Experiência é a alma do negócio
Com mais de dez anos de pesquisas e estudos sobre biodiesel, a pioneira Oleoplan é uma das líderes do setor no Rio Grande do Sul e agora tenta ficar na frente das multinacionais na corrida dos biocombustíveis.
Daniel Bittencourt, de Passo Fundo
A cidade de Veranópolis, situada na região da Serra Gaúcha, é chamada de Capital Nacional da Longevidade, de Princesa dos Vales e, desde 2007, pode ser considerada um ícone do biodiesel no Rio Grande do Sul e no Brasil. Todas essas classificações são corretas, mas a última se configura como a mais importante porque uma das maiores indústrias de biodiesel do Estado, a Oleoplan S/A – Óleos Vegetais do Planalto, está situada nas terras desta pequena cidade.
Esta classificação ainda não possui registro oficial, mas demonstra a importância que possui uma empresa que desde 1980 vem trabalhando com a extração de óleo de soja e seus derivados. Depois que os primeiros dez anos se passaram, veio a crise na produção de óleo, que na época era considerado um subproduto da soja, e por isso valia muito pouco no mercado dos anos 90.
Toda essa reviravolta mercadológica fez com que o presidente da Oleoplan, o engenheiro mecânico Irineu Boff, previsse com uma folga de dez anos o que viria a ser a menina dos olhos do mercado de combustíveis renováveis. Desde o final da década de 90 a Oleoplan vem estudando e desenvolvendo alternativas de mercado para o óleo de soja. E uma delas foi a de investir na produção de biodiesel em larga escala.
Segundo o diretor da Oleoplan, Marcos Boff, essa iniciativa se concretizou na empresa a partir de 2002. “Três anos antes da criação da lei que regula a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira, a Oleoplan já vinha desenvolvendo tecnologia no setor. E o biodiesel surgiu como mais uma frente de trabalho da empresa, que viu nesse mercado uma alternativa que viesse agregar mais valor no óleo produzido pela Oleoplan.”
Mesmo sendo produtos de diferentes aplicações, toda essa experiência caiu como uma luva para a Oleoplan na hora de resolver investir em biodiesel. O que não significou que ela iniciou uma corrida desenfreada e sem estratégia. A empresa sempre viu esse mercado com bastante cautela. No início do programa todo o óleo de soja estava com um nível de preço que era competitivo com o do diesel convencional. E com isso havia risco de que esse novo produto poderia se tornar mais caro, cena que se configurava em um mercado que deveria ser tratado com todo o cuidado possível.
“Muita gente que acabou entrando nisso pensando em obter lucros extraordinários com o biodiesel acabou perdendo. Talvez eles erraram na estratégia ou não conheciam este mercado”, diz Boff.
E todo o cuidado possível não foi pouco para a Oleoplan. Pensando que o mercado de biocombustíveis acabaria virando um mercado de commodities, a indústria não deu menos atenção para os produtos que ela já produzia, entre os quais a lecitina de soja e a glicerina.
Mesmo sendo um mercado de risco, levando em consideração que é preciso uma grande produção de biodiesel para que o lucro líquido seja considerável, o investimento de R$ 20,5 milhões para a construção de uma unidade com capacidade de 198 milhões de litros por ano valeu a pena para a Oleoplan.
Apesar do boom do mercado de biodiesel no Brasil, a Oleoplan não possui o perfil de uma empresa que arrisca tudo no primeiro lance. Boff diz que desde o início dos movimentos de leilões, a indústria sempre entrou com volumes experimentais, porque havia algum risco de mercado. “Então sempre houve um resguardo para poder assumir um compromisso que a empresa pudesse cumprir.”
No ano passado ocorreram leilões que trabalharam com uma agenda futura. Para o primeiro semestre deste ano vigora a mistura de 2% de biodiesel no diesel convencional. E o governo fez novos leilões para garantir que os 2% de adição obrigatória ocorram ainda no primeiro semestre de 2008. “Nós percebemos que havia um grande excesso de oferta de biodiesel, pois o governo incentivou a produção do combustível e a iniciativa privada respondeu de maneira bastante agressiva, inclusive superando em muito a demanda obrigatória quefoi criada”, comenta Boff.
Demanda e ofertas Atualmente há uma estimativa no país de que para atender a demanda de B3 são necessários mais de 1,2 bilhão de litros de biodiesel. E a oferta, hoje, considerando a capacidade autorizada de produção, ultrapassa os 2,7 bilhões de litros. “De capacidade autorizada, o Brasil teria como produzir B5 já. E uma luta que está sendo promovida é de que seja aumentada essa demanda para que todas as fábricas possam operar. Mas isso é algo que tem que ser ajustado”, avalia Boff.
Hoje a Oleoplan gera mais de 200 empregos diretos espalhados pelo Rio Grande do Sul e é a maior indústria instalada no município de Veranópolis, respondendo por 50% de suas exportações. No Estado ela atinge milhares de produtores rurais, especialmente da agricultura familiar, uma vez que a empresa tem avançados projetos para atender ao Selo Combustível Social – 46% da soja que a Oleoplan utiliza é oriunda da agricultura familiar de pequenos produtores do estado.
