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Da lavoura ao motor


Edição de Out / Nov 2007 - 09 out 2007 - 11:06 - Última atualização em: 18 dez 2012 - 15:26
Alguns dos maiores especialistas do Brasil estiveram em Curitiba para uma conferência sobre a cadeia de produção do biodiesel. As palestras abordaram desde a escolha da matéria-prima até o desempenho do combustível nos carros em teste

Da Redação

Ampliação de benefícios fiscais concedidos pelo governo federal, impacto ambiental, destinação de subprodutos como a glicerina e escolha de tecnologias para o processamento do biodiesel. Esses foram alguns dos temas discutidos durante a Conferência Biodieselbr, que reuniu 150 pessoas em Curitiba (PR) no dia 24 de agosto de 2007.

O encontro incluiu uma visita técnica à usina do Tecpar, Instituto de Tecnologia do Paraná. A explicação sobre a planta do local foi feita pelo coordenador do Centro Brasileiro de Referências em Biocombustíveis (Cerbio) Bill Jorge Costa, que mostrou aos participantes da conferência as etapas de produção do biodiesel.

A unidade, recém-inaugurada, tem capacidade para produzir 100 mil litros do combustível e será destinada a pesquisas sobre diversas matérias-primas e apoio à agricultura familiar do estado.

De acordo com o presidente do Tecpar, Mariano Macedo, a usina está preparada para testar óleos feitos a partir de diferentes tipos de grãos. A primeira matéria-prima escolhida para pesquisas é o girassol, por ser uma planta que se desenvolve em regiões frias, como o Paraná. Depois disso, estão na fila de estudos do Tecpar culturas variadas como a soja, o nabo forrageiro e a gordura animal.

Luiz Pereira Ramos

“O mundo atualmente consome 336 milhões de litros de petróleo por dia, sendo que para cada dois litros consumidos, apenas um litro é descoberto em algum ponto do planeta. Atualmente estamos queimando 20 milhões de anos em reservas fósseis a cada ano. Diante desse cenário, o biodiesel pode representar uma saída importante. No entanto, é essencial lembrar que a sustentabilidade econômica e sócio-ambiental da cadeia produtiva do biodiesel está diretamente ligada ao uso da glicerina, já que o produto é altamente poluente quando lançado ao meio-ambiente. Toda a matéria-prima processada em uma planta deve deixála na forma de produto, e não de efluente ou material de descarte, já que isso gera custos adicionais que podem comprometer a viabilidade do processo. Atualmente, há um excesso de glicerina no mercado mundial. A introdução do B2 oferecerá ao mercado brasileiro duas vezes mais glicerina do que é processada hoje em dia. Por isso, é fundamental estudar novos usos e meios de aplicação dela.

Univaldo Vedana

“As usinas estão trabalhando com 15% da capacidade instalada. Entre os principais problemas está o alto preço da matéria-prima. Hoje o biodiesel é mais caro do que o diesel comum. O Brasil cometeu um erro ao achar que teria óleo à vontade para o biodiesel. As usinas construídas no país foram pensadas para trabalhar exclusivamente com a soja, que é usada em 90% da produção. No ano passado, o consumo de óleo aumentou e, com isso, os preços também tiveram alta. O mesmo está acontecendo com a indústria de sebo. Hoje são produzidas cerca de 700 mil toneladas de sebo. A usina inaugurada em Lins pelo Grupo Bertin deve consumir pelo menos 15% desse total. Ou seja, 110 mil toneladas por ano. Com certeza, isso terá um impacto no mercado de sebo no Brasil. A questão é complexa.

Donato Gomes Aranda

“Podemos aumentar em pelo menos mais 5% a participação de energia renovável na energia primária total do Brasil. E a contribuição do biodiesel deve ser decisiva. Há cerca de 33 mil postos de combustível no Brasil e pelo menos 5 mil deles já utilizam o B2. Desde 2004, o aumento dos postos que vendem o biodiesel cresceu 25%. As perspectivas para o setor são boas, já que a expansão foi rápida. Mesmo a Associação Nacional do Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), já declarou que os carros produzidos no Brasil estão aptos a usar o biodiesel. Desde a invenção do álcool combustível, foram necessários quase 30 anos para inventar o motor flex. Mas, no caso do biodiesel, essa conversão é feita de forma natural, já que o motor que recebe diesel pode ser abastecido também com o biodiesel. Há ainda a questão de produção de matérias-primas. Acredito que não haverá competição com os alimentos, já que há muita terra disponível no país para a agricultura. Se forem usados apenas 10% de biodiesel, já se produzirá muito combustível.”