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Risco no transporte rodoviário do biodiesel


Edição de Abr / Mai 2012 - 19 abr 2012 - 13:03 - Última atualização em: 24 abr 2012 - 16:40
Ligar as usinas de biodiesel aos mercados consumidores tem se mostrado uma atividade cheia de percalços para os transportadores

Daniela Arend, de São Paulo

Levar um carregamento do ponto A ao ponto B costuma ser uma tarefa corriqueira, quase banal. A coisa começa a ficar complicada quando a operação deve ser repetida algumas milhares de vezes. No caso do biodiesel, o Sindicado Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom) contabiliza 6 mil viagens ao mês entre as 65 usinas autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e as mais de 270 bases de distribuição espalhadas pelo Brasil. É um sistema de entregas com tamanho e complexidade significativos.

Segundo o presidente do Sindicato das Empresas Transportadoras de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais (Sinditanque), José Geraldo de Castro, o biodiesel tem características peculiares e não é qualquer caminhão que pode transportá-lo. São necessários equipamentos multisseta com pelo menos três eixos para passar, sem dificuldades, pelas balanças das rodovias federais.

Além disso, por se tratar de um produto perigoso, transportar biodiesel também exige licença ambiental em dia e motoristas devidamente qualificados, que tenham passado, com sucesso, por um dos cursos de Movimentação e Operação de Produtos Perigosos. Também é preciso seguir à risca um bom número de regras que regulam a identificação visual dos caminhões que fazem o transporte dessas substâncias.

Castro é categórico ao apontar as estradas como a maior dificuldade para as transportadoras. Embora o biodiesel apresente dificuldades particulares pela situação logística da maioria das usinas – quase sempre instaladas longe dos grandes centros urbanos –, a conservação sofrível das estradas brasileiras é a principal causa dos contratempos ocorridos no transporte do produto. “Enquanto não melhorarem as condições das estradas do Brasil, os acidentes vão continuar acontecendo, por mais que a gente se previna”, pontua. Claro que obrigar os caminhões a percorrer longos trajetos não facilita em nada – quanto mais longo o trajeto, mais chance de algo sair errado.

Outra reclamação constante, de acordo com o sindicato das transportadoras, é a falta de investimentos adequados em tancagem por parte das empresas distribuidoras. Sem tanques para receber as cargas de biodiesel, não é incomum que os caminhões contratados só para fazer o transporte cumpram hora-extra na função de estoque improvisado. O resultado, reclama Castro, é que o caminhoneiro termina preso à carga e, mesmo que receba multas pelos atrasos, sai prejudicado ao perder oportunidades mais rentáveis de trabalho.

Durante sua fala na mais recente Conferência BiodieselBR, o presidente executivo do Sindicom, Alisio Vaz, reconheceu que as atuais instalações das bases de distribuição estão no limite. Além da questão da introdução de novos produtos, como o próprio biodiesel e o diesel S50 com baixo teor de enxofre, o mercado de combustíveis tem apresentado um crescimento considerável nos últimos meses. Segundo Vaz, o prazo médio para a instalação dos tanques necessários para regularizar a situação demora de um a três anos desde o projeto até o término da execução.

Produto perigoso?

De fato, o biodiesel não é citado nos regulamentos da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) sobre transporte de produtos perigosos. Não que seja preciso muito mais do que juízo para entender que é de bom tom tomar cuidado ao sair por aí carregando líquidos inf lamáveis. No que diz respeito à lei, o que resolve a questão é o manual de ensaios e critérios elaborado pela Organização das Nações Unidas, apelidado de Orange Book (Livro Laranja).

Acidentes envolvendo biodiesel não são novidade [veja box 02]. E neste caso, o primeiro instinto é chamar os bombeiros. O comandante do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Reginaldo Campos Repúlio, explica que a primeira providência a tomar é atender as vítimas e fazer a estancagem do material derramado. “Esse tipo de acidente geralmente ocorre longe dos centros urbanos. Na maioria das vezes, quando nossos homens chegam, a carga já se encontra espalhada pela pista”, conta.

Sendo assim, é preciso chamar um órgão responsável pela remediação ambiental. Em São Paulo, quem cuida do assunto é a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). Segundo dados do órgão, o transporte rodoviário é o líder absoluto em acidentes ambientais no território paulista, com 37,4% das ocorrências.

Apesar do crescimento no número de acidentes, o técnico do setor de atendimento emergencial da Cetesb, Mauro de Souza Teixeira, conta que o biodiesel não foi incluído entre as 850 substâncias que aparecem no Manual dos Produtos Químicos (documento que descreve o que fazer em caso de emergência). Isso obriga a equipe do órgão a usar os parâmetros do diesel comum. ”Devido às semelhanças físicas, os cuidados ao conter, recolher e tratar os resíduos serão os mesmos. Assim como as multas e autuações aplicadas às empresas”, explica .


ACIDENTES NO TRANSPORTE DE BIODIESEL

- Em junho de 2009 um acidente entre um carro e uma carreta provocou o vazamento de 25 mil litros de biodiesel na Rodovia Marechal Rondon, em Avaí, a 360 km de São Paulo.

- Em julho de 2010 um caminhão carregado com 29,4 mil litros de biodiesel tombou no km 9 da estrada RS-135, próximo à ponte do arroio Miranda, em Passo Fundo (RS).

- Em agosto de 2010 um caminhão carregado de biodiesel tombou na BR-101, em Sombrio, no sul de Santa Catarina.

- Em julho de 2011 uma carreta com biodiesel tombou na BR-262 em Domingos Martins, na região serrana do Espírito Santo.

- Em novembro de 2011 um acidente num trecho da BR- 116 próximo à fronteira entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina envolveu umcaminhão que carregava biodiesel. A empresa Ademir Transportes, com sede em Araçatuba (SP), foi autuada pelo derramamento de 12 mil litros de biodiesel.

- Em janeiro de 2012 houve dois acidentes. No primeiro, um caminhão que vinha de Porto Nacional (TO) com destino a São Luís (MA) tombou, deixando vazar parte da carga de 44 mil litros de biodiesel. A empresa Medeiros e Cabral foi multada em R$ 350 mil.

- No segundo episódio, um caminhão tombou na BR-153, nas proximidades de Erechim (RS). Segundo a Secretaria do Meio Ambiente, 30 mil litros de biodiesel vazaram e por pouco não atingiram a nascente do rio Suzana.