A Oleoplan coleta esse óleo em postos de recolhimento do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) de Porto Alegre e na cidade de Veranópolis. Normalmente despejado no esgoto, ele passa por um processo de limpeza, é tratado e então misturado com outros óleos que darão origem ao biodiesel.
Além disso, na questão de esmagamento, a Oleoplan participa de um mercado que é dominado por grandes empresas multinacionais e tem que ir se adequando dentro desta competição.
Mesmo assim, atende alguma demanda de mercado local – algo bem mais regionalizado – e investe pesado em produtos para exportação de óleo de soja.
Irineu já atuava no mercado de soja, e quando comprou o que hoje é a Oleoplan, ela já era uma indústria de esmagamento de grãos, só que com uma capacidade bem menor do que hoje.
Ao longo dos anos a produção foi aumentando e com isso foi sendo implementada uma estrutura de logística que complementou os negócios. Terminais de recebimento de grãos foram montados em cidades do interior, até que a Oleoplan chegou a seu porte atual, figurando entre as dez maiores usinas de biodiesel do Brasil.
Na usina da Oleoplan é feita toda a preparação de esmagamento do grão – processo pelo qual é extraído o óleo. Depois disso, o óleo é preparado para a reação de transesterificação, onde é transformado em biodiesel e repassado às distribuidoras.
Daniel Bittencourt, de Passo Fundo
A cidade de Veranópolis, situada na região da Serra Gaúcha, é chamada de Capital Nacional da Longevidade, de Princesa dos Vales e, desde 2007, pode ser considerada um ícone do biodiesel no Rio Grande do Sul e no Brasil. Todas essas classificações são corretas, mas a última se configura como a mais importante porque uma das maiores indústrias de biodiesel do Estado, a Oleoplan S/A – Óleos Vegetais do Planalto, está situada nas terras desta pequena cidade.
Esta classificação ainda não possui registro oficial, mas demonstra a importância que possui uma empresa que desde 1980 vem trabalhando com a extração de óleo de soja e seus derivados. Depois que os primeiros dez anos se passaram, veio a crise na produção de óleo, que na época era considerado um subproduto da soja, e por isso valia muito pouco no mercado dos anos 90.
Toda essa reviravolta mercadológica fez com que o presidente da Oleoplan, o engenheiro mecânico Irineu Boff, previsse com uma folga de dez anos o que viria a ser a menina dos olhos do mercado de combustíveis renováveis. Desde o final da década de 90 a Oleoplan vem estudando e desenvolvendo alternativas de mercado para o óleo de soja. E uma delas foi a de investir na produção de biodiesel em larga escala.
Segundo o diretor da Oleoplan, Marcos Boff, essa iniciativa se concretizou na empresa a partir de 2002. “Três anos antes da criação da lei que regula a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira, a Oleoplan já vinha desenvolvendo tecnologia no setor. E o biodiesel surgiu como mais uma frente de trabalho da empresa, que viu nesse mercado uma alternativa que viesse agregar mais valor no óleo produzido pela Oleoplan.”
Conhecimento de causa
A Oleoplan sempre trabalhou com o esmagamento da soja para obter o óleo e o farelo do grão – produtos que já garantem a atividade da empresa. O primeiro é trabalhado no mercado de óleo bruto degomado, usado geralmente para o consumo humano. E o farelo sempre foi comercializado para o uso em rações de aves e suínos.Mesmo sendo produtos de diferentes aplicações, toda essa experiência caiu como uma luva para a Oleoplan na hora de resolver investir em biodiesel. O que não significou que ela iniciou uma corrida desenfreada e sem estratégia. A empresa sempre viu esse mercado com bastante cautela. No início do programa todo o óleo de soja estava com um nível de preço que era competitivo com o do diesel convencional. E com isso havia risco de que esse novo produto poderia se tornar mais caro, cena que se configurava em um mercado que deveria ser tratado com todo o cuidado possível.
“Muita gente que acabou entrando nisso pensando em obter lucros extraordinários com o biodiesel acabou perdendo. Talvez eles erraram na estratégia ou não conheciam este mercado”, diz Boff.
E todo o cuidado possível não foi pouco para a Oleoplan. Pensando que o mercado de biocombustíveis acabaria virando um mercado de commodities, a indústria não deu menos atenção para os produtos que ela já produzia, entre os quais a lecitina de soja e a glicerina.
Mesmo sendo um mercado de risco, levando em consideração que é preciso uma grande produção de biodiesel para que o lucro líquido seja considerável, o investimento de R$ 20,5 milhões para a construção de uma unidade com capacidade de 198 milhões de litros por ano valeu a pena para a Oleoplan.
