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Leilões de biodiesel

A culpa do preço maior do biodiesel é das distribuidoras


BiodieselBR.com - 08 out 2018 - 12:34 - Última atualização em: 08 out 2018 - 16:54

Depois de três longos dias, a terceira etapa do leilão de biodiesel chegou ao fim. Dentre as várias perguntas que precisam ser feitas sobre o que aconteceu, a mais importante neste momento é: porque as distribuidoras compraram tanto biodiesel?

A resposta óbvia é porque a demanda de diesel do 6º bimestre exigia uma compra significativa, deste tamanho. A resposta, assim como é óbvia, é errada. A demanda de diesel poderia até exigir uma compra grande de biodiesel no 63º Leilão de Biodiesel da ANP (L63), mas não é obrigatório que esta demanda seja toda comprada na etapa 3.

O que farei agora neste texto é uma análise dos volumes e valores pagos pelas distribuidoras no biodiesel comprado na etapa 3 do L63 para mostrar inconsistências nesse processo.

Para essa análise, primeiro é preciso deixar claro quais são as regras que as distribuidoras estão vinculadas. Além de terem que comprar o biodiesel que irão consumir em um bimestre, as distribuidoras têm que comprar pelo menos 80% de toda essa demanda na Etapa 3, destinada as usinas com selo social. O restante é comprado na etapa 5, destinada as usinas com selo e sem selo.

Neste leilão as usinas compraram ao final do terceiro dia de etapa 3 o total 942,617 mil m³ de biodiesel, pagando um preço médio de R$ 2.838,32 por m³. O montante dispendido foi de R$ 2,67 bilhões. Mas o que aconteceria se as distribuidoras tivessem parado de comprar biodiesel ao final do primeiro dia da Etapa 3? Seria economicamente vantajoso? Daria para atender a regra que exige que pelo menos 80% do volume total seja comprado nessa etapa? Vamos ver.

Ao final do primeiro dia as distribuidoras tinham comprado 878,741 mil m³, pagando um preço médio de R$ 2.685,09 em cada m³, gastando ao todo R$ 2,36 bilhões. Esse volume já era suficiente para atender a regra dos 80%, pois as distribuidoras poderiam comprar outros 219,6 mil m³ na etapa 5, totalizando uma compra final de 1,098 bilhão de m³, um número muito maior do que a demanda real para o 6º bimestre. Esse volume máximo de compra ainda seria maior do que o ofertado pelas usinas. Ou seja, não havia exigência regulamentar nenhuma para que as distribuidoras continuassem comprando. Depois do primeiro dia, a decisão de comprar mais biodiesel foi feita de livre e espontânea vontade das distribuidoras.

Assim, a diferença de volume entre o primeiro e o terceiro dia foi de 63,876 mil m³ e o dispêndio no terceiro dia foi R$ 315,9 milhões maior. Este valor não é gasto só para comprar biodiesel novo, mas para levantar os preços dos 878,7 mil m³ de biodiesel comprado no primeiro dia do leilão.

Desses 315,9 milhões de reais, 134,6 milhões foram pagos pelas distribuidoras para elevar o preço médio dos 878,7 mil m³ de R$ 2.685,09/m³ para R$ 2.838,32/m³. Ou seja, para ficar com o biodiesel das usinas que mais lhe agradavam, as distribuidoras pagaram R$ 153,23 a mais por cada um dos 878,7 mil m³ que já haviam comprado no primeiro dia de leilão.

Para se ter uma ideia do que isso significa, um caminhão de biodiesel transporta 45 mil m³ de biodiesel por viagem. Multiplicando o custo extra que as distribuidoras quiseram pagar pelo máximo que o caminhão transporta, vemos que as distribuidoras optaram por pagar R$ 6.895 a mais pela carga transportada por um caminhão ao invés de usar esse dinheiro para pagar pelo transporte vindo de outra usina que não fosse a ideal. Algo como: para a distribuidora não retirar biodiesel de uma usina, ela optou por pagar quase R$ 7 mil a mais por caminhão para garantir que iria arrematar de uma usina específica.

Façamos outra conta. Supondo que as distribuidoras tivessem optado por encerrar a etapa 3 no primeiro dia, gastando apenas os R$ 2,36 bilhões e comprando os 878,7 mil m³ e pegassem a diferença do gasto até o terceiro dia, de R$ 315,94 milhões, para comprar biodiesel na etapa 5, quanto de biodiesel elas poderiam adquirir?

Isso depende de qual seria o preço médio da etapa 5. Olhando as ofertas disponíveis no L63, o preço médio na etapa 5 dificilmente ficaria acima de R$ 3.030/m³, pois há um bom volume de biodiesel abaixo desse valor em várias regiões. Então, se as distribuidoras pagassem R$ 3.030/m³ pelo biodiesel na etapa 5, elas poderiam comprar mais 104,27 milhões de litros só usando o dinheiro que elas gastaram nos dias 2 e 3 da etapa 3. O volume total adquirido nas etapas 3 e 5 nessa projeção seria de 983 milhões de litros, e o preço médio do biodiesel teria ficado em R$ 2.721,7 por m³, um preço R$ 116,64/m³ menor que o efetivamente pago pelas distribuidoras.

A culpa das grandes distribuidoras
Olhando esses números fica difícil entender o que está motivando as distribuidoras a comprar mais biodiesel na etapa 3 do que manda a regra dos 80%. Talvez elas não tenham feito as contas ainda, ou, talvez, tenham outros interesses desconhecidos nesse movimento. Mas é certo que as distribuidoras pequenas não têm força para fazer o preço subir dessa forma na etapa 3. Somente as grandes distribuidoras tem uma demanda capaz de forçar uma competição tão grande e economicamente tão desvantajosa, aparentemente.

O Governo Federal, através do MME e da ANP, deve olhar com muito mais atenção para o que está acontecendo nos leilões. Pois mesmo que esteja tudo certo, o consumidor está pagando muito mais caro pelo produto final por causa do formato do leilão de biodiesel. Uma reforma no leilão que era necessária, passou a ser urgente.

Miguel Angelo Vedana – BiodieselBR.com