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Edição de Abr / Mai 2008 - 15 abr 2008 - 16:48 - Última atualização em: 13 dez 2012 - 16:59
O crescimento da produção de biodiesel está puxando a oferta de empregos e os salários em toda a cadeia, mas treinamento e especialização fazem a diferença para empregados e patrões.

Jaqueline B. Ramos, de São José dos Campos

O aumento na produção de biodiesel no Brasil, impulsionado nos últimos três anos pela Lei 11.097, traz uma série de vantagens ambientais, econômicas e sociais para o país. E uma demanda em específico é também muito importante quando se pensa nos benefícios da produção do combustível verde no longo prazo: a mão-deobra qualificada para atuar no setor. Por ser uma área relativamente nova, a oferta de empregos na área de biodiesel – do suporte para produção de matéria-prima até o produto final – caminha em ritmo crescente. O resultado é a criação de um nicho de mercado promissor, que abrirá espaço para profissionais que estiverem dispostos a se especializar.

Em outras palavras, quando se fala em empregos no setor de biodiesel, o maior desafio hoje é adequar a oferta de profissionais à pronta demanda por parte das usinas. “Para trabalhar com biodiesel, o ideal é que o profissional tenha conhecimento da área de extração de óleos vegetais e/ou da área petroquímica. A produção de biodiesel é justamente a junção dessas duas áreas. Até achamos profissionais experientes e com este perfil no mercado, mas mesmo assim ainda é necessário treinamento para adequação às novas tecnologias”, explica Erasmo Carlos Batistella, diretor de operações da BSBios, usina instalada na cidade de Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.

O treinamento específico oferecido pelas próprias empresas é uma realidade comum para qualificação da mão-de-obra no setor. A BSBios, por exemplo, montou um curso em parceria com a escola local do Senai e a Intecnial ( empresa representante da tecnologia norteamericana importada pela usina), dos 70 funcionários que contratou para dar início à operação da usina há cerca de um ano.

Num panorama geral, os empregos se concentram nas áreas de química, biologia, engenharia mecânica e engenharia química, formações de nível superior ligadas às atividades de processo. As usinas também empregam profissionais de formação técnica especializados em mecatrônica, elétrica e química, que geralmente atuam em atividades de laboratório e na área operacional. E pensando na cadeia produtiva como um todo, omercado também gerou um número significativo de empregos para engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, por conta dos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento de novas culturas em pequenas propriedades rurais, incentivados por programas de geração de renda no campo do governo federal.

Formação especializada

A formação de pós-graduação tem uma grade que leva o aluno ao conhecimento técnico de todos os elos da cadeia do biodiesel, da agricultura à certificação, passando pela produção, co-produtos e armazenamento. Mas uma das características mais importantes para a formação de um bom profissional na área é a aplicação de uma visão ambiental, que perpassa todas as etapas da cadeia produtiva.

“Os profissionais da área de biocombustíveis, obrigatoriamente, devem ter uma formação mais ecológica. A cadeia produtiva do biodiesel apresenta tanto entraves tecnológicos como ambientais e de gestão”, afirma Iracema Andrade Nascimento, diretora de Pesquisa e Pós-graduação da Faculdade de Tecnologia e Ciências (FCT), na Bahia, e coordenadora do Mestrado Profissional em Bioenergia oferecido pela instituição.

O mercado formal de biodiesel é novo e exige formação adequada, mas ela deve ser combinada com pioneirismo e inovação. “Os problemas só são vencidos com um planejamento que tenha como uma de suas metas a formação de pessoal qualificado e a atuação de especialistas com uma visão mais eclética”, aponta a diretora da FCT.

O diferencial está na implementação de inovações em termos de melhorias tecnológicas e ajustes gerenciais que venham dar competitividade aos custos de produção. “As usinas sentem falta de gestores. Muitas mudanças vão acontecer no mercado diante da necessidade das empresas honrarem o compromisso de adição de biodiesel ao óleo diesel”, explica Osmar de Carvalho Bueno, coordenador do curso de Gestão da Cadeia Produtiva de Biocombustíveis com ênfase em biodiesel, especialização oferecida pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) de Botucatu.

Salários em alta

Mesmo com o aumento de preço das principais matérias-primas, a tendência para o biodiesel é de forte crescimento, estimulando a oferta de empregos e valorizando as profissões. “É muito provável que a BSBios contrate mais profissionais a cada ano, e isso vai aquecer ainda mais o mercado”, constata Batistella.

“No geral, os salários pagos aos profissionais da área ainda estão dentro da média de mercado, mas, com base no crescimento projetado para a atividade e na escassez de profissionais prontamente capacitados, a tendência atual é de crescimento dos salários no curto prazo”, ressalta Iracema.

A usina gaúcha já sente os reflexos desse crescimento. “Podemos afirmar que os salários de nossos empregados já têm valores um pouco mais altos do que a média da região”, afirma o diretor de operações.

A perspectiva de bons salários aliada à atuação num setor comumente associado a equilíbrio ambiental e desenvolvimento sustentável pode ser a base para uma carreira dos sonhos. E a especialização é um passo importantíssimo para um emprego movido a diesel limpo, mas é a visão ambiental, multidisciplinar e integrada que faz o especialista ser um profissional do futuro na área de biodiesel.

Desenvolvimento local

Não há dúvidas em relação ao potencial da indústria do biodiesel no incremento do desenvolvimento local nos municípios onde as usinas se instalam. E representantes do próprio poder público das cidades beneficiadas fazem questão de exaltar as vantagens que o biodiesel traz para o seu município e região.

“A construção da indústria da Agrenco na nossa cidade só trouxe benefícios. As obras geraram um aumento muito grande na oferta de empregos na área de construção civil, tanto que profissionais da região tiveram que migrar para a cidade para atender os serviços que não demos conta sozinhos”, conta Mateus Palmas de Farias, prefeito da cidade de Caarapó, no sudoeste do Mato Grosso do Sul. Com isso, os profissionais se valorizaram e agora recebem salários melhores. “Um pedreiro que trabalhava por R$ 700 por mês, hoje não faz serviços por menos de R$ 1.200”, confirma o prefeito.

A usina da Agrenco em Caarapó já começa a operar este mês (abril) e as obras duraram cerca de três anos. Neste período foram 15 empreiteiras com canteiros de obras que empregaram aproximadamente 15 mil pessoas (em média mil contratados por empresa). O crescimento significativo da população flutuante no município aqueceu o mercado imobiliário e agora a cidade tem seus imóveis mais valorizados, sem contar o aumento no volume de vendas por parte de fornecedores locais de materiais de construção. Com a expectativa de que muitos trabalhadores permaneçam na cidade para trabalhar na usina, a previsão é que a economia local continue em plena expansão.

Compromisso social

Mas entre tantos benefícios, o prefeito da cidade sul-matogrossense faz questão de ressaltar duas questões que considera vitais para a cidade com a chegada da Agrenco: o incentivo à agricultura familiar e o compromisso social da empresa com o município. “Desde a sua chegada na cidade, a Agrenco vem realizando um trabalho muito importante com os pequenos produtores locais, investindo no desenvolvimento das culturas de mamona, girassol e pinhão-manso. A empresa também patrocinou a reforma e ampliação de uma creche municipal que atende cerca de 200 crianças, o que é extremamente significativo para nós”, conta Farias.

Em relação à arrecadação de impostos, o prefeito de Caarapó explica que o aumento no valor de tributos recolhidos ainda não foi sentido porque o próprio município ofereceu incentivos de isenção para que a usina se instalasse na cidade. Mas, com o iminente início da operação, a previsão é de aumento substancial na arrecadação.