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Pesquisa: Investindo no amanhã


Edição de Jun / Jul de 2011 - 25 jul 2011 - 14:31 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:15
Saiba como andam os investimentos no desenvolvimento de pesquisas voltadas ao fortalecimento do setor do biodiesel no Brasil

Fábio Rodrigues, de São Paulo

É só ouvir falar em ciência e tecnologia de ponta que os brasileiros logo começam a pensar nas paisagens hi-tech do Japão ou nos geeks das companhias do Vale do Silício – pedaço da Califórnia de onde saíram boa parte dos avanços que vêm revolucionando o mundo nos últimos 50 anos. Estamos tão acostumados a comer poeira na corrida tecnológica global e tão fartos da cansativa balela de que vivemos “no país do futuro” que não levamos a ciência verde-amarela tão a sério quanto ela merece. Está certo que ainda precisamos melhorar muito, mas é importante reconhecer que a área de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) brasileira vive um de seus períodos mais interessantes e que, embora represente um pedaço pequeno de um todo bem maior, as pesquisas na área de biodiesel fazem parte desse bom momento.

Verdade seja dita, a construção da competência científica nacional não é coisa que tenha acontecido do dia para a noite. Já faz um bom tempo que os números da ciência brasileira vêm melhorando. Segundo dados compilados pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a quantidade de artigos assinados por pesquisadores brasileiros publicados em periódicos científicos internacionais disparou nos últimos 20 anos. Em 1986, pesquisadores brasileiros publicaram exatos 2.489 artigos, ou 0,49% do total mundial; em 2006, esse número havia saltado para 16.872, ou 1,92% – a melhor parte é que a participação brasileira vem acelerando nos anos mais recentes (veja o Gráfico 1). Além disso, a quantidade de mestres e doutores no Brasil também anda em ascensão. Em 2006, o Brasil formava pouco mais de 32 mil mestres e 9 mil doutores todos os anos (veja o Gráfico 2). Dez anos antes, a pós-graduação no Brasil mal chegava a um terço dos números atuais.

Isso criou as condições para que, em novembro de 2007, o MCT lançasse o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação 2007-2010 (apelidado, bem ao gosto do momento, de PAC da Ciência e Tecnologia) com o objetivo de fazer a produção científica nacional deslanchar. A meta do ministério era fazer com que a parcela do PIB reservada para investimentos em P&D subisse de 1,02% em 2006 para 1,5% em 2010. Para tanto, o governo federal, os governos estaduais e a iniciativa privada injetariam um total de R$ 41,2 bilhões (veja Gráficos 3 e 4) em pesquisa durante os quatro anos de vigência do plano.

A fatia do bolo

De acordo com o coordenador de ações de desenvolvimento energético da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCT, Rafael Silva Menezes, as ações relacionadas ao biodiesel ficaram com aproximadamente R$ 107 milhões desse montante. “Isso foi investido em ações estratégicas para solucionar gargalos relacionados à produção de biodiesel”, diz Menezes.

O que pode ou não ser considerado “investimento estratégico” na área de biodiesel é algo que não depende exclusivamente do ministério. Desde 2005, o MCT conta com o apoio da Rede Brasileira de Tecnologia de Biodiesel (RBTB), que reúne alguns dos maiores especialistas brasileiros da área de biodiesel. Além de organizar anualmente o Congresso da RBTB, maior evento de seu gênero do Brasil e um dos maiores do mundo, a rede atua para colocar o pessoal de Brasília em sintonia com o que pensa a comunidade científica nacional. Dessa forma, fica mais fácil decidir onde alocar as verbas disponíveis para a área. Para simplificar a tarefa, a RBTB foi dividida em cinco eixos temáticos que cobrem praticamente todos os pontos-chave da cadeia do biodiesel: agricultura, produção, coprodutos, qualidade e armazenamento.

Segundo o MCT, cada uma dessas áreas temáticas levou uma fatia dos recursos que foram injetados na área: Caracterização e Controle de Qualidade ficou com R$ 34 milhões; Agricultura recebeu R$ 33 milhões; Produção contou com R$ 15 milhões; Coprodutos levou R$ 10,9 milhões; e Armazenamento ganhou R$ 9 milhões.

“Fizemos ações em todas as áreas temáticas, mas alguns gargalos demandam mais recursos do que outros”, diz Menezes, explicando o porquê da diferença entre os recursos destinados para algumas áreas e destacando que, em alguns casos, o dinheiro nem chegou a ser usado diretamente em pesquisa. Havia nós bem mais urgentes a serem desfeitos.

Um bom exemplo é a Caracterização e Controle de Qualidade. Nas contas de Menezes, cerca de R$ 25 milhões da verba destinada à área foram gastos para equipar uma rede de 37 laboratórios. É um passo fundamental para garantir o acompanhamento da qualidade do biodiesel produzido no Brasil. “Nós não tínhamos laboratórios preparados para analisar o biodiesel. Esse projeto de capacitação para os laboratórios de biodiesel foi elaborado aqui na minha mesa”, conta Álvaro Barreto, que coordena o eixo de caracterização e controle de qualidade da RBTB e, até o ano passado, chefiava o Laboratório de Combustíveis e Lubrificantes do Instituto Nacional de Tecnologia (INT).

Nas palavras do pesquisador, todo o projeto correu “muito bem”. “Eu não tenho do que reclamar. O repasse dos recursos funcionou bem e minha relação com os organismos de fomento foi nota 10”, elogia. “Eu pude comprar todo o equipamento do qual estava precisando e ainda pude capacitar as equipes dos laboratórios”, complementa.