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Entrevista com Décio Gazzoni: Alimentos x Biocombustíveis


BiodieselBR - 11 nov 2007 - 13:07 - Última atualização em: 20 dez 2011 - 11:19

Revista BiodieselBR A fome vem sendo apresentada como um dos quatro cavaleiros do apocalipse nesse embate entre alimentos e biocombustíveis. Até onde isso é verdade?

Décio Gazzoni Há alguma verdade nisso sim, mas apenas no hemisfério norte e, mesmo assim, a curto prazo. Mas isso não acontece aqui nos trópicos. Nem há previsões de que isso ocorra a longo prazo. Há realmente um conflito de interesses no norte, mas temos a terra e o clima a nosso favor aqui no sul. É o velho embate norte-sul. E, a longo prazo, apostamos na ciência para resolver isso de vez.

Revista BiodieselBR
E quem seriam os outros três cavaleiros do apocalipse? Milho, trigo e canola?

Décio Gazzoni É por aí (risos). O nosso biocombustível não produz a fome. Isso é uma balela sem tamanho! Os institutos mundiais mostram há anos que havia uma demanda crescente por alimentos em todo o mundo, mas a oferta não acompanhou esse ritmo e o resultado aí está.

Revista BiodieselBR
No mês passado, em Campinas (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva engrossou o discurso ao defender a política nacional de biocombustíveis, delineada em boa parte pelas pesquisas da Embrapa. E o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, reforçou essa posição e ainda apontou a culpa para os países ricos.

Décio Gazzoni
A Europa e os EUA usam a tática do diversionismo militar para tirar o foco da mídia, com o lobby petroleiro por trás disso. Por isso, mudaram de posição de uma hora para outra. Há anos que se debate muito esse assunto na Rodada de Doha, junto com os subsídios agrícolas dados por eles. E no meio disso tudo, ainda temos a especulação financeira. Sobrou dinheiro no mundo e emprestaram para quem não podia pagar. Quem percebeu o negócio mudou suas posições para commodities como petróleo, aço, ferro, milho e soja. As cotações explodiram e o mico sobrou para nós. Por aí, podemos ver que essa questão é multifacetada.

Revista BiodieselBR
Até 2010, a meta da União Européia é chegar a 27,2% do terreno fértil cultivado, subindo para 38,4% em 2020. Não é muito para um continente pequeno? Que efeitos colaterais isso pode trazer no futuro?

Décio Gazzoni
Nem é no futuro, é agora. A Europa produzia muitos cereais até oito anos atrás. Agora, vêemse campos amarelos de canola por toda parte. Eles deram uma prioridade muito alta para isso e não abrirão o mercado porque morrem de medo da gente, porque damos de dez a zero neles e sem protecionismo nem subsídios agrícolas. A nossa competitividade é altíssima. Eles vão tentar outras saídas, com subsídios, incentivos, mas a área de cultivo deles é pequena. Daí, para cada solução nossa, criam dez problemas. Embora não nos critiquem diretamente, apontam para a gente como se a nossa cana fosse o problema. Ora, o problema está com eles, não com a gente.

Revista BiodieselBR
Como o Painel Científico Internacional de Energia Renovável vem acompanhando essa discussão entre alimentos e biocombustíveis?

Décio Gazzoni Essas disputas são muito circunstanciais e não paramos para analisá-las em profundidade. Na verdade, estamos mais preocupados com o horizonte daqui a 20, 50 anos. Sabemos que as energias renováveis têm um futuro promissor pela frente e que os biocombustíveis têm uma janela relativamente curta, de 25 anos, até que as energias eólica, fotovoltaica e térmica assumam a posição do petróleo. Durante esse tempo, eles ocuparão esse espaço e farão a ponte até que tenhamos toda a tecnologia necessária para essas outras fontes alternativas.