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Biodiesel

SC: Agricultores aderem a mamona e o girassol


A Tribuna - Criciúma - 22 jun 2007 - 06:05 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

O plantio de girassol e mamona para produzir biodiesel vem sendo apontado como uma boa alternativa de renda para a agricultura familiar. No Sul do Estado, agricultores de diversos municípios aderiram a essas lavouras por meio de um projeto entre a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina (Fetaesc) e a Brasil Ecodiesel, fabricante de biodiesel. Turvo é um deles. No município, três famílias cultivaram dez hectares de girassol, que por problemas de pragas e falta de assistência técnica, acabaram rendendo menos da metade das 30 sacas de 60 quilos por hectare esperadas. No entanto, mesmo com um rendimento bem abaixo dos R$ 500 por hectare, os trabalhadores não devem desistir da plantação, e pretendem aprender mais sobre o cultivo e a retirada do óleo das sementes, para passarem da posição de plantadores para a de fa- bricantes e comercializadores da matéria-prima para a produção do biodiesel, segundo Davide Tomas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Turvo e Ermo.

Alternativa de renda
Para Tomas, o girassol é uma boa alternativa de renda, e o município não pode deixar de participar desse momento inicial da atividade na região. "Não queremos desistir na primeira dificuldade. Estamos no começo e aprendendo ainda", afirma. Para ele, o cultivo do girassol, além de permitir uma diversidade maior das culturas nas pequenas propriedades, pode levar os agricultores familiares a terem uma alternativa além do cultivo das plantas. "A nossa intenção é que os agricultores se for- taleçam para que possam industrializar e comercializar o produto, e com isso, aumentar a lucratividade da propriedade", afirma. Para isso, mais agricultores teriam que aderir à plantação da semente e, posteriormente, montar uma cooperativa.

O caso de Turvo foi um dos apresentados na audiência pública para discutir a criação de uma política de incentivo aos biocombustíveis no Estado, realizada ontem em Criciúma. Essa foi a primeira das cinco audiências que ocorrerão nas diferentes regiões de Santa Catarina nos próximos meses, e é uma iniciativa da Comissão de Constituição e Justiça da Assembléia Legislativa de Santa Catarina. O objetivo das assembléias é reunir pesquisadores, agricultores, estudantes e a sociedade em geral para debater os cinco Projetos de Lei sobre biocombustíveis apresentados este ano pelo deputado estadual Pedro Uczai (PT). "Queremos incluir Santa Catarina nessa discussão, para que o estado tenha uma política de incentivo à produção, industrialização e comercialização de biocombustíveis", afirma Uczai.

Projeto de lei quer que cultivo seja exclusivo para agricultores familiares

O deputado defende que no Estado a produção de plantas oleaginosas para a fabricação de biodiesel seja exclusividade dos agricultores fami- liares, que teriam na atividade, uma opção de renda e de diversificação da lavoura. Mas o cultivo de girassol ou mamona, por exemplo, não deve se transformar em monocultura, segundo o de- putado. "Todo mundo se dedica a plantar girassol, por exemplo, e a cultura entra em crise. O que os agricultores irão fazer?", diz ele, relembrando o caso dos plantadores de cana-de-açúcar para a fabricação de álcool. Para ele, os agricultores não podem esquecer que a produção de alimentos deve estar em primeiro lugar, já que "não adianta vender energia e ter que comprar alimentos de fora". Por isso, Uczai propõe que no máximo 50% da área da propriedade seja destinada a plantação de sementes oleaginosas.

Uczai afirma que Santa Catarina está atrasada na produção de culturas para a fabricação de biocombustíveis em relação a outros Estados e que tanto a produção quanto o beneficiamento das sementes para a extração do óleo são alternativas não apenas econômicas, mas para o cuidado com o meio ambiente, já que os biocombustíveis são considerados menos poluentes que os combustíveis fósseis.

Do grão ao óleo
Segundo o deputado, os agricultores devem chegar a um patamar em que além de plantadores sejam responsáveis pela extração do óleo das sementes, ou mesmo a fabricação do biocombustível e a comercialização do produto.

Com isso, o rendimento de cada família deve aumentar. "É interessante substituir aos poucos as parcerias dos agricultores com empresas para o trabalho em cooperativa de pequenos agricultores, que poderão buscar junto ao governo recursos para a atividade e uma parceria com a Petrobrás para a venda do biodiesel", afirma.

Além do biocombustível, os agricultores podem comercializar a torta, um derivado do girassol ou mamona que serve para alimentação animal no primeiro caso (em Abelardo Luz uma cooperativa de criadores de peixes já está utilizando a torta na ração dos animais). No caso da mamona, a torta pode ser utilizada na adubação de plantas e do próprio solo onde é plantada.`

Milena Nandi