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Sustentabilidade nos negócios


Edição de Fev / Mar 2008 - 15 fev 2008 - 14:52 - Última atualização em: 17 dez 2012 - 09:17
A usina de biodiesel da Granol, em Anápolis (GO), mostra que rentabilidade e respeito pelo meio ambiente podem andar juntos e gerar bons resultados.

Fernanda Guirra, de Goiânia

A criação do Protocolo de Kyoto, estabelecido em 1997 no Japão, foi o pontapé inicial de uma série de estudos mundiais sobre modelos de desenvolvimento limpo. O acordo internacional, que procura pressionar os países industrializados para que se comprometam em reduzir as emissões de gases-estufa na atmosfera, prevê que, entre 2008 e 2012, as nações desenvolvidas diminuam seus índices de emissão de gases em 5,2% em relação aos níveis medidos em 1990.

Foi nesse contexto que o Grupo Granol, um respeitado complexo de agronegócios brasileiro, desenvolveu um interesse particular e definitivo pelo biodiesel – combustível renovável que abriu perspectivas para um desenvolvimento energético menos agressivo ao meio ambiente.

“É claro que o biodiesel, enquanto óleo vegetal transesterificado, ainda que sem este título, antecede muito a data em que foi criado o protocolo. No entanto, seja pela preocupação ecológica, seja pela mudança das relações de oferta e preço das commodities, este combustível veio tornando-se mais politicamente interessante e economicamente viável, a partir de sua fantástica contribuição ao meio ambiente”, afirma a diretora financeira do grupo, Paula Ferreira.

Os estudos mais aprofundados da Granol em relação ao biodiesel começaram justamente e partir de 1997. Nesse período, a empresa iniciou conversações com o governo sobre a consolidação de investimentos na área. “Após a concretização da venda de biodiesel à Petrobras, em 23 de novembro de 2005, iniciamos a produção”, comenta Paula Ferreira. A primeira entrega feita pela fábrica instalada no município de Anápolis, em Goiás, ocorreu em julho de 2006. “Apenas por meio dos leilões se tornou possível produzir esse combustível, que é superior, porém, ainda mais caro do que o diesel mineral”, completa.

Atualmente, o Grupo Granol possui três unidades que produzem biodiesel no país. Além do complexo em Anápolis, existe outra planta em Cachoeira do Sul (RS) e uma fábrica em Campinhas (SP) – que no momento está desativada, passando por um estudo que prevê a ampliação.

Matéria-prima

Para uma companhia com quase 40 anos de tradição no ramo de compra, armazenagem e esmagamento de grãos, com destaque para a soja, o caminho mais natural foi aproveitar a familiaridade com essa oleaginosa e utilizá-la como a principal matéria-prima para a obtenção de biodiesel. “Nosso combustível é fabricado basicamente a partir do óleo de soja produzido por nossas próprias fábricas de esmagamento e refino”, ressalta Paula Ferreira. “Além de ser um produto já fabricado pela empresa, é o único óleo vegetal com escala para atender às necessidades da produção industrial do biodiesel”, ressalta Paula Ferreira.

A fábrica de Anápolis, com produção verticalizada e que consumiu aproximadamente R$ 50 milhões em investimentos, está instalada dentro do complexo industrial da Granol, anexa à esmagadora, integrando as operações de originação de matéria-prima e produção de biodiesel. A esmagadora tem capacidade para processar 2.750 toneladas de soja por dia. A direção do grupo lembra que a unidade trabalha com tecnologia da empresa Dedini e que a rota utilizada atualmente para a fabricação de biodiesel é a metílica (apesar de a usina possuir estrutura para usar também a rota etílica no futuro). A capacidade de produção autorizada pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é de 122,1 milhões de litros por ano.

Mercado do B2

De acordo com a diretoria da Granol, apesar da adição da mistura de 2% de biodiesel ao diesel mineral ter começado em janeiro deste ano – como determina a lei – ainda não há ‘mercado livre’ no Brasil. “A mistura é obrigatória e está sendo suprida pelos leilões”, explica Paula Ferreira. “Com as vendas que fizemos nos últimos leilões, por exemplo, nossa capacidade produtiva está totalmente comprometida até junho”, arremata (veja quadro).

