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20º Leilão - Pouca competição


Edição de Dez 2010 - 15 dez 2010 - 14:20 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:09
Rosiane Correia de Freitas, de Curitiba

O pregão realizado no final de novembro derrubou uma teoria básica da economia: a lei de oferta e demanda. Se a oferta sobe e a demanda diminui, o preço cai, certo? Não no mercado de biodiesel. Desde o leilão 19, o Brasil teve um incremento significativo na capacidade das usinas e a demanda caiu 15 milhões de litros. Com esse cenário, e considerando o preço do óleo de soja, os economistas fariam previsões indicando que o valor médio seria equivalente ao do leilão anterior, em que o preço foi bastante competitivo. Os economistas teriam errado.

As usinas atuaram com cautela e praticamente não houve disputa entre elas. O resultado foi um pregão com índices de preço muito próximos aos dos certames presenciais, onde a disputa era minimizada. O deságio ficou em 1% e o preço médio chegou a R$ 2,2967.

A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) inicialmente definiu o preço em R$ 2,12, e algumas usinas, especialmente as que não possuem esmagadoras, chegaram a cogitar não participar do leilão. É que o combustível comprado no certame será entregue em janeiro, fevereiro e março de 2011, um período em que a oferta de óleo é baixa e há bastante pressão sobre o preço. A situação fica mais incerta para as usinas pequenas, uma vez que as chuvas deste ano atrasaram e a atual previsão é que o início da colheita seja adiado. “Em geral, colhe-se soja a partir de 15 de janeiro. No próximo ano a expectativa é que se colha a partir de 15 de fevereiro”, disse João Batista Cardoso, da Binatural, que classificou o preço máximo de R$ 2,12 de “inexequível”.

Diante da reação negativa, a ANP voltou atrás e elevou o preço máximo para R$ 2,32 duas semanas depois. A mudança aconteceu depois que um leilão de estoque de biodiesel da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), subsidiária da Petrobras, foi cancelado por falta de participantes. A negociação pretendia adquirir 2 milhões de litros para os tanques do terminal portuário de Rio Grande, no Rio Grande do Sul, pelo preço máximo de R$ 2,185 o litro, com frete. Cinco usinas foram convidadas a participar, mas, segundo a Refap, nenhuma manifestou interesse.

Mas se alguém pensou que o recuo da ANP poderia garantir uma negociação intensa de itens no leilão, enganou-se. No dia 17 de novembro, a negociação começou morna e não subiu de temperatura em nenhum momento. As usinas deram poucos lances e trabalharam no terceiro e quarto dígitos para fazer novas ofertas. Durante a negociação, vários itens ficaram abertos por mais de 10 minutos sem que qualquer usina se manifestasse, uma situação inédita em leilões online de biodiesel. O resultado de tanta cautela foi um deságio pífio de apenas 0,42%.

A situação mudou na negociação do segundo lote, mas não muito. Houve mais disputa entre as usinas de pequeno porte, mas o deságio ainda foi pequeno: apenas 3,33%.

Como resultado, apesar de ter vendido 15 milhões de litros a menos que no 19º leilão, a ANP movimentou R$ 300 milhões a mais nessa negociação, reflexo dos preços maiores registrados no certame. No total, foram negociados R$ 1,38 bilhão. O 20º leilão também registrou recorde de oferta de biodiesel.


Frases

“Tivemos que reduzir o volume em função dos preços baixos. Os patamares de custos de produção nos próximos meses estarão bem diferentes em relação ao último leilão. As empresas não podem deixar de operar. O que se faz é um ajuste de volume para tentar se manter em operação e garantir sustentabilidade para o negócio.”
Paula Regina Gomes Cadette Ferreira, diretora financeira da Granol

“O preço do biodiesel ficou abaixo do preço de custo. Muitas empresas não quiseram vender. Nós vendemos o mínimo só para continuar tendo contato com a Petrobras e as distribuidoras.”

Carlos Omar Polastri, diretor executivo da Cesbra Biodiesel

“Os preços comercializados foram coerentes com os atuais custos das matérias-primas e insumos.”

João Artur Manjabosco, gerente comercial da Camera

“A grande maioria das usinas agiu com cautela e optou pelo conservadorismo diante do quadro incerto dos próximos meses: alta do óleo de soja em Chicago, ausência de ofertas no mercado interno, risco do La Niña, atraso da colheita no Mato Grosso etc.”
João Batista Cardoso, diretor da Binatural

“O pessoal se preservou mais neste leilão, trabalhou mais na última casa. Tiveram mais noção do preço e isso fez com que ele não baixasse tão rápido, como no 19º leilão. Com isso as usinas vão ter uma margem boa.”
Marcelo Barros da Silva, gerente industrial da Comanche