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Entrevista: Carlos Omar Polastri (Cesbra)


Edição de Jun / Jul de 2011 - 15 jun 2009 - 08:15 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 10:01
Nos primeiros anos do setor de biodiesel no Brasil, a capacidade de produção era semelhante à demanda e o setor viveu anos de alegria e cordialidade. Mas o momento, segundo Carlos Omar Polastri, da Cesbra, é de “cobertor curto”

Fábio Rodrigues, de São Paulo

Carlos Omar Polastri tem grandes ambições para o segmento de biodiesel. Como presidente executivo da Companhia Estanífera do Brasil (Cesbra), localizada em Volta Redonda (RJ), há cinco anos que ele vem cuidadosamente manobrando a empresa para que ela ocupe posição de destaque entre os players deste novo setor. Neste exato momento, a travessia está num ponto-chave. Se tudo correr bem, em mais alguns meses a usina de biodiesel da companhia deixará de ser uma unidade modesta para entrar no exclusivo clube das grandes. (No momento, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) está estudando o pedido de aumento da capacidade dos atuais 60 para 200 milhões de litros.)

O que tem tirado o sono do empresário é o que ele entende como uma postura predatória adotada pelas grandes usinas verticalizadas, que, segundo ele, estão agindo de caso pensado para segregar as demais do mercado. Por isso, mesmo que a Cesbra esteja a caminho de se tornar uma grande, Polastri firmou uma aliança estratégica com os pequenos e médios empresários em defesa do que ele considera o rumo correto do Programa Nacional de Produção e uso de Biodiesel (PNPB).

Revista BiodieselBR Por que uma indústria com mais de 60 anos de tradição no ramo químico resolve se aventurar num ramo inteiramente novo como o mercado de biodiesel?
Carlos Omar Polastri
A verdade é que a Cesbra já produzia éster metílico, que é praticamente a mesma coisa que biodiesel, há mais de 40 anos. Junto com outros ésteres, nós usávamos o éster metílico como matéria- prima para alguns de nossos produtos de químicos de estanho na produção de herbicidas, bactericidas, fungicidas. Logo, tínhamos uma facilidade muito grande de produzir biodiesel e um parque industrial que já estava pronto. Então, com o advento do PNPB, enxergamos a possibilidade de expandir o nosso negócio sem a necessidade de fazer nenhum investimento novo. Além disso, podíamos aproveitar melhor novos equipamentos e conseguir um rateio mais favorável dos nossos custos fixos.

Hoje a Cesbra tem uma usina relativamente modesta, com capacidade de produção de 60 milhões de litros. Vocês têm planos de expansão?
Carlos Omar Polastri
A Cesbra tem um planejamento em três fases. Na primeira, entramos com a disponibilidade de produção de éster metílico que tínhamos já instalada em nossa fábrica, o que dava 21 mil toneladas por ano. Na segunda etapa, construímos uma usina específica para a produção de biodiesel e chegamos a essa capacidade de 60 mil toneladas, que é hoje a nossa autorização. No momento, estamos nos preparando para entrar na terceira fase, em que vamos elevar a nossa capacidade produtiva para 200 mil toneladas/ano. Já temos aprovação do INEA [Instituto Estadual do Ambiente, órgão responsável pelo licenciamento ambiental no Estado do Rio de Janeiro] e já demos entrada na papelada solicitando o aumento de capacidade para a ANP. Estamos só esperando a autorização para começar a construção de nossa expansão.

Falando na ANP, no dia 26 de abril você acompanhou, junto com um grupo de usineiros, uma reunião na sede da agência. Do que vocês trataram?
Carlos Omar Polastri
Essa reunião na ANP foi marcada por um grupo de pequenos e médios produtores de biodiesel para tentar buscar o apoio necessário para solucionar problemas que andam se repetindo e afetando a capacidade dessas empresas de participar dos leilões. A Cesbra, por exemplo, resolveu não participar do 21º leilão, e não foi porque não queríamos vender biodiesel, mas porque os preços estavam tão baixos que achamos melhor ficar de fora. Mas essa é uma vantagem da Cesbra, porque somos uma indústria com outros ramos de atuação, então podemos sobreviver sem o biodiesel. A maioria das pequenas e médias unidades são monoprodutoras, ou seja, dependem completamente do negócio biodiesel.

Que problemas seriam esses e quais são as propostas?
Carlos Omar Polastri
As pequenas e médias usinas não podem disputar os maiores lotes dos leilões porque eles superam o limite de 80% que elas podem vender. Como só as grandes conseguem participar desses lotes, elas disputam numa condição mais vantajosa. Além disso, as grandes verticalizadas têm feito dumping com o objetivo de segregar o mercado. Nossa principal solicitação é a criação um leilão diferenciado para os pequenos e médios. Essa sugestão foi muito bem acolhida pela diretoria da ANP, que ficou de estudar se seria possível fazer isso dentro da lei.