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Estudo: Os impactos do biodiesel


Edição de Dez 2010 - 15 dez 2010 - 13:06 - Última atualização em: 19 jan 2012 - 11:22
Alice Duarte, de Curitiba

Muito tem se falado sobre os potenciais benefícios do maior uso de biodiesel na matriz energética brasileira. É um combustível renovável que estimula a agricultura, gera emprego e renda no campo, diminui a importação de diesel, além de poluir menos o já tão carregado ar das grandes cidades. Porém, todas essas vantagens eram colocadas em cheque quando a proposta era aumentar o percentual de mistura do biocombustível no óleo diesel. Nessa discussão, o maior preço do biodiesel frente ao seu equivalente fóssil sempre foi apontado como principal obstáculo. Como quase toda logística nacional de bens de consumo utiliza diesel (seja no modal rodoviário, ferroviário ou hidroviário), o temor era de um aumento no preço do combustível, causando inflação generalizada nos preços de produtos e serviços. Os defensores do biodiesel sempre alegaram que essa análise não pode se limitar ao preço final dos dois combustíveis, já que o biodiesel estimula o desenvolvimento da economia, gera emprego e renda em todos os elos da cadeia e incrementa a arrecadação de impostos.

Recentemente, todo esse debate ganhou mais consistência com a publicação de um estudo feito pela Fundação Getulio Vargas, que avaliou o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) e mediu seus impactos na economia brasileira. A pesquisa foi realizada ao longo de seis meses pela FGV Projetos, unidade responsável pela aplicação do conhecimento acadêmico da instituição, com o apoio da União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio). A análise considerou os benefícios que seriam gerados pelo crescimento da produção de biodiesel com um aumento na base de mistura para 10% no diesel nacional (B10) e 20% no diesel usado nas grandes cidades (B20 metropolitano) até 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, e posterior incremento até o B20 no restante do país até 2020.

Para a FGV, um programa de produção de biocombustível é estratégico para qualquer país. “A produção de biodiesel tem grande importância porque estimula o desenvolvimento tecnológico e agrícola, gera riqueza, distribui renda, alavanca o PIB e promove a fixação das pessoas no campo”, diz o coordenador de projetos da FGV Projetos, Cleber Lima Guarany. Para ele, um programa como o PNPB pode ser um vetor estruturante para a economia, principalmente em países que têm uma economia frágil e que importam petróleo e combustíveis.

Graças ao biodiesel, de janeiro de 2005 a julho de 2010 o país evitou um gasto de US$ 2,84 bilhões com importações de óleo diesel. Se o B10 fosse adotado hoje, o Brasil economizaria US$ 1,67 bilhão em um ano, e diminuiria significativamente o combustível importado. Isso reduziria o déficit atual na balança comercial decorrente da importação recorde de diesel no primeiro semestre deste ano.

A atual capacidade instalada de 5,1 bilhões de litros ao ano da indústria brasileira já permite atender quase toda a demanda projetada para um B10 em 2014. Para atingir a meta do B20 daqui a dez anos, seria necessário injetar no setor mais R$ 7,36 bilhões, de forma a alcançar uma capacidade produtiva de 14,3 bilhões de litros/ ano. Considerando esse cenário, o estudo diz que seriam criados 534 mil empregos diretos e 6 milhões indiretos – que se somariam aos 1,3 milhão de postos de trabalho abertos pelo setor entre 2005 e 2010.

Considerando que o biodiesel ainda é mais caro que o diesel, qual seria o real impacto na economia (e na inflação) de um aumento do percentual de mistura de biodiesel? A FGV fez essa medição nos últimos três anos de adição obrigatória e concluiu que não existem sinais óbvios de alta no preço do diesel, mas não descartou essa possibilidade. Verificou-se que o impacto na inflação ao consumidor foi muito pequeno, entre 0,00021 e 0,00034 ponto percentual ao ano. Com base nos valores medidos até agora, a pesquisa concluiu que os aumentos projetados no percentual de mistura de biodiesel não trarão impactos diretos relevantes na inflação.