usada na construção civil.

A tese lhe rendeu o prêmio Dirceu de Alencar Velloso, da Associação de Empresas da Engenharia do Rio, em 2005. O reconhecimento fez Cíntia mergulhar ainda mais nas pesquisas:

- Agora no meu doutorado estou fazendo testes com cinzas do lixo orgânico pra ver se o resultado é o mesmo. O material que aproveitamos seria depositado nos aterros, danificando o meio ambiente.

Brasil registra patente de biodiesel de esgoto
Também veio do esgoto a matéria-prima para o doutorado que Luciano Basto defendeu em 2004. Ao estudar tecnologias para aproveitamento energético do lixo, o pesquisador da Coppe e consultor técnico da Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE) usou a escuma do esgoto, uma camada superficial e rica em gordura, para produzir biodiesel. O resultado foi tão bom que o projeto foi patenteado pela UFRJ.

-  É a primeira patente de biodiesel de esgoto do mundo. Somos pioneiros. Como resultado disso, fechamos uma parceria com a Cedae  para instalar uma usina piloto a partir do começo do ano que vem para produzir biodiesel -  diz Basto, fazendo menção à possível utilização do concreto desenvolvido pela colega  Cíntia na construção civil. - É maravilhoso pensar que podemos produzir energia e casas a partir do lixo.

Riquezas históricas encontradas no lixo
Um exemplo prático da geração de emprego a partir do reaproveitamento de detritos está na pequena empresa de coleta seletiva de lixo que funciona no bairro de São Francisco, Niterói, e que esbanja o título de ser a primeira do Brasil. O empreendimento  foi aberto em 1985 pelo filósofo e professor da pós-graduação da Universidade Federal Fluminense (UFF) nas áreas de gestão e ciência ambiental, Emílio Eigenheer, depois de uma viagem à Alemanha. Lá fervilhavam as discussões sobre a importância da coleta seletiva, conceito que ele trouxe para cá. A empresa emprega seis moradores  e serve de laboratório para pesquisas da UFF.

- Minha tese de mestrado de 1989 foi sobre o trabalho desenvolvido na empresa. Não tenho a pretensão de dizer que este foi o primeiro trabalho na área, mas certamente influenciou outros estudos sobre reciclagem e sobre o papel dos catadores - acredita Eigenheer, que acrescenta que, além de toneladas de plásticos, vidros, metais e papéis, os catadores encontram itens de grande valor histórico e cultural, como coleções inteiras de selos e cartões postais e discos de vinil.

Luciano Basto, com o biodísel retirado do esgoto ( a direita ). Foto Carlos Ivan / Agência O Globo

Luciano Basto, com o biodiesel retirado do esgoto ( a direita ). Foto Carlos Ivan / Agência O Globo