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Biodiesel

Petrobras foca os aportes em biocombustível


DCI - 28 mai 2007 - 06:07 - Última atualização em: 09 nov 2011 - 19:23

Acompanhando as mudanças na matriz energética global, a Petrobras tem o etanol, o biodiesel e o H-Bio como os focos de investimento de sua estratégia atual, que prevê, para os próximos anos, a migração da estatal como uma empresa de petróleo para uma grande companhia de energia. O objetivo da empresa é “liderar o mercado de petróleo, gás natural, derivados e biocombustíveis na América Latina”, afirmou o gerente-geral de Comércio de Produtos Claros da Petrobras, Edgard Manta, que participou do evento Agenda Brasil, promovido no último dia 18 pelo DCI em parceria com outras empresas, inclusive a própria Petrobras.

No programa Panorama do Brasil de hoje, exibido pela rede TVB, o gerente-geral da Petrobras explica o planejamento comercial e de pesquisa traçado pela companhia para avançar nas três frentes — o biodiesel, o etanol e o diesel feito a partir de óleos vegetais pelo processo H-Bio. O plano estratégico prevê que a Petrobras não só se torne produtora desses insumos todos como também venha a ter participação minoritária em destilarias fabricantes de álcool combustível.

No setor de biodiesel, a estatal passará a atuar como fabricante do produto a partir do ano que vem, utilizando sua própria tecnologia — o processo H-Bio. A meta é chegar a 2011 produzindo 850 milhões de litros anuais, o que colocaria a Petrobras como maior produtora do insumo no Brasil. A Brasil Ecodiesel, líder na fabricação de biodiesel no País hoje, tem a meta de chegar a 2008 com uma capacidade de produção instalada de 800 milhões de litros. Já em etanol, o objetivo é expandir no mercado internacional, buscando exportar 3,5 bilhões de litros por ano do produto até 2011.

Produção de biodiesel
A partir do ano que vem, quando a adição de 2% desse elemento ao diesel torna-se obrigatória, a Petrobras vai mudar sua atuação no segmento. “Deixaremos de ser apenas compradora e vendedora de biodiesel para atuar como fabricante”, explica Manta. Em janeiro de 2008 começam a operar as três primeiras unidades de produção de biodiesel da Petrobras: em Quixadá, no Ceará, Candeias, na Bahia, e Montes Claros, em Minas Gerais.

Cada uma terá capacidade de produzir 50 mil toneladas ao ano. O biocombustível produzido nessas instalações será comercializado com as distribuidoras, que farão a adição no diesel antes de vender aos postos.

Manta explica que “basicamente, o mercado de biodiesel funcionará da mesma maneira que hoje opera o mercado de álcool anidro, no qual as distribuidoras compram de fornecedores à sua escolha e a adicionam à gasolina no percentual exigido pelo governo”. A demanda prevista para 2008 no Brasil é de 871 milhões de litros, o equivalente aos 2% do consumo anual de diesel. Em 2006, esta foi de apenas 240 milhões de litros e neste ano está projetada em 620 milhões de litros, devido à realização de leilões mais robustos pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

A perspectiva de crescimento ganha força em 2013, quando está prevista a adição obrigatória de 5% de biodiesel ao diesel. O consumo do biocombustível no Brasil deverá saltar de 993 milhões de litros em 2012 para 2,571 bilhões de litros daqui a seis anos.

Diesel vegetal
Manta cita ainda a importância do H-Bio, processo totalmente desenvolvido pelo Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), como complementar à produção de biodiesel. O H-Bio é um processo que permite a produção direta de diesel a partir de óleos vegetais e é estratégico para a Petrobras para substituir as importações de óleo diesel. “A produção de diesel pelo processo H-Bio poderá consumir até 1,05 bilhão de litros ao ano de óleo vegetal quando for atingida a adaptação de dez refinarias de petróleo da Petrobras no País”, diz Edgard Manta. No médio prazo, cinco refinarias adaptadas ao H-Bio utilizarão 425 milhões de litros de óleos vegetais para conversão a diesel.

