[Análise] Brasil Ecodiesel volta ao jogo

A Brasil Ecodiesel apresentou na semana passada o relatório do 2º trimestre de 2009 com lucro líquido de R$ 21,7 milhões. Dos 13 balanços trimestrais divulgados até agora, este foi apenas o segundo com saldo positivo na história da empresa (veja gráfico abaixo). O primeiro foi no 3º trimestre de 2007, quando a empresa lucrou R$ 1,1 milhão. Dessa forma o segundo trimestre de 2009 foi o mais lucrativo da companhia.

Uma análise mais cuidadosa das demonstrações financeiras da empresa mostra que o lucro apresentado no trimestre não foi graças a diferença entre custos e receitas, mas adveio de uma receita extra. A rescisão do contrato de cessão de direito de uso que a Ecodiesel mantinha com a termelétrica Enguia rendeu créditos contábeis de R$ 36,4 milhões e possibilitou o lucro.



Contudo esse não foi o único motivo. No mês de junho a Ecodiesel produziu 12,7 milhões de litros de biodiesel, um volume muito próximo dos 14 milhões de litros que teriam que ser entregues em razão dos leilões. Essa produção é a maior desde março de 2008, quando foram produzidos 16,3 milhões de litros de biodiesel.

A empresa só conseguiu produzir esse volume de biodiesel graças ao bem sucedido aumento de capital, no valor de 104 milhões de reais. Desse montante, 45 milhões foram usados para resolver um dos maiores problemas da empresa, a falta de capital de giro. Fator decisivo na baixa produção deste último ano.

Vale ressaltar que, de acordo com os números apresentados pela Ecodiesel,o que ela vem fazendo para melhorar sua estrutura está dando resultado, pois os números mostram lucro operacional. Se não considerarmos a receita de R$ 36,3 milhões vindos da rescisão de contrato com a Enguia, nem as despesas financeiras de R$ 11,5 milhões, a companhia teria lucro de R$ 4,5 milhões de reais.

Embora o lucro operacional tenha desaparecido pelas altas despesas administrativas, e, principalmente, as financeiras, a previsão dos administradores é que nos próximos trimestres esses gastos fiquem em percentuais menores, compatíveis com seu faturamento.

Do seu relatório também é possível extrair o lucro bruto da venda de biodiesel. Considerando apenas custo das matérias-primas, mão de obra e depreciação, cada litro de biodiesel rendeu para a empresa R$ 0,72. Foram 19,26 milhões de litros produzidos e um lucro bruto de R$ 13,88 milhões. Se a empresa tivesse produzido todo o volume de biodiesel vendido no leilão do período (42,2 milhões de litros), o lucro bruto seria de R$ 30,38 milhões de reais.

Sem dúvida é uma boa diferença entre custo do produto vendido (CPV) e a receita líquida da empresa. A receita foi 36,3% superior aos custos, percentual excelente para uma empresa que compra no mercado seu principal insumo, o óleo de soja.

Futuro
O terceiro trimestre deverá ser ainda melhor para a empresa, assim como para as demais usinas. O custo do óleo de soja vem caindo desde o início de julho. De cerca de R$ 1.800,00 a tonelada no inicio do mês para aproximadamente R$ 1.700,00 nos últimos dias. Esta queda reflete mais a valorização do real do que da queda nas cotações internacionais, já que na bolsa de Chicago permanece em cerca de U$ 0,35 por libra peso.

Além de ter um custo menor, a empresa está com capital de giro para produzir o biodiesel que vendeu. Foram 57 milhões de litros de biodiesel vendidos, que podem dar um faturamento próximo dos 135 milhões de reais no terceiro trimestre de 2009.

Além disso, a empresa concluirá um novo aumento de capital que, no mínimo, transformará R$ 106 milhões de dívidas em ações e trará mais R$ 12 milhões em capital para a empresa.

Independente desse novo aumento de capital, a Ecodiesel tem condições de fazer de 2009 o primeiro ano com lucro de sua história. Para isso precisará não só vender boa quantia de biodiesel no próximo leilão, mas principalmente produzir o biodiesel vendido. Fazendo isso a empresa pode terminar 2009 com um lucro próximo dos 50 milhões de reais.

Considerada carta fora do baralho por mais de um ano, a Brasil Ecodiesel parece ter voltado ao jogo.