Sucesso nos leilões
Somente neste primeiro ano de atuação a indústria conseguiu destinar sua produção inicial nos leilões de biodiesel. Em 2007 foram vendidos dez milhões de litros através do leilão da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). E nos leilões promovidos pela Petrobras, mais 14,5 milhões de litros foram vendidos para a formação de estoques estratégicos, resultando em um retorno financeiro total de mais de R$ 45 milhões.Apesar do boom do mercado de biodiesel no Brasil, a Oleoplan não possui o perfil de uma empresa que arrisca tudo no primeiro lance. Boff diz que desde o início dos movimentos de leilões, a indústria sempre entrou com volumes experimentais, porque havia algum risco de mercado. “Então sempre houve um resguardo para poder assumir um compromisso que a empresa pudesse cumprir.”
No ano passado ocorreram leilões que trabalharam com uma agenda futura. Para o primeiro semestre deste ano vigora a mistura de 2% de biodiesel no diesel convencional. E o governo fez novos leilões para garantir que os 2% de adição obrigatória ocorram ainda no primeiro semestre de 2008. “Nós percebemos que havia um grande excesso de oferta de biodiesel, pois o governo incentivou a produção do combustível e a iniciativa privada respondeu de maneira bastante agressiva, inclusive superando em muito a demanda obrigatória quefoi criada”, comenta Boff.
Demanda e ofertas Atualmente há uma estimativa no país de que para atender a demanda de B3 são necessários mais de 1,2 bilhão de litros de biodiesel. E a oferta, hoje, considerando a capacidade autorizada de produção, ultrapassa os 2,7 bilhões de litros. “De capacidade autorizada, o Brasil teria como produzir B5 já. E uma luta que está sendo promovida é de que seja aumentada essa demanda para que todas as fábricas possam operar. Mas isso é algo que tem que ser ajustado”, avalia Boff.
Selo social
O processo funcional da Oleoplan não se baseia somente nos produtos da soja e do biodiesel. Tão importante quanto a qualidade daquilo que sai como produto final da usina é o cuidado com a responsabilidade social, ação que ocupa um lugar de destaque na empresa.Hoje a Oleoplan gera mais de 200 empregos diretos espalhados pelo Rio Grande do Sul e é a maior indústria instalada no município de Veranópolis, respondendo por 50% de suas exportações. No Estado ela atinge milhares de produtores rurais, especialmente da agricultura familiar, uma vez que a empresa tem avançados projetos para atender ao Selo Combustível Social – 46% da soja que a Oleoplan utiliza é oriunda da agricultura familiar de pequenos produtores do estado.
Preocupação ambiental
Além disso, a Oleoplan também possui um projeto que contribui para a preservação do meio ambiente. Transcendendo a contribuição para a agricultura familiar, a indústria possui um trabalho de reciclagem de óleo de fritura proveniente de residências, restaurantes e estabelecimentos comerciais para produzir biodiesel. O projeto alcança uma arrecadação espontânea de quatro mil litros por mês.A Oleoplan coleta esse óleo em postos de recolhimento do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) de Porto Alegre e na cidade de Veranópolis. Normalmente despejado no esgoto, ele passa por um processo de limpeza, é tratado e então misturado com outros óleos que darão origem ao biodiesel.
Longevidade
Assim como a cidade em que está localizada, a Oleoplan também mantém um olho no futuro. Hoje ela é a maior indústria da região de Veranópolis e está entre as dez maiores usinas que já produziram biodiesel.Além disso, na questão de esmagamento, a Oleoplan participa de um mercado que é dominado por grandes empresas multinacionais e tem que ir se adequando dentro desta competição.
Mesmo assim, atende alguma demanda de mercado local – algo bem mais regionalizado – e investe pesado em produtos para exportação de óleo de soja.
Como tudo começou
A Oleoplan é uma das indústrias mais antigas a trabalhar com a produção de biodiesel. Ela surgiu a partir de uma empresa que já existente em Veranópolis desde 1976. Em 1980, foi adquirida por Irineu Boff, dando origem à atual Oleoplan.Irineu já atuava no mercado de soja, e quando comprou o que hoje é a Oleoplan, ela já era uma indústria de esmagamento de grãos, só que com uma capacidade bem menor do que hoje.
Ao longo dos anos a produção foi aumentando e com isso foi sendo implementada uma estrutura de logística que complementou os negócios. Terminais de recebimento de grãos foram montados em cidades do interior, até que a Oleoplan chegou a seu porte atual, figurando entre as dez maiores usinas de biodiesel do Brasil.
Processos de preparo
A Oleoplan possui três pontos de recebimento de grãos espalhados pelo interior do Estado (Passo Fundo, Muitos Capões e Ronda Alta). Esses grãos são adquiridos diretamente de cooperativas ou de produtores rurais e são levados para os pontos de recebimento, onde são encaminhados para a Oleoplan conforme a necessidade da fábrica.Na usina da Oleoplan é feita toda a preparação de esmagamento do grão – processo pelo qual é extraído o óleo. Depois disso, o óleo é preparado para a reação de transesterificação, onde é transformado em biodiesel e repassado às distribuidoras.