O melhor impacto virá na balança comercial, já que essa produção reduzirá as importações do combustível fóssil em 25%, ou US$ 240 milhões anuais. Em um primeiro momento, com quatro refinarias já preparadas para o refino através do H-Bio, o consumo de óleos vegetais deverá ser de 256 milhões de litros anuais, suficientes para reduzir as importações de óleo diesel em US$ 145 milhões ao ano, ou cerca de 15%.

Já para o cenário de longo prazo, a Petrobras não calcula o ganho com a substituição das importações porque espera que o Brasil tenha reduzido ou extinguido sua dependência do mercado externo para se abastecer de diesel.

Exportação de etanol
A nova estratégia da estatal também promove mudanças na área do etanol, na qual a empresa só atuava por meio da subsidiária BR Distribuidora. Desde o ano passado, a companhia está operando na exportação do combustível. Para se expandir no mercado internacional, a empresa pretende investir em logística e negocia a construção de um novo alcooduto e de uma hidrovia de transporte para escoar a produção pelo Terminal Marítimo de Ilha D’água (RJ) e de São Sebastião (SP).

A expansão no setor de biocombustíveis também será promovida por das parcerias em outros países. No final do ano passado, a Petrobras fechou um acordo com o Japão que constituiu a Brazil-Japan Ethanol Inc. Fruto de uma joint venture com a Japan Alcohol Trading, a parceria prevê vender e distribuir o etanol produzido no Brasil no mercado japonês, sendo que a primeira carga-teste já foi enviada. A japonesa Mitsui & Co. deve ainda renovar a parceria com a estatal para o aumento da produção de etanol voltada à exportação.

Manta conta que a parceria com a trading japonesa levará a Petrobras a ser sócia minoritária de usinas de álcool voltadas exclusivamente à exportação. O gerente-geral da Petrobras explica que a participação acionária da companhia nas novas usinas é importante para dar credibilidade aos negócios perante os importadores internacionais. “As usinas parceiras da Petrobras terão de seguir todas as nossas normas sociais, ambientais e trabalhistas”, detalha o executivo. Além disso, a participação da Petrobras aumenta as garantias de que a estatal terá álcool suficiente para atender seus contratos de exportação.

O próximo passo será ampliar este modelo de cooperação internacional para outros países, como Venezuela, Nigéria e África do Sul. Na Venezuela, a perspectiva é substituir o chumbo tetraetila — que é misturado à gasolina local — pelo etanol (E-8) brasileiro. Já foram exportadas seis cargas para aquele país, totalizando cerca de 150 milhões de litros. Agora, a Petrobras negocia com o governo da Venezuela e com a PDVSA a renovação de um contrato para fornecimento de longo prazo.

No mercado africano, a partir de 2008, a petrolífera brasileira promoverá uma expansão na Nigéria. A idéia é introduzir o etanol (E-10) no mercado local. O embarque da primeira carga do biocombustível, com cerca de 20 milhões de litros, já está em fase final de negociação com a sua similar nigeriana, a NNPC. Há perspectiva de estratégia semelhante na África do Sul, além de mais investimentos em Angola.

Novos contratos podem surgir ainda em Portugal, Espanha, Coréia do Sul, no Golfo do México e com os Estados Unidos. Quanto ao acordo firmado para desenvolvimento do setor de biocombustíveis no Paraguai, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao país, no último dia 21, a Petrobras “provavelmente participará”, afirma Manta.

A demanda por combustíveis veiculares cresce junto com a produção dos setores agrícola, industrial e comercial. Os derivados de petróleo se apresentam cada vez mais caros para atender às crescentes frotas, tornando os biocombustíveis prioritários no novo plano da Petrobras.

A produção brasileira de etanol representa atualmente cerca de 33% do total global. América do Norte e Central detêm 39%, América do Sul, 34%, Europa, 10% e Ásia, 17%. Em 2006, as exportações brasileiras atingiram aproximadamente três bilhões de litros do biocombustível.