Os pontos fortes da Granol de Anápolis são: a localização competitiva para a compra da matéria- -prima (soja) e o fato de não estar distante do Sudeste do país, principal região consumidora de biodiesel. Em 2008, segundo a diretora, o grupo não deve abrir novas operações. A prioridade é consolidarseus atuais investimentos, ou seja, as plantas de Anápolis, Cachoeira do Sul e Campinas, antes de iniciar novos projetos.

A unidade do grupo em Goiás já possui o Selo Combustível Social, componente de identificação concedido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) aos produtores de biodiesel que promovam inclusão social e o desenvolvimento regional, por meio de geração de emprego e renda, para os agricultores familiares enquadrados nos critérios do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Com isso, para que a empresa pudesse incentivar os produtores a fornecerem matéria-prima para a produção de biodiesel, foi criada, dentro da diretoria comercial agrícola da empresa, uma equipe voltada a essa atividade de prospecção e assistência ao agricultor familiar.

O trabalho desenvolvido em cada núcleo de agricultores familiares, assim como as condições comerciais garantidas aos produtores, depende das necessidades específicas da comunidade envolvida e da oleaginosa plantada. “Temos vários núcleos e assentamentos de agricultores familiares em atividade no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e em Goiás”, garante Paula Ferreira. “Além disso, contratamos alguns parceiros para o fornecimento da assistência técnica necessária e contamos com sindicatos rurais para a mediação e a validação dos contratos”.

Projeto sócio-ambiental Além da soja, outras matérias-primas, em escala muito reduzida, também são utilizadas na produção da fábrica de Anápolis. Entre elas, o nabo forrageiro (em volume muito reduzido), mamona ou girassol (produtos considerados caros) e sebo animal (visto ainda com restrições de ordem técnica pela empresa). No entanto, uma matéria-prima alternativa é considerada a “menina dos olhos” da Granol: o óleo de fritura usado (UFO). A atenção dada ao produto não está ligada a fatores econômicos, mas sim ao caráter sócio-ambiental incluído no reprocessamento.

A empresa desenvolve há quase quatro anos ações de coleta do produto na comunidade. Existem postos de troca por óleo novo instalados em supermercados. Além disso, a empresa promove um trabalho educativo em algumas escolas públicas da região. “Em Anápolis, fechamos uma parceria com a Secretaria de Educação, com o objetivo de visitar 57 escolas. Queremos fazer um trabalho de divulgação sobre as conseqüências que o óleo de fritura usado pode causar na natureza e acreditamos que os estudantes possam ser os multiplicadores de uma consciência ecologicamente correta”, conta Paula Ferreira.

Para tornar o tema mais interessante para as crianças, a empresa confeccionou dez mil exemplares de um gibi que conta a história de um super-herói (batizado de Supergranolzinho), que incentiva os estudantes a recolherem de suas casas o óleo de fritura usado e não jogá-lo na natureza. O volume recolhido é destinado para a fabricação do biodiesel da Granol, chamado Grandiesel.

“Essas crianças e adolescentes, em muitos casos, se deparam pela primeira vez com a responsabilidade ambiental, por meio das palestras da Granol, o que é muito gratificante”, declara a diretora. A quantidade de UFO recolhido, de acordo com a empresa, ainda é pequena (por vezes, não chega a mil litros por mês) em relação à necessidade da fábrica. Mas o trabalho de educação ambiental nas escolas tem alcançado resultados animadores – o que torna o projeto de recolhimento de óleo usado um dos mais importantes da empresa.

Perfil da unidade

Localização: Anápolis, Goiás
Investimento na fábrica de biodiesel: R$ 50 milhões
Área construída: 64.196 metros quadrados
Tecnologia utilizada: É fornecida pela empresa Dedini e a rota usada para a obtenção de biodiesel atualmente é a metílica
Capacidade total de produção da usina: 122 milhões de litros de biodiesel por ano
Matéria-prima utilizada: O óleo de soja é a matéria-prima predominante. Outros produtos, como nabo forrageiro ou óleo de fritura usado, aparecem em quantidades insignificantes