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Mamona é a grande decepção do programa de biodiesel


BiodieselBR.com - 06 jul 2011 - 07:38 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:17

No mês passado, o jornal Diário do Nordeste publicou a reportagem “Mamona não evolui no Ceará”, informando que, apesar de ter sido o grande símbolo do lançamento do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNBP), a área destinada ao plantio da mamona no Ceará teria crescido 2% dos anos 1970 para cá, mostrando um quadro desanimador para a produção dessa oleaginosa. A publicação fez o Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) contestar as conclusões do diário.

Respondendo ao jornal nordestino, o MDA lançou mão da safra cearense de mamona no ano de 2001/2002, quando a área alcançou pífios 1,9 mil hectares e a produção foi de 1,7 mil toneladas. Na safra 2005/2006, a primeira após o lançamento oficial do PNPB, as lavouras já haviam saltado para 10,1 mil hectares com produção de 8,3 mil toneladas. E a previsão para a safra 2010/2011 estava em 61 mil hectares com produção de 32,8 mil toneladas – um salto de 32 vezes na área cultivada e 19 vezes na produção em relação aos valores registrados 10 anos antes. Segundo o ministério “estes são sinais evidentes do avanço do Programa no Estado [do Ceará]”.

Acontece que mais uma vez o MDA ignora vários números e novamente faz uma análise incompleta. Olhando para os números completos das séries históricas produzidas pela Conab e pelo IBGE a narrativa do ministério não é tão inequívoca. Depois de saltar de 1,9 mil hectares na safra 2001/2002 para 18 mil hectares na safra 2004/2005, o tamanho das lavouras produção de mamona no Ceará se retraiu com força e ficou em 9,6 mil hectares na safra 2006/2007. Ela retomou o ímpeto nos anos seguintes, chegando a 35,7 mil hectares em 2008/2009, voltou a cair bastante em 2009/2010 fechando o ano em 30,5 para, agora, dobrar sua área.

Brasil
Considerando a série histórica de área plantada de mamona no Brasil, o impacto do PNPB é muito pequeno (veja gráficos abaixo). O programa de biodiesel teve grande influência apenas na safra 2004/2005, a primeira após o lançamento do PNPB, que teve a mamona como a principal estrela dos discursos do governo. No entanto, o entusiasmo não durou mais que uma safra. No ano seguinte a queda foi no mesmo ritmo do crescimento anterior.

A volubilidade e inconstância do mercado desta oleaginosa fica evidente se analisarmos os números nacionais da produção de mamona. Esses dados apresentam um curioso sobe e desce (veja gráficos abaixo) ao longo do mesmo período, o que parece indicar o surgimento de surtos de euforia seguidos de grandes decepções sem a consolidação da cultura como seria esperado. Em novembro de 2005 – precisamente quando o MDA diz que a área de mamona havia passado a crescer – um grupo de 20 prefeitos e 30 mil agricultores da Bahia fizeram um protesto contra as dificuldades que vinham enfrentando com o preço da mamona que estava em R$ 571 por tonelada de bagas.

Embora, na média, tenham melhorado desde 2005, os preços da mamona também apresentam um comportamento errático com muitas altas e baixas no meio do caminho. Ano passado, o valor médio da tonelada de mamona, medido pelo IBGE, ficou em R$ 767,50.

O caso é que as compras pelas usinas de biodiesel – que deveriam dar sustentação financeira à expansão da lavoura – nunca chegaram a engrenar de vez. E a mamona produzida pela agricultura familiar também não chegou a decolar. Segundo números oficiais obtidos por BiodieselBR, em 2007 o volume de mamona adquirido pelas usinas de biodiesel para cumprir as metas do Selo Combustível Social foi de 6,7 mil toneladas, caindo para 1,1 mil toneladas um ano depois.

A expectativa de que seria viável produzir biodiesel de mamona graças a forte demanda do mercado de biodiesel nunca chegou a se concretizar. Os defensores da planta acreditavam que ocorreria um salto na produção da oleaginosa e consequente queda no preço do óleo. Mas o óleo de mamona sempre teve participação insignificante na produção de biodiesel e desapareceu das estatísticas em dezembro de 2009 para nunca mais voltar.

Hoje a produção brasileira de mamona é apenas um reflexo acanhado do que foi no final dos anos 70, quando o Brasil chegou produziu a 392,5 mil toneladas com uma produtividade média de 1.141 quilos por hectare. Para a safra deste ano a Conab estima uma produtividade média de 631 kg/ha.

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Tags: